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sábado, junho 30

Sótãos e porões

A exposição da Liliane Giordano chega a Porto Alegre. A partir de segunda, 2 de julho, na Câmara.

sexta-feira, junho 29

Os verdes campos de aviação

O frei Remígio, em plena Guerra Fria, na luta espacial entre EUA e Rússia (aliás, completa agora 50 anos que os russos lançaram o primeiro artefato), ensinava em Bom Jesus a se fazer foguete. Consistia numa lata acionada por uma fórmula dele, que levava dentro do “foguete” um rato. Eram as aulas de Ciências e eles lançavam os foguetes logo pra cima da represa do Ginásio.
E, de fato, o Bonja tem uma certa “tradição” no ar. Pode-se não acreditar, mas há um aeroporto em Bom Jesus, pros lados da Casa Branca. Dizem que é estratégia militar, o topo dos Aparados e tal.
E também o Aeroclube não é lenda!!! Sim, tenho até os detalhes, em 12 de julho de 1947, três aviões da FAB pousaram lá.
E já tivemos o nosso acidente. Um avião que caiu na lavoura do Nenzinho, e depois velaram o piloto no Santa Cruz, na praça, e é verdade, porque há gente que lembra até do caixão... Salvou-se o acompanhante do vôo, o seu Casemiro Pinotti.
E outra. Muito antes do Zelão sair com asas sobre Sucupira, em O Bem Amado, em Bom Jesus também se tentou. (Parênteses: alguém ainda lembra do Milton Gonçalves, no final da novela, “prafrentemente” voando, como diria o Odorico Paraguaçu?! Eu fui rever isso e nos créditos de O Bem Amado, surpresa, aparece um sonoplasta... Paulo Ribeiro!!)
Bem, mas antes do Zelão, o Seu Laurindo de Bom Jesus já tinha tentado voar. O Seu Laurindo era meio mecânico e inventivo (ele construiu a sua casa na praça, sozinho, trabalhando muitas vezes á noite) fez lá um aviãozinho e botou no aviãozinho um motor de Aero Wyllis. Caiu no decolar!
Parece que a experiência do Seu Laurindo foi exatamente no Campo de Aviação. Sim, antes do aeroporto havia em Bom Jesus este “campo”, que ficava próximo ao antigo estádio do Santa Cruz, na altura de uma lagoa — onde aconteceu aquela tragédia do tufão, recente, vocês devem lembrar...
Hoje, na presidência da Anac, a Agência Nacional de Aviação Civil, está o Milton Zuanazzi. Que é filho do Bonja e deve ter muitas outras histórias mais sérias pra depois nos contar!
pr

quinta-feira, junho 28

Jesus Cristo era reserva

Em Bom Jesus tinha o Deuso e o Jesus Cristo. E tinha o Bom Jesus mesmo, batizado, o Bom Jesus era policial. O Jesus Cristo tinha um programa na rádio, o chamado Rio Grande Nativo, com uma trilha de assobiar. O Jesus Cristo dizia no rádio, se Deus quiser, e Ele quer. Concorria com o Lagoa, o Lagoa da Vacaria, o Lagoa das Tradições.
Pescoço, passe aqui pra pegar o troco!
O Lagoa tinha uma revenda de carros e não esquecia o mau freguês. Buscasse o troco, tomasse um mate, eu ouvia no Seu Acélio Alfaiate estes lances de tradição.
Que o José Mendes era novo, isso e aquilo, que Os Cobras do Teclado voltaram a gravar. Era bom disco novo, porque os conjuntos que nunca gravavam dependiam dos lançamentos pra se modernizar. Senão, era sempre a Doralícia, aquela batida bem fácil que o Honeyde Bertussi deixou.
No Seu Doca eram os bailes. E o Seu Doca era rigoroso, dependia pra abrir o portão. Se muito bebido, não entrava! Se o sujeito já chegava pronto, como é que ele ia gastar?
Fazia sentido. O Seu Doca examinava da janelinha e já sabia do álcool o teor, um por um.
Era lá que o Seu Acélio tocava. Ele e o Seu Ernani Dutra, que levantou o CTG. Quer dizer, foi o Titão quem fez, mas como patrão eleito o Ernani organizou. Fez rifa, pediu madeira emprestada e trouxe a madeira aplainada lá do Guerino Dal Bó.
Presilha do Rio Grande! O galpão tem uns 40 anos e foi lá que começaram Os Serranos, com Ah!á!, meu Bom Jesus!
Os Tropeiritos vieram depois. O Sady, o Volmar, o Jocelito e o Quinho, contrabaixo era o Torres, inspetor. Colega do Acobar.
Acobar, Mauro e Jorge Ivan. Até parecia ataque de time a Civil de Bom Jesus.
O Seu Ararê Delegado. Foi quando o Jesus Cristo voltou. Chegou o Anísio num jipe, o cabelo caindo nas costas e foi jogar no Santa Cruz.
Jogava de centroavante ou goleiro e era reserva. O Jesus Cristo plantava alface e tapava com uns plásticos pra geada não matar.
pr

quarta-feira, junho 27

Agenda das Monografias

As bancas de monografias do Jornalismo da UCS começam na próxima semana, quando os alunos terão a oportunidade de apresentar suas pesquisas realizadas para a conclusão do curso.
Fica aqui o convite para os interessados nos assuntos desenvolvidos pelos alunos que orientei neste semestre.
Dia 3 de julho – Terça-feira
9h – A contundência no jornalismo político de Luís Carlos Corrêa. Aluno: Marcel Bocchese
10h – Quando o jornalista é torcedor. Aluno: Douglas Tessaro
Dia 4 de julho – Quarta-feira
9h – Carmen Tomasi – Quando a crítica é exclusão. Aluna: Vanessa Botoli
10h – O fim do gaúcho – O olhar da revista Realidade para o Rio Grande do Sul. Aluna: Kelly Pelisser
11h – Fabrício Carpinejar: o poeta como crítico. Aluna: Aline Valim
Dia 9 de julho – Segunda
10h – Dentro das 4 linhas – A crônica esportiva caxiense. Aluno: Osny Freitas de Oliveira
As bancas são públicas e considero este momento um dos mais bacanas do curso.
Local: Bloco M, sala 303.

terça-feira, junho 26

Romanção

Uma vez, sacanagem, uma vez me disseram, toma, toma um banco, vai pra vida ser feliz.
Fui ser Office boy, mas erraram, num banco não dava pra ser. Não nasci pra contar carneirinho, e eu sempre aproveitei as insônias pra tomar decisões.
Fui parar em Lisboa, na baixa, e por falta de um monte de escudos, dei meia volta, volver! Voltei, fui bater em Toulouse, com escala no Brasil.
Teimosia, a idade, a idade!, vamos ao princípio então.
Amor, mais do que tive, acho que um casal na janela em frente anda a tentar. Parece legal. Mas, o que sei? Deles e da solidão. O que sei?
É a maior EME, você sabe o que é solidão. No frio, quando cedo escurece, se você se livrou da internet, fica razoável criar.
Talvez um livreto, um poema sem assunto, um estilo pra lá de careta se me pedem romanção.
Ah, dá um tempo! A nuvem é um jardim suspenso, eu teria até já um título, mas ele soa esquisito, por que há gente que come com as mãos?!
Não é redundância. Apanhador chamam ao novo presídio, cada um diz de si na expressão.
Eu, por exemplo, trabalhei com paralelepípedos. Quando calçaram nas freiras, espalhei areia, batia com força um marrão. Escrevo assim ainda hoje, não me queixo, sobraram as rimas depois dos calos e quando os tambores rufaram toquei caixa na lateral.
Parararatátá!
Desta forma vai dar romance?
Nerusca. Isso aqui é prosa rápida, espaço curto, balãozinho na área, é tudo proposital: hip-hop, como Oswald, telegráfico, não é como me pedem, seja o Milton Hatoum.
Eu não!

domingo, junho 24

O primeiro ano atrasado

No meio de um rio tinha uma pedra. Era a minha terceira margem e uma pedra existia no rio que corria nos fundos da minha avó. Minha avó tinha pernas garrinchas e Glória a Deus!
Minha avó era evangélica e gente fina, lia um antigo testamento e voltei de Lisboa na semana dela morrer. Havia esperado.
A morte. Conheci com 5, antes da escola, a mãe preta se ia embora e mandou então me chamar. Era a sua despedida, a minha mãe de criação.
Na Cartilha do Pato aprendi moleque. Na minha primeira aula, foi fato, careca me apresentei. Por quê? Por que chamavam a nossa turma o Primeiro Atrasado?
Por que atrasado se era o primeiro?
Havia negros na sala. O Pelé sentava ao meu lado e o Pelé era de uma evangélica que acompanhava a minha avó.
Atrasados!
Havia uma clandestina na sala. Uma loirinha sem ter idade, e vejam, solidariedade, quando a inspetora bateu. E que atitude bacana, a garota pulou a janela, ninguém revelou um suspiro, que prova a vida nos deu!
Atrasados. Nós?
pr

sexta-feira, junho 22

O passo do socorro

Nos cultos do pastor pra fora, o ônibus sempre ficava depois da camioneta em fileira. Depois que conferiam as crianças, o pastor e as duas filhas dele desciam do outro carro.
As mulheres vinham bem na frente do ônibus e algum deficiente.
Quem tinha mais carro, bicicleta e gente, ganhava da outra igreja de vilinha ou serraria, onde eram muito evangélicos.
Daquela vez, na excursão até o Passo do Socorro (se dizia assim por causa da pontezinha no rio), nem deu pra organizar direito. Caso não chegassem em tempo, por volta das 15h, iam ter de pedir, no outro domingo, uma nova licença pro Promotor. Pra saírem de ônibus levando criança e mais aquela porção de crente, entre eles o Pauzinho.
O Pauzinho tinha perdido as pernas no corte das toras e tinha só um retrato que fizeram dele no começo de uma outra primavera; bem mais novo. Daquele jeitão de corpo inteiro dele nas fotos e a roupa transpirada. Apenas o sorriso antigo ele ainda tinha.
Como é que ele não bebia depois que ficou sem a perna?
Sangrando as mãos, uma vez, ele insistia em dançar com a música do toca-disco da Lucília, que tinha trazido uma amigas em casa. Ninguém sabe, agora, depois que nunca mais se viu o Pauzinho, como é que ficou a perna dele. Ele foi convidado pro aniversário da Lucília e foi o que mais dançou.
Mas o Pauzinho que ficou sem as pernas nunca se queixava. Só um dia o Pauzinho protestou: foi porque tava muito escuro pra ele descer a escadinha do corredor das prateleiras de sabão.
De-bundinha daquele jeito, no corredor com a luz queimada, ele ia caminhar com as mãos olhando pra trás, porque vinha a luz pra ele lá de cima com todo mundo olhando.
Todo mundo da casa da Irmã Amância que ficava olhando pro Pauzinho, bem pequeno, ainda mais no escuro.
Sempre lavando o rosto com bastante espuma o Pauzinho criou dois caroções no corpo de uma ponta à outra.
Quando ele andava bem de saúde ele voltava pro porãozinho onde morava só de noite. E ele tinha sono e não dormia. Garrafinha de mentruz pra dor nos ombros, ele gostava de uva e tinha uma gavetinha cheia de sutiãs. Um guarda-chuva. Mas era preciso chover muito pra ele sair de guarda-chuva.
Não tinha um que não gostasse do Pauzinho na serraria porque ele não se desesperava.
A Irmã Amância dizia que era obra de Deus! E que ele orasse e quando pudesse acompanhasse os cultos.
Por isso, o Pauzinho tava junto no Culto do Passo. Foi pra engrossar a caravana e também por pedido da Amância, que lhe amava igualmente bem como a criança dela.
E iam já voltando do culto quando começou a chuva forte. Desabou um temporal e o Passo já foi enchendo e já se viu das cabeceiras o que tava por ali juntado: passava o que fosse de plástico e pedaços de cerca, repolho, flor, até um balde.
Passou emborcado e o balde como um barco fazendo as marolas.
Cá e lá, a preocupação com as crianças.
Nisso!, num pau, arrastado por ele, viram a guria.
Jesus, Jesus!, era a guria de onde o Pauzinho morava.
Ia levada nas águas, ela, as raízes, a podridão das beiradas.
O rio como um louco e foi quando o Pauzinho se jogou no Passo. Daquele jeito mesmo nadava de costas e barriga, parecia até, na água, a um homem semelhante.
O sem-perna e a crentinha só foram vistos depois com as lanternas.
E numas duas noites seguidas, o Pauzinho dormiu como um trapo.
pr

quinta-feira, junho 21

Estudo para uma paisagem no primeiro dia de inverno

O Zecateca era um cara do caramba, porque ele andou de bicicleta uns dois dias sem parar, noite e dia, sem comer, em frente à Farmácia Grazziotin. Não era de circo e ele aceitou sorvete pedalando e conquistou uma dez garotas lá em Bom Jesus.
Lembro, eu era ainda um pirralho, e aquele cara, malabarista, ciclista de fôlego passou por lá com um povo aglomerado e era do caralho, porque de fundo tocava Rolling Stones em pleno verão.
Entrei no Google e não tem nem sinal. Nem do Zeca e nem da Sebastiana. Podem digitar.
A Sebastiana era outra peça, louca do tempo do “à beca”, namorava o Altino Bonito, que era o Guaiquica também. Pode?, o sujeito ter dois apelidos? Em Bom Jesus conheci sujeito que suportava mais de três! Conheci um que era o Cigarro de Pau. E Tinha o Morcilha, o Torresmo, o Marmelada, o Tabuada dos Nove e o seu Tremedal!
O negócio é que Altino andava de ombro erguido, feito um lorde, um machado no ombro, todo de pose, vivia de rachar lenha quando falavam em nevar.
Sebastiana era crespa. De um crespinho, miudinho como os cabelos de minha mãe ficaram antes de morrer.
Gritavam, olha a Loca! Olha a Bastiana Loca!
Mas no fundo, bem lá no fundão da Bastiana, ela tinha era só carinho. Balbuciava uma língua só dela, que a gente entendia que era carinho e querer.
Tímida, humilde, de vestido, fosse verão, fosse neve, a Sebastiana amava o Bom Jesus inteiro.
Bom Jesus, as crianças, as comadres, amava o Altino Bonito, que até caolho era, eu esqueci de dizer.
pr

As sobras do jejum II

A Cúria mandou licença pra comprar uma máquina de fazer pãozinho, pra benzer umas imagens e adquirir carrilhão. No badalar de uns 3 sinos, mandou abençoar o divino, mandou licença pra rezar. Rezar depois da morte, em trigésimo ou sétimo dia, com missa no entardecer.
Era a Missa aos Defuntos e já na falta da luz. É que na igreja dava choque, e o bispo mandou a licença expressa pra fazer a revisão. Em toda a sua a parte elétrica e nos fios gastos das almas no mesmo envelope sagrado por jipe ele mandou.
Observou sobre um sino no Perpétuo Socorro, mandou licença pra distribuição de uns gorros e os mesmos pães estes de trigo de combate ao carnaval. Umas medalinhas de combate à carne, sua contrariedade às verdades eternas que ocorrem entre homem e mulher.
pr

quarta-feira, junho 20

As sobras do jejum

Parecia um lençol de neve. A neve tão rápida e tão densa como nunca se visto.
A queda era grande e tão forte que causou prejuízos e a morte de reses.
Durou por isso uns 6 dias.
E o gado não pastava no gelo e vaca em jejum pelos campos se via.
O jejum matou reses. Era bem o fim do mundo!
Era neve e mais neve no Bonja e mais terremoto em Acapulco no México.
Foi saudado e aplaudido o Agosto. Destaparam a pintura da igreja. Foram tirados os andaimes e apareceu por inteiro a igreja por tudo.
No teto era um Cristo apontando e a pombinha com os olhos de gente.
Obra de custo!, como a gripe e a febre. Não é que andava um surto de asiática!
E sem sino, sem banda, sem marcha, restou ao prefeito um discurso alusivo:
para que se ficasse em casa, só saíssem pra ir lá na escola.
E no dia que inauguram falou na ocasião uma linda menina. E falou deputado e falou frei Florêncio.
Frei Florêncio lançou muitas bênçãos. E deixou escorrendo as paredes, aspergiu feio assim o edifício.
Que por ele serviram um almoço.
Teve leilão e quermesse e de resultado as crianças vestidas. Em uniformes ad hoc... Como se fossem à primeira missa.
E a missa facilitava, era missa pros parentes e idosos das mesmas.
Rezaram a Imperata. Pater Ave, daí-nos Glória!
Em jejum. Igualmente.
pr

terça-feira, junho 19

Biscateiro das almas

Eis-me aqui no país que vive o seu “melhor momento” desde a República, naquele embalo de sempre, seguindo, fazendo calo por conta do que o lápis disser. Apontamentos, com Villa-Lobos de fundo, se o Glauber ganhou o mundo, foi um mala na tevê. Falava de mais, pirava também, imaginem de seu convidado o Antônio Carlos Magalhães!!!
Disseram “cinema velho”, era o Glauber em seu fim. Morreu de Brasil, ao contrário de Iberê. O beijo da luz numa tela, quando viveu a tragédia, Iberê refloresceu. Reinventou a bicicleta, a roda com tinta pastosa, fez de modelo a doméstica, pintou Helena e mais umas seis.
Fez bem, porque se há coisa que mulher não suporta é homem triste e poema ruim. E a internet anda cheia disso, o sub do sub no verso, a chamada produção. É arte???
Não. É impossível acreditar no que aconteceu. É um sonho meu. Um gremista diz. Um pesadelo imortal.Torcer o nariz, torcer a roupa, nossa na era da máquina a matar a expressão.
Lavar o tanque. A figura era do Nelson. O Nelson Rodrigues reaça, mas se reaça é quem reage, revolucionou bem legal.
E que saúde! Saúde de vaca premiada, vocês nunca viram o que é uma geada na Fazenda Santa Cruz. Fica perto do Hortêncio, uma casa de pedra talhada que parece uma mansão.
Hum-hum, dizem que até o Mick Jagger já pernoitou por lá. Histórias do Bonja, história pra mais de metro, é melhor ir mudando de assunto que eu já começo aumentar.
Com prova, há sentença! No meu batuque, saravá! Prosa torta, humor dobrado, Patativa do Assaré! Um poeta da moléstia, sem escola, sem livro, como um pássaro perdido, não é que o cabra baixou aqui!!
Ali, na UCS, Patativa e uns outros tantos. Quem foi, quem anda lembrado, dá até pra enumerar: a Carmen Tomasi, o Luís Carlos de Lucena, o Comendador Nestor José Gollo e as 4 Linhas do Osny. Dante, o L. C. Corrêa, o João Cláudio Garavaglia, o Paulo Cancian e o Suzin.
Tenho tudo na ponta do lápis e, se eu seguir com este biscate, semana que vem trago mais: fatos, gente, amores e mágoas, como anda Caxias do Sul.

Crônica de amanhã no Pioneiro.

segunda-feira, junho 18

Pra começar bem a semana

Saiu a lista dos aprovados para o Mestrado em Letras e Cultura Regional da UCS. Entre eles, meus amigos Ira, Adri Antunes e a Raquel Weber. A Raquel apresentou um projeto de pesquisa sobre Glaucha envolvendo questões da Pós-Modernidade. Um bom curso, Ira, Adri e Raquel!

Caxias do Sul apresentou sua candidatura à Capital Brasileira da Cultura 2008. O resultado sai em 30 de junho. Para saber mais clique aqui http://www.capitalbrasileiradacultura.org/cbc/?Url=Noticia2007_06_12

A exposição fotográfica da Liliane Giordano, Sótãos e porões (participo com alguns textos) está no Campus B da UCS, Cidade das Artes. No dia 2 de julho vem para a Câmara de Vereadores.

E esta é a semana “finaleira” das monografias no Jornalismo. Está rendendo muito. Entre os trabalhos que oriento, vem aí Carmen Tomasi, Carpinejar, crítico literário, e a revista Realidade. E mais Luís Carlos Corrêa e a crônica esportiva de Caxias do Sul.
A ilustração acima é a Gígia do Bruno Segalla, na Praça Dante, na semana de aniversário desta cidade onde vivo.

sexta-feira, junho 15

Circula o dinheiro emprestado

Bateram com um pau na cabeça do Zoinho e ele ouviu que era velhaco e as suas vistas enfraqueceram e ele viu o Canteiro pegando o dinheiro das mãos do escrivão Abdon Bulahud. O escrivão Bulahud pede dinheiro emprestado à D. Selma do Barroso – filha do Gago – que desenhava as roupas do Papai Noel. A D. Selma do Barroso – filha do Gago – que desenhava as roupas do Papai Noel pede dinheiro emprestado ao Seu Antoninho Lima da Camponesa. O Seu Antoninho Lima da Camponesa pede dinheiro emprestado ao Cartola do Bazar Periquito. O Cartola do Bazar Periquito pede dinheiro emprestado ao Trabuco. O Trabuco pede dinheiro emprestado à D. Ziduca Fonseca. A D. Ziduca Fonseca pede dinheiro emprestado ao João Marreco. O João Marreco pede dinheiro emprestado ao Seu Gildo Manco. O Seu Gildo Manco pede dinheiro emprestado ao Cabelo Loiro. O Cabelo Loiro pede dinheiro emprestado à viúva Antonieta do Eliziário, filha do falecido Diamantino. A viúva Antonieta do Eliziário, filha do falecido Diamantino pede dinheiro emprestado ao Tabuada-dos-Nove. O Tabuada dos Nove pede dinheiro emprestado à Isabel Leontina. A Isabel Leontina pede dinheiro emprestado ao jogador de bilhar e turfista Jasmim. O jogador de bilhar e turfista Jasmim pede dinheiro emprestado à Ezaltina do Valo dos Adaime. A Ezaltina do Valo dos Adaime pede dinheiro emprestado ao enfermeiro Ercelino Macalão. O enfermeiro Ercelino Macalão pede dinheiro emprestado ao Cilício. O Cilício pede dinheiro emprestado ao Tio Rubi. O Tio Rubi pede dinheiro emprestado aos soldados Saú e Miche. Os soldados Saú e Miche pedem dinheiro emprestado ao cozinheiro de tropeadas Milito. O cozinheiro de tropeadas Milito pede dinheiro emprestado ao médico clínico Dr. Denan Boamar. O médico clínico Dr. Denan Boamar ao paralítico Abgelo. O paralítico Abgelo pede dinheiro emprestado à Dedete. A Dedete (não havia ainda constatado o envelhecimento de suas coxas) pede dinheiro emprestado ao Juca Ambrósio. O Juca Ambrósio veste-se casual e discreto. Olha para a Dedete Batininha. A Dedete Batininha pede dinheiro emprestado ao gerente do Circo Peruquinha. O gerente do Circo Peruquinha pede dinheiro emprestado ao Tanan. O Tanan pede dinheiro emprestado ao Nézio. O Nézio pede dinheiro emprestado à D. Ema. A D. Ema pede dinheiro emprestado ao Nerinho dos Galos. O Nerinho dos Galos pede dinheiro emprestado à Sofia do Cartório. A Sofia do Cartório pede dinheiro emprestado ao Morcilha. A mão do Morcilha escreve no cheque. O Morcilha depois socorre-se com o ferralheiro Benhur. O ferralheiro Benhur, por sua vez, pede dinheiro ao Seu Bonatto. O Seu Bonatto ao candidato a prefeito e Delegado Gentil Machado de Godoy. O candidato a prefeito e Delegado Gentil Machado de Godoy (vaidoso; preferia passar fome) acaba emprestando do bizarro bacharel Dr. Epaminondas. O bizarro bacharel Dr. Epaminondas pede ao Juraci. É a vez do Ataliba ser debitado em favor do Juraci. O Ataliba socorre-se, todavia, com a herdeira e costureira Glasfira Camargo. A herdeira e costureira Glasfira Camargo (que não passa de uma unha-de-fome) tem seu empréstimo junto ao plantador de batatinhas João da Costa. O plantador de batatinhas João da Costa ao Rui dos Potreiros. O Rui dos Potreiros ao Cidóca e este ao velho Sebastião Krammer do Amaral. Tio Basta subtrai sua quantia ao jogador de futebol camisa sete, Rução, que pede sua parcela ao seu compadre, o popular Urutu. Urutu pede dinheiro emprestado à professora Glorinha. A professora Glorinha ao Nego da Zulmira, que deve pro Pecurra. O Nego da Zulmira (desesperado) pede dinheiro emprestado à estátua de cera do Seu Gladistão Biazolli. A estatua de cera do Seu Gladistão Biazolli pede dinheiro emprestado à estátua de cera de Manuel Silveira de Azevedo. A estátua de cera de Manuel Silveira de Azevedo pede dinheiro emprestado à estátua de cera do Diamantino Moreira. A estátua de cera do Diamantino Moreira pede dinheiro emprestado a estátua de cera de Laurindo Paim. A estátua de cera de Laurindo Paim pede dinheiro emprestado à estátua de cera do Dr. Bejo. A estátua de cera do Dr. Bejo pede dinheiro emprestado à estátua de cera da Marisa Rola. A estátua de cera da Marisa Rola pede dinheiro emprestado à Saletinha da Hidráulica. A Saletinha da Hidráulica pede dinheiro emprestado ao Vazulmiro Gago. O Vazulmiro Gago olha para a Saletinha da Hidráulica. A Saletinha da Hidráulica pede dinheiro emprestado ao irmão Florizeu. O irmão Florizeu olha para a Saletinha da Hidráulica. A Saletinha da Hidráulica pede dinheiro emprestado à Lucília Bonatto. A Lucília Bonatto olha para a Saletinha da Hidráulica. A Saletinha da Hidráulica pede dinheiro emprestado à Isolda Lange, mais conhecida como Isoldinha. A Isoldinha olha para a Saletinha da Hidráulica. A Saletinha da Hidráulica pede dinheiro emprestado à Marlene da Tia Bê. A Marlene da Tia Bê olha para a Saletinha da Hidráulica.
Trecho final de Vitrola dos Ausentes.

terça-feira, junho 12

Arte longa, sala vazia

A sala vazia, a arte longa. A culpa agora é do outono em Caxias do Sul. Mas tem gente que persiste, faz livros, encena, reclama, mas continua por aí. No Teatro de Bonecos, no amor que anda um treco desde abril. Sem sentimentos, um poema-concreto, eu acho que a crônica de hoje não sai mais.
Carro é arte? Jantar é dançante? Eu ando assim indeciso e tenho uma semana pra pensar. E não sai nem biscoito d’água. Vocês não queiram saber o parto que é. Ando a pé pelo meu bairro, eu descarto cada idéia pensando um tema legal. Como o Simon e o Garfunkel, o Drummond, o Pastelão consultado, já descartei até o jeans.
Não vingou. Chega de Bonja! Vou reler o Fitzgerald e de novo desenhar. Eu já fui em Flores da Cunha. Eu já ouvi Bertussi tocado, uma coisa meio cubana que o Adelar uma vez gravou.
Vou rever um baita projeto, o destino de um certo Diomedes. Quero ver uns álbuns antigos, ando atrás da minha mãe. Cuba Libre, de vestido, salto-alto, é um certo aniversário que ela fez lá no Seu João. Lenda? Pode ser. Como a história de um boneco, e por ser um boneco molengo, num incêndio se ferrou.
Um conto curto, na duração de uma chama, mas era um boneco-de-mola que só em cinzas ficou. Infância. Tinha um Pedro Malazarte e chapéu no cocô. Vou caminhar por aí cuidando. Ando em busca de assuntos bons.
Crônica aqui, crônica pra colar, eu vou botar Jaquirana na internet, o Rio das Antas e São José. Os ausentes on line — e mais umas velhinhas queridas que eu preciso ir lá filmar.
Quero verba pro verbo. Libertá por diversão. Eu quero depois de uma semana aprender japonês. Refazer uns bons contatos. Eu quero fazer um trato de voltar a escrever. Prosa longa, num estilo bem simples, eu queria contar a história do inventor de urinóis. Do inventor do sutiã, do inventor da cachaça e não sei mais quantos malucos aí.
Pelo meu coração, eu tenho 200 assuntos. Mas não vale sentimento. Eu vou trazer os fundamentos da praga do urubu. É um tema urbano, bem prontinho, pra sucesso, vai vender uns 14 ingressos, se der...
... vira a crônica que vem.
Crônica de amanhã no Pioneiro

domingo, junho 10

Mundão pequeno e cabaré

O Ataliba, com sua esponja branca, divertia-se com o rincho das éguas no tempo da lavagem dos ventres. As persianas duplas dos janelões eram fechadas para uma grávida prima do Belpino não ver nada. O Zoinho, quando tinha tempo, era o ajudante do Ataliba. Os meninos pelados relinchavam com a boca, amontados num cavalinho de pau-de-vassoura. A rua tinha fileira de ciprestes dos dois lados, até lá no fim onde ficava o velho carvalho ao lado da igrejinha. O Belé Fonseca — de pés inchados — bebe cachaça. Um dia o Belé Fonseca estava cercado de gente e o Belé Fonseca deitado no chão. Cercado duns cara e dumas mulher que também tinham bebido muito. Gritava que tinham lhe roubado umas tal madeira e que ele tinha testemunhas. O Abgelo das verduras não podia testemunhar porque estava envolvido num crime. Tinha matado a Pretensiosa por causa dumas alfaces. Em vários trechos da Vila dos Ausentes — para a arrebentação dos rochedos — vem sendo empregada dinamite. O Zoinho parou de fazer as dobras de um chapeuzinho de papel. Nas vitrines da Loja Camponesa tinha uns manequins de cabeça pelada, que o Zoinho gostava de parar só pra olhar. Uma vez o Zoinho cortou um dedo e passou o sangue no vidro da vitrine da Camponesa. Esperou o sangue secar e começou a fazer bafo com a boca em cima do sangue. Ficava uns desenhos parecidos com nuvem. O braço da Sargenta está dormindo fora das cobertas. As meias e a camiseta da Dedete. Um tigrão de logotipo nas meias. A gaitinha de boca acompanhando errado a música da vitrola. O Seu Cilício era o que era o dono da vitrola antes e quem ensinava a fazer bolhinhas de sabão. As bolhinhas iam tudo voando. Voavam, voavam, voavam pela rua com fileira de ciprestes e os meninos pelados correndo atrás.
Trecho de abertura de Vitrola dos Ausentes

sábado, junho 9

A Praça Cantinho do Céu

— Não me beija na boca, ela dizia.
Era no domingo, três surdos, um bumbo e uma tarola tocavam na praça.
— Não me beija na boca, ela dizia.
Ela dizia “boca” forçando os seus próprios dentes.
O beijo era então só um beijo por se dizer com as mãos a pentear.
Um beijo com a boca na outra boca, não.
Os pratos estridentes faziam eco no aquário da praça. Havia crianças no festejar.
Viva o amor! (estava escrito num cartaz), Viva o amor!
Uns 12 instrumentos tocavam, mas sem o beijo, tocassem em latim ou grego, num sei lá por quê... nunca me beije na boca!
E a sua boca bonita e alegre entristecia.
— Não me beije na boca.
pr

sexta-feira, junho 8

Sobre o óbvio bonito

O amor aumenta de amor
na gravidez combinada

pr

Dos amores

Ah, os amores...
cada coração com a sua história quebrada
cada coração com seus intervalos para a urina
pr

O desenho do seio


quinta-feira, junho 7

A saudade

O amor que acaba é como um rio
e a saudade, então,
o oceano incompleto

pr

No repouso do telhado

No repouso do telhado, sem dizer palavra, uma mulher de pedra
No repouso do telhado vem fazer surpresa um trovão de vidro

Moral da história: a indiferença quebra até o trovão

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quarta-feira, junho 6

Um ventilador no rosto a Oº





terça-feira, junho 5

Metáfora

Um crime, se diz, confessa
Bem certo se diz, a hora

A raiva, se diz, sai pronto
Não há que dizer, escombros!

Se corre, se diz, assalto!
Mostrando se diz: vitrine

Da nuvem se diz: é chuva
Da cor só se diz, combina

Com choro dizer, lastima
Se tudo se diz, dá briga

Dizer pra dormir, Boa noite!
O que nunca se diz, que forca!

Promessa é o dizer... de ontem
O mal do dizer, desprezo

Se vem redizer, gagueja
E o hífen o que diz? Emenda
De um riso se diz, tem graça
A sorte é o que diz o dado

O bom, por dizer, conforto
Em dois se dizer, um trato

Se o traço é quem diz, figura
Morreu, já se diz, coitado!

Será, se se diz, é dúvida
Se o olho te diz, é mira

Do vento se diz, tem rastro
Se no olfato há dizer, tempera!

Se diz que te diz, sugere
Se diz que é assim: ensina

E o diz que não diz, metáfora!

domingo, junho 3

Sobre o amor

O meu amor hoje é espreita. É uma forma de amor recente, não amor diferente, é amor que fica à escuta, não mais só coração.
Não é amor que seja sábio, quaquaquá, do amor nunca se sabe, mas é como o amor sem queixas, um amor que anda de folga, prevenido mesmo de mim.
Estou mais sereno, demorado, não é que tome cuidado, mas é como amor protegido, mais atento à confusão.
O meu amor, hoje, não estipula ou estripa, estima. Antes, era amor que vinha pronto, e o meu agia tonto, era amor confete e cerveja, hoje Bogart no balcão.
Decorado de outros, agora começa aos poucos, o meu amor é só decorrência do que pode acontecer. Atende, acata, observa, ex-amor que era festa, refrega, hoje amor que mais enxerga, cresce mais por discrição.
Meu amor debaixo de chuva, nem um pouco obsessivo, não amor muito explosivo, tem aspecto caseirão.
É amor combinado, é amor sem saldo e custo, meu amor em estado bruto leva pra isso um tempão.
Não é amor de primeira, nem amor que faça rolo, em oferta, é mais chance que razão.
É maduro, amor adjetivado, é amor que sugere, estimula e acalma, leva com jeito o tesão.
É sim amor pra qualquer período, já não foge do recreio, é amor humilde, tranqüilo, é amor!
É amor igualzinho aos outros, amor, quem se atreve, amor de esguelha, surpresa, meu amor devagarinho, que protege, alisa, até cede, é amor que capricha, arrebata, sereno, por fim.
Amor. Amores de ontem. Amor com a cor do desprezo, amores por crueldade, estes amores das boas lições.
Amor, hoje, ainda amor com graça. Que pressente, intui, sugere, não castiga, utiliza ou põe cláusula, é defesa legitimada que um plano traçou.
Amor pensado. Amor pleno, sujeito, declínio, mas amor sem papelada, mais mão, presente, contato, bem mais quietude na forma que traz.
Como amor sem dizer palavra — há amor que emagrece, desfalca, carece — o amor, hoje, com mais tolerância, menos ciúme, um amor que preserve, é zelo, cuidado, o que há de vaidade, um amor ainda melhor.
Como um trato de amor bondoso. Como amor, e a persistência que exige.
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sábado, junho 2

O frio ficou lá fora

Fabrício e Ana. Também para as gurias da Itapema FM e todos que foram na Do Arco da Velha e aquele encontro. Valeu mesmo!

Estudo para uma jarra grávida

o manto na mesa
uma jarra grávida

Solidão

solidão é quando se apressa o encanto
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