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terça-feira, junho 24

A música das freiras

Eu não sei o que as freiras de Bom Jesus tinham na cabeça ao botar o Era Uma Vez no Oeste, do Ennio Morricone, enquanto a gente esperava as missas. Esta música é o tema de um dos mais famosos filmes do Sérgio Leone, do chamado spaghetti, o faroeste italiano.
E as freiras, para indicar que estava acabando o recreio na Escola Nossa Senhora de Fátima, também colocavam a rodar uma outra clássica, meio aligeirada, um pararapampam que nunca mais ouvi e queria descobrir o nome.
A discoteca da escola, que teve até uma escola de música no seu térreo (o Conservatório Carlos Gomes, que teria dado origem ao grupo Os Serranos), no mínimo, era curiosa à época da Irmã Inocência. Em uma gincana de aniversário da Rádio Fátima de Vacaria pediram um disco do Roberto Carlos com a trilha de um dos seus filmes. Não deu outra. As irmãs tinham o LP Roberto Carlos em Ritmo de Aventuras, aquele filme que traz as melhores imagens de um Rio de Janeiro que já não existe.
Mas, desse tempo, ficou mesmo gravada uma estrofe de uma daquelas músicas ufanistas que aprendíamos no tempo da ditadura. “Marco extraordinário/ Sesquicentenário da Independência/ Potência de amor e paz/ Esse Brasil faz coisas/ Que ninguém imagina que faz...”
De fato, estavam torturando e colocando nos porões aqueles que ousavam ir contra o regime. O nosso Sesquicentenário da Independência foi, claro, em 1972, e eu estava na Terceira-Série. Desfilamos com bandeirinhas e tal, e as irmãs (coitadas!) nada podiam com isso, já que o país inteiro marchava na linha reta do Emílio Médici.
Outro dia, fui ver se sobraram resquícios daquela comemoração. E não achei no Youtube o “hino” do Sesquicentenário. E em toda a internet só tem um cara que menciona isso, na trajetória do São Paulo, o clube. E eu queria ver isso postado. Afinal, não podemos apagar marcas e vestígios de nossa história, mesmo que eles venham na voz de um Dom e Ravel...
E daí que é preferível o Creu esse de agora, quando temos a opção de desligar ou mudar de canal. Quando nem as irmãs estão obrigadas a isso!!
***
Democracia é discutir, é poder falar, é pedir equilíbrio e razão enquanto a sociedade se ajusta. Estamos no segundo estágio da nossa democracia. Na política, no trânsito, música, e por aí vai...

quinta-feira, junho 19

Notícias da vida

A última aparição do pintor Salvador Dali é impressionante. (http://www.youtube.com/watch?v=1gUFhqXPIto&feature=relatedyoutube.) Ela poderia ser evitada caso não estivesse morrendo “isolado” em Cadaques. Sem Gala ao seu lado, o grande amor de sua vida, Dali apareceria para uma entrevista coletiva pouco antes de sua morte.
O isolado é em termos, porque lembro (eu morava não muito longe dele, em Toulouse, e as notícias sempre chegavam), os paparazzi fazendo plantão na casa, correndo atrás das ambulâncias que buscavam Dali em cada recaída.
Seria uma cena patética não fosse a coragem de se expor na plena decadência, nosso incontornável destino. Trazia um fio no nariz da alimentação por sonda, estava ligado a aparelhos que denunciavam o aumento de sua agitação com bips contínuos nas breves palavras.
E Dali pronunciou:
“Os gênios não têm direito à morte em nome do progresso da humanidade”.
Jamais se apaga o nascimento de um filho de nossa memória “doméstica”. Da mesma forma, costumamos guardar estas “última aparições” de figuras públicas mesmo que por versões comentadas. Frei Getúlio, por exemplo, foi visto por último num domingo na Churrascaria Alvorada. Morreria minutos depois num acidente que completa 40 anos.
Tancredo Neves (lembram aquela foto para mostrar que estava “bem”?) veio a público com fios e aparelhos, “fotochopados” depois na publicação da imagem, tomado que estava por uma infecção antes de assumir a Nova República.
Anos depois (e lembrei disso agora na inauguração do seu museu em Porto Alegre) Iberê Camargo convocaria também a imprensa ao Moinhos de Vento onde era vencido pelo câncer. Disse também ali:
“Tudo o que eu fiz na vida eu fiz com paixão. Não sou homem de tocar as coisas com a ponta dos dedos”.
É tão importante o que disse, que a frase foi escolhida como abertura do seu site na internet.
Mas, o que queria destacar nestes homens é a coragem da última aparição. Quando a robustez física já se foi. Esta última aparição é uma mensagem muito direta: valeu, sim, tudo! Os olhos de Dali, por exemplo, estão alertas, muito vivos, desesperadamente clamando permanecer em vida. Querem mais tempo. Negam-se a ir.


sábado, junho 14

A carta de Alice

Há poucos relatos da contribuição dos alemães na Serra Gaúcha. Por isso, quando sabemos de bons trabalhos, e que ainda permanecem inéditos, queremos saber “notícias”. O que houve? Por que não publicou?
Estou lembrando de um livro que refaz a trajetória dos Tietböhl, Jacoby, Hoffmann, entre outros, e a sua condição também de imigrantes. À certa altura, a narradora nos fala das portas abertas da casa da sua Tia Lúcia, sempre pronta a ajudar ao próximo.
De fato, é muito comentada em Bom Jesus a história do Poço de D. Matilde, a matriarca dos Tietböhl, mãe de Lúcia e avó desta Alice autora do livro.
D. Matilde cedia a sua fonte, que ficava pegada à casa, para servir toda a cidade de água pura e saudável, quando Bom Jesus ainda não tinha água tratada.
Para entender essa índole dos Tietböhl e outros alemães que lá chegaram é preciso reconstituir o seu caminho, explicar esse caráter próprio talvez ao pomeranu — o homem que vive próximo ao mar, no caso o Báltico, de onde exatamente migraram. A bucólica Pomerânia encravada entre lagos e rios no nordeste da Alemanha.
Em 1824, para povoar as regiões de fronteira, conflagradas, o Império incentiva a imigração. Em 1827, se instalam no Vale do Rio Três Forquilhas — região de Torres — os colonos alemães protestantes. Vão trabalhar a terra e produtos agrícolas nas escarpas da Serra Geral. Em Três Forquilhas se destaca a liderança do Pastor Voges, que vem a ser tio da jovem Matilde.
Anos depois, com a morte de Voges, o pastor substituto começa a criar caso com os alemães de Três Forquilhas, achando que estivessem “abrasileirados”. Inconformados com a nova liderança (entre eles Pedro Tietböhl que casara com Mathilde), decidem subir a serra em direção ao 3º Distrito de Vacaria, Bom Jesus.
Lá, junto com a família de João Carlos Jacoby, tio de Mathilde que mudara junto, se dedicarão ao cultivo da terra e à agropecuária. Participarão, portanto, de toda a evolução de Bom Jesus (capela criada em 1879 e somente emancipado em 1913).
É esta contribuição dos alemães que está no livro Cartas da Pomerânia de Alice Tietböhl Toigo. Vamos publicar, Alice!

domingo, junho 8

Romanção e documentários

A literatura brasileira tem uma qualidade que é a sua transparência. Ela se apresenta de forma muito clara, porque não vai além de quatro ou cinco os autores que dão mesmo o recado. Nesta ordem:
1- Nosso maior escritor é um contista, Machado de Assis.
2- O melhor romancista é o mesmo Machado.
3- Guimarães Rosa, pela portentosa inventividade do romance Grande sertão: veredas.
4- É o mesmo Guimarães Rosa pelos contos, sobretudo de Sagarana.
5- É o Drummond e a sua poesia.
6- O documentarista Graciliano Ramos (Vidas Secas é um documentário e os relatórios que fazia como prefeito de Palmeira dos Índios)
7- De novo Graciliano, por nos inserir nos meandros da personalidade de Paulo Honório (e só o drama deste personagem vale toda a Clarice Lispector).
8- O cronista é Nelson Rodrigues.
9- O Brasil que nos coube viver está em dois Rubem Fonseca (O Cobrador e Feliz Ano Novo).
10- Pegue-se, em crítica, um livro chamado De Anchieta a Euclides, de José Guilherme Merchior, e estamos feitos.
É isso aí a literatura brasileira e nem se preocupe, é tudo. Passe a ler outras coisas de outros lados.
***
Falei aí em cima de documentarista e relatório de Graciliano prefeito. Pois o César Busatto, que gosta de escrever, poderia começar o seu próximo livro, um romanção sobre o Rio Grande contemporâneo, com a seguinte parte do diálogo com o Feijó degravado:
Busatto — (inaudível) Não tem nada concreto. (inaudível). Agora, talvez, nós pudéssemos encontrar um modus vivendi que permitisse tu não romper com as tuas convicções (inaudível). Para tu estar dizendo para ti mesmo, para a tua consciência. Qual é o preço disso? Eu não sei. De repente, o Fernando (Fernando Lemos, presidente do Banrisul) faz um gesto concreto para ti, não quero pensar alto porque isso não tá no horizonte, né? Mas eu acho que tem que haver alguma coisa concreta que pudesse permitir que... ou outra coisa, quem sabe? (inaudível) Acho que eu estaria disposto a tentar, sei que a governadora é muito complicada, mas, se não for assim, não agüenta esse sofrimento.

quinta-feira, junho 5

Não peça dinheiro

Não peça dinheiro por piedade. Que a piedade sem o dinheiro é pior.

segunda-feira, junho 2

Do Tobatta ao prédio do Siza

O Tio Purça dizia lá em Bom Jesus que lia o The New York Times. Alguém, longe do Purça, dizia: duvido que leia. Nem chega este jornal aqui!
Não havia internet nesse tempo e acho que era a revista Time que ele recebia. Enfim, era um deboche que o Tio Purça fazia, uma crítica à nossa terra, segundo ele, “Teixeirinha” e boi no pasto.
Era um pouco injusto porque já havia por lá horizontes. Eu trabalhava em uma granja de maçãs e o meio de transporte era um Tobatta. Com carretãozinho, improvisado, de iniciar motor no muque.
Fiquei uns 15 anos fora e voltei pra Bom Jesus. Já amigo do Diogo Mainardi e ainda no tempo do fax.
O Diogo, este mesmo da revista Veja, morava em Veneza, e houve até uma época em que raspou a cabeça e passava no sofá meditando sobre o seu próximo livro, porque ele ainda se iludia com literatura brasileira.
Voltei e fui pra rádio Aparados. Eu pensava em implantar coisas novas e pedia a opinião do Diogo (eu estudara seu Malthus lá na UFRGS com a falecida Tânia Carvalhal). Diogo deu lá alguns toques, por fax, e Bom Jesus nem sonhava com isso.
E eu também não contava. Fosse contar que o Seu Rubem Fonseca ligou uma tarde lá para a rádio Aparados, iam dizer que eu estava igual ao Tio Purça.
Então eu ficava na minha e a rádio, acho, viveu um dos seus melhores períodos. Como estatalzinha, ligada à prefeitura.
Mas o problema nem era este. O problema era ficar em Bom Jesus com pessoas que me davam notícia do Rio, de Veneza, Porto Alegre. Nem faz tanto, mas não havia a internet. E a impressão que eu sentia é que “estava por fora” de tudo.
Agora, na inauguração do Museu Iberê Camargo, já não senti esta falta. O prédio é bacana, pós-moderno, talvez ajude a popularizar Iberê, como dizem, o que acho ingenuidade.
Mas, pelo que colocaram na rede, parece que conheço o museu há tempo. Cheio de rampas, com sala disso e daquilo, luz entrando por todos os lados, eu revi alguns quadros, me senti no ateliê de novo.
Da manivela ao fax, ao tour pelo prédio do Siza. Não ficar só no “Teixerinha”, como diria o grande Purça.

(A foto é de Ronaldo Bernardi)