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quarta-feira, julho 28

Os ciclistas de Iberê e o cavalo do frei Geraldo

O forro, muito alto, de fora a fora tem uma ou outra folha desajustada. O assoalho está marcado pelo desgaste, mas ainda firme, firme como uma “tábua de gelo”, e era bem o caso. Foi a noite mais fria do ano em Bom Jesus. Chuva e vento, e lá nos encontramos na “casa” de François Kibler, justo agora que ela completa 50 anos.
François Kibler veio para a Missão Capuchinha no Rio Grande do Sul em 1902. Já então como frei Geraldo de Gruffy (sua cidade na França), esteve em Bom Jesus de 1933 a 1946 numa verdadeira ação catequizadora. Além de liderar a construção da matriz, ele se notabilizou por andar com seu cavalo baio (que atendia à fala do frei e mesmo obedecia à ordem de cumprimento a quem encontrasse), visitando capelas, os enfermos, dando a extrema unção aos mais distantes (e a paróquia se estendia ao Faxinal, aos Aparados), fizesse geada ou a neve mais forte.
Com o fechamento da Escola Espírita, em 1956, criou-se um novo local que atenderia aos alunos pobres de Bom Jesus. Deram o nome de Escola Frei Geraldo e funcionaria no velho salão de madeira situado atrás da igreja.
Logo, surgiu a necessidade de aumentar o salão. Em 1960, foi projetado então o prédio de três andares. No porão, funcionaria a escola. No segundo andar, seria o Salão prolongado, onde se instalaria o Cine Realengo. No andar superior, sala de reuniões, que depois seriam ocupadas pelo fórum por anos e anos.
A Escola Frei Geraldo atenderia por um bom tempo principalmente aos alunos do Bairro Nossa Senhora de Fátima, a Vila Pinto como chamavam, espontânea homenagem a Porcínio Borges Pinto, o prefeito que distribuíra os lotes do local. No ano seguinte à construção do prédio, mais de 300 alunos foram matriculados.
Foi, portanto, na noite mais fria do ano (o que era aquele frio perto das cavalgadas de frei Geraldo a campo aberto?) que me dei conta daquele encontro: eu estava ali, na casa do frei Geraldo, trazendo os ciclistas de Iberê Camargo para os meus conterrâneos. Pela trajetória do capuchinho, pelo sacrifício do seu trabalho, estar justamente naquele local era uma honra.
Acostumado a dar tiros no próprio pé, arriscar experimentações com o texto, desta vez fui lá deixar o Tríptico para Iberê, o novo livro. Foi o cumprimento da promessa de fazer finalmente um texto acessível. Um texto claro e limpo, espero, como o Salão de Frei Geraldo no seu cinquentenário.
Crônica no Pioneiro de hoje.

quarta-feira, julho 21

O Sul em Caxias

O fenômeno dos CTGs em Caxias do Sul talvez possa ser atribuído a dois fatores. O primeiro, fundamental, a migração das pessoas de municípios com economias ligadas à produção agropecuária e que, em Caxias, sentiam a falta daquele ambiente de origem. Sentiam a necessidade de manter aqui as tradições.
O segundo aspecto, a forte influência do trabalho dos Irmãos Bertussi, a primeira dupla regionalista e que representava autenticamente o gaúcho serrano, emplacando ao longo da trajetória cerca de 20 clássicos da música gaúcha. Os bailes de galpão e o repertório dos Bertussi despertavam ainda mais a saudade dos desterrados em Caxias. Daí, o primeiro dedo de prosa era a fundação de um CTG, local onde poderiam simbolicamente reviver o torrão deixado.
Hoje, Caxias do Sul é a cidade que tem o maior número de CTGs. São precisamente 81 entidades. Se levarmos em conta a zona de abrangência da 25ª Região Tradicionalista (que inclui São Marcos, Flores da Cunha, Farroupilha, Nova Pádua e Nova Roma do Sul), são 101 entidades (e se considerar que há Invernadas Artísticas e Departamentos Campeiros dos CTGs que atuam independentemente, além de piquetes de laçadores, o número cresce ainda mais).
A abrangência impressiona. Há uma verdadeira “população” de simpatizantes em torno dessas entidades. A partir daí, quatro alunas da Universidade de Caxias do Sul, do Curso de Jornalismo (com um Projeto Comunitário na área de impresso), passaram o último semestre a pesquisar os CTGs e o alcance do movimento.
Em parceria com a 25ª RT, as alunas Ana Demoliner, Bárbara Lipp, Flávia Noal e Gabriela Alcantara, contataram patrões e responsáveis pela área de cultura para registrar a primeira pesquisa nessa área de tanto destaque. Foi elaborada uma pequena biografia de cada entidade, departamentos campeiros e piquetes, que traz dados como fundadores, fatos marcantes e principais conquistas, as patronagens atuais. É uma espécie de primeira radiografia do movimento em nosso meio e que ainda não estava organizada.
Assim, a partir de material cedido pela 25ª RT, a primeira parte da pesquisa conta a história e as realizações da própria entidade que coordena os CTGs desde 1978 (e que acabou reforçando sobremaneira aqueles dois primeiros fatores que falei no início). A segunda parte do estudo, a pesquisa das alunas, traz o histórico de cada CTG.
O material, entregue ontem ao presidente da 25ª, Jó Arse, está à disposição para consulta. Mas, o fundamental, é que seja agora publicado.

Crônica no Pioneiro de hoje.

quarta-feira, julho 14

O bairro e a estrela distante

Saramago, em entrevista, deixou indicado o nome: Gonçalo M. Tavares. Em 30 anos, arriscou Saramago, Gonçalo será o novo Nobel de Literatura em Língua Portuguesa.
Gonçalo tem 40 anos, nasceu em Angola, mas vive em Lisboa, onde dá aulas de literatura. Começou a publicar já perto dos 30, mas depois que saiu o primeiro livro se soube que teria outros 10 prontos. E mais: tinha um projeto. Uma série de novelas reunidas sob o selo “O Bairro”, que traz títulos como O Sr. Valéry, O Sr. Calvino e O Sr. Breton.
Para esse inusitado bairro se mudarão grandes autores, que passarão a conviver. Ele quer escrever uma espécie de história da literatura e da filosofia de forma ficcional.
Gonçalo trabalha com alegorias, principalmente constrói inusitadas situações acerca da opressão, do poder, do egoísmo, das relações humanas. Em O Sr. Brecht, o único da série que li, há sempre uma reflexão crítica que se estende aos países e reinos que inventa.
A outra obra de Gonçalo que li é Um homem: Klaus Klump. É uma novela sobre a guerra, a violência, a nervosa trajetória de um editor em meio a turbulências que mudam o seu caráter e seu procedimento. De novo, uma alegoria, uma reflexão sobre o mal.
Semanalmente, Gonçalo publica fragmentos que “pensam” sobre a arte em geral.
E isto (fazer da própria escrita agente da ficção) o liga a outro nome da literatura de nossos dias, Roberto Bolaño (em maior evidência agora por conta do seu romance, 2666, lançado no Brasil).
Bolaño foi um poeta chileno que se exilou depois do golpe que derrubou Allende em 1973. Foi apontado como um grande autor antes mesmo de sair 2666 (o livro foi publicado um ano após a sua prematura morte, em 2003, com 50 anos).
Espero ler seu romance. O que li até agora de Bolaño é a novela Estrela Distante. Nela está, em súmula, o que distingue a sua produção: o pano de fundo histórico, a narração ousada com a alternância de vozes e, sobretudo, a criação de situações limites. À beira do grotesco, ele retrata a urgência e a violência que caracterizam, além dos momentos de exceção (na novela, a ditadura chilena), também o nosso tempo (o caso de 2666).
Estrela Distante traz também uma constante da sua escrita: a autorreferência, a presença do próprio ato de escrever na narrativa. Os personagens da novela são poetas, e um deles, ao final, cruza com um investigador policial para a resolução do caso. Bolaño contrapõe a arte ao real com resultado contundente.
No momento, é o que continuarei lendo. Gonçalo e Bolaño: duas obras que merecem a conferida.

Crônica no Pioneiro de hoje.

quarta-feira, julho 7

A crônica não é poesia

Outro dia, revirando umas caixas, do tempo em que se escreviam cartas, encontrei postais, bilhetes, um perdido livreto. É de Augusto de Campos, de 1990, e não passa mesmo de um caderninho de um dos fundadores da Poesia Concreta. O livreto se intitula NÃO e veio numerado: número 18. Trata-se de um poema “pós-pós tudo”, talvez o fechamento do ciclo do Concretismo.
O poema começa com 10 letras na horizontal, com 5 versos na vertical, num quadrado perfeito que vai diminuindo até o fragmento 1 (ainda com cinco versos e uma só letra).
Percebam a construção:
Meuamordor
nãoépoesia
amarviverm
orrerainda
nãoépoesia


escreverp
oucooumui
tocalarfa
laraindan
ãoépoesia

humanoau
tênticos
inceroma
saindanã
oépoesia


transpi
ratodoo
diamasa
indanão
époesia

aliond
ehápoe
siaain
danãoé
poesia


desaf
iamas
ainda
nãoép
oesia

rima
sain
dana
oépo
esia


équ
ase
poe
sia
mas

ai
nd
an
ao
ép


o
e
s
i
a


***

(E concluo: o que não é poesia é crônica).


Publicado no jornal Pioneiro de hoje.