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quarta-feira, maio 30

Carpinejar na sexta

Um encontro com o Carpinejar sempre é muito bom. Apareçam pra ver! (Alunos do jornalismo da UCS, lembram daquela "leitura" bacana?!?!)
Pois nesta sexta o Fabrício estará conosco novamente. Ele vem lançar o seu novo livro, Meu filho, minha filha.
O papo será às 19h, na Do Arco da Velha, Café e Livraria, bem ali no centro. A promoção é da Itapema FM.

terça-feira, maio 29

A rebelião do Tio Purça

A história do automóvel em Bom Jesus pode bem ter começado com o primeiro carro do Leovegildo Mello, comprado de Antônio de Boni, em 1927. Mas a lenda que corria era a do José Padeiro, que foi mesmo o primeiro a andar sobre rodas no Bonja. Apareceu por lá com um caminhãozote e virou atração e farra.
Além do Benhur, os seus mil carros velhos, há uma “lenda automobilística” a ser desvendada. Até hoje, talvez, o caso mais famoso seja mesmo o do Lambreta. O Lambreta (com o seu Decavê!!), uma vez entrou na Curva Fria. Entrou direto e ficou pendurado na ribanceira da Rocinha quando ia pra Araranguá. Ficou lá, sortudão, nos galhos de uma árvore, com uns mil metros de queda se largasse. Só se falava desse milagre.
Frei Cirilo, o frei francês, depois também teve lá a sua “moto”, na verdade uma Vespa, pela qual o imaginário feminino da cidade suspirava. Mas, foi Frei Getúlio quem protagonizou a maior tragédia. Não, não porque os freis tenham morrido depois no seu fusca, aí, na curva de São Marcos. Mas porque, em 60, Frei Getúlio, fatalidade, acabou matando uma criança. Acolheu uma menina distraída na descida do Ginásio com a Caminhonetezinha dos padres.
Nos anos 70, houve uma rally por lá, já com a avenida calçada. Lembro do Maverick do Remizão Tessari, e do Tio Juce com o seu Wolks envenenado. Corrida de dupla. Cada um numa faixa.
Mas, talvez, o mais hilário mesmo, se pensando em carros, tenha sido aquela do Tio Purça. O Tio Purça, nosso intelectual, boêmio, homem da noite, certa vez saiu do Bar do Cascata e botou o seu fuquinha na Praça. Ahhã! Passou a andar entre os canteiros desafiando a Brigada e quem mais tentasse. Demoraram a tirar o barbudo de lá.
E, sabe, revendo agora Corrida Contra o Destino (Vanishing Point, de 1971, época da proeza na praça), me dei conta que o Tio Purça possa ter se inspirado no filme. Como um Kovalski da pecuária, o Tio Purça se rebelou contra o sistema. E como o Kovalski do filme protestou contra o estabelecido. Isso tinha bem a cara dele. Eu não posso estar errado.
Crônica de amanhã no jornal Pioneiro

segunda-feira, maio 28

O retrato que saiu

O retrato que saiu no minuto seguinte
veio se ambientar no frio
O retrato que saiu, recente, do leito,
o retrato que saiu do chapéu
saiu por humor
saiu do amor
saiu por inteiro
o retrato em dois ou três puxões:
lágrima
nervos
a mãe, o pai e o avô!

pr

sábado, maio 26

Fatias, restos, retalhos. As formas da inutilidade

Não há nada mais inútil do que a procura na ausência.
Não há nada mais inútil do que a sombra sem andar. Cortina sem vento, grito, cabeça a pensar.
Não há nada mais inútil do que distinguir juros, o sacrifício do tonto, o polvilho, a tábua, o tatu.
Não há nada mais inútil do que seguir o humor, o embuste da planta, o capricho dos nervos e o princípio por fim.
Não há nada mais inútil do que se armar chuva, uma igreja nevada, um prejuízo a dispor.
Itinerário sem bonde, bicho solto, perdido, não há nada mais inútil do que um homem curvo, de joelhos, de concreto a vestir.
Não há nada mais inútil do que se construir cidades.
Não há nada mais inútil que o mármore, o jazigo e o granito, faça leve o teu chão!
Não há nada mais inútil do que o homem depois de morto, os mortos num mês de maio, inútil querer ser mais.
Não há nada mais inútil do que correr atrás, ir às águas confusas, ao que não move moinhos, nem germina coração.
Não há nada mais inútil do que meditar em segredo, testemunho das próprias bombachas, elogio em favor de si.
Não há nada mais inútil do que o tempo em dobro, jeito calmo, domesticado, cachorro a escutar sermão!
Não há nada mais inútil do que um burro baixando as orelhas, falar o que dá na telha se é hora de escutar.
Não há nada mais inútil do que a chuva caindo... Um homem triste ajoelhado... não há nada mais inútil, não há mais!
Um bordão, um tango argentino, não há nada mais inútil que um Pau-de-Pátria-Mandado, nas verbas atrapalhado, ser útil, lambuzo de mel!
Não há nada mais inútil do que o sujeito feito de barro, nada mais inútil do que a farda, a moda, a inutilidade do chapéu na mão.
Não há nada mais inútil do que esses loucos na praça (úteis, por isso!), não há nada mais inútil como a cobiça, isca pra peixe no mar.
Caçapa num bilhar, tirar leite de pedra, não há nada mais inútil do que dobrar o vento pra aquecer.
Seja Rússia, Itália, não há nada mais inútil do que um Confessionário se o Diabo vem atender.
Não há nada mais inútil do que a escuridão sem carinho.
Não há nada mais inútil do que a lágrima, pensar um filho andarilho, que ande no mundo de Deus!
Não há nada mais inútil do que a formiga voltando e indo, as missas se repetindo, o falastrão do pastor.
Não há nada mais inútil que um grão de milho, o perfume do feno, comida em teu jejum.
Não, não há nada mais inútil do que a água bater no pescoço, em fatias, em restos de amor, retalhada, disforme do coração.
pr

sexta-feira, maio 25

Jalusa Belly

Apresento-lhes Jalusa Belly, que fazia o mundo, era a mais linda das três que tinha o Seu Alfaiate.
Procurava na lavoura e me dava figurinha em chiclett. A Jalusa ouvia bem alto... que fui descobrir no The Who, era Tommy!
D. Elvira era engomadeira e o pai, já se disse, trabalhava com roupa.
A Jalusa sentava na escada e vestia uma saia. E a blusa (vi agora, me lembro), era uma blusa amarela.
De sandálias, de couro e só dela, a Jalusa botava um bolinho de fitas nos pulsos.
Sumiu uma vez.
Tava em Floripa, foi ficar em Florianópolis.
Isso depois foi triste...
Bonita como olhava!
E me diziam que perguntava...
Será mesmo?

pr

Estudo para iludir anestesista

vai sobreviver aos sinais
ao sino da freira, ao talco da Enfermaria
vai sobreviver em silêncio
iludindo o anestesista
pr

quinta-feira, maio 24

Quando eu nasci

Quando eu nasci, nasceu o Congo.
O Chade, a Mauritânia.
Burkina Faso e o Gabão.

Nasceu Benin,
nasceu Brasília,
abriram o Rio Poli.

Quando eu nasci, a Costa do Marfim.
Morreu Camus.
Nasceu o Senna.
Chegou Renato Russo e a independência de Mali.

A Carla Carmuratti.
O Boris Pasternak
O meu pai de tão araque se mandou.

O Jânio, vassourinha
Guanabara virou Rio.

O Van Dame foi parido
teve bancos pra igreja em Bom Jesus

Não me batizaram

quando eu nasci,
segredo de Fátima,
acataram Camarões

Quando eu nasci tremeu o Chile
O Tato Gabus Mendes
Teve Ô Crides, do Golias
Me dá um dinheiro aí!

houve súplica, cearense,
minha mãe ficou na merda
uma lua dando banho na Celly

Quando nasci, nasceu Cris Couto
o palhaço Risadinha
e o estádio Morumbi

pr

terça-feira, maio 22

A filha da neve morreu no mar

Eu sempre soube que a “maior neve da história” foi em 1957 (acumulou mais de dois metros), porque a mãe sempre lembrava que foi quando deu à luz a minha irmã do meio. D. Carmem contava do seu parto com neve e mais tarde esta minha mana morreria no mar. Neve e mar. Minha irmã estaria completando seus 50 agora, não tivesse morrido aos 15.
A neve durou a semana inteira. Foi em julho e matou boi e vaca num Bom Jesus que já sofria da “asiática”. Era como chamavam à gripe naquele Bom Jesus que não era pouco: havia 86 serrarias.
Um carrilhão pra três sinos, a igreja pintada por fora, quando minha irmã nasceu foi solenemente benta a primeira pedra da Hidráulica. Minha mãe moraria depois por ali, no Campinho da Hidráulica. Era uma espécie “área tornada nobre” cercada de plátanos, por força da nova Hidráulica e habitada por gente pobre.
À sombra dos plátanos, uma certa D. Rosa ainda vivia. Só depois, com sua morte, minha mãe mudaria para a casa desta Rosa. Era uma casa coberta de tabuínhas e um puxado feito “água”.
Claro, as cumeeiras por lá eram assim: por causa da chuva e muito mais pelo acúmulo de geada e neve. Arquitetura de Bom Jesus que nunca vi estudada. Um filão que zanza ainda aí sem pesquisa.
Mas, o berço. Maria de Lourdes foi doada. Na verdade, nunca convivi com esta minha irmã. Mais. Não a conheci. Eu nasceria ainda depois de uma outra guria.
Quando vieram avisar da sua morte, isto sim, já crescido, lembro bem, foi no quarto da tal casa “água-puxada”. Um quarto pintado de cal, com um radião na cabeceira. Deram a notícia de bate-pronto. Minha mãe desmaiou na hora. Lembro a Zaida, sua colega, puxando e puxando os braços de D. Carmem com álcool. Depois que “voltou”, deram o resto do recado: a sua menina, de Esteio, tinha morrido na praia. Em Pinhal, precisamente, enroscada numa rede de pescadores.
Neve e mar. Coisas que nunca saíram da vida gente, a nossa Maria de Lourdes.
Cinqüenta anos faria agora. E posso entender o parir uma filha com neve. Entendo doá-la, sabe-se lá com que causa!!!
Crônica de amanhã no jornal Pioneiro

segunda-feira, maio 21

O silêncio II

o silêncio em minha própria defesa mira nas palavras
o silêncio mata pela boca
e me faz vivo

pr

O silêncio

o silêncio não chora fracassos
o silêncio é uma queixa justa,
vela em sua missão:
ilumina no declinar
engenha sem construir
o silêncio é uma queixa justa isenta de humilhação

pr

sábado, maio 19

Mensagem

Não me julgue
Sentenças cabem mais ao escritor
pr

sexta-feira, maio 18

Tecer pássaros

Solange preparava ninhos para os pássaros. Com cuidado, com sua doçura, Solange, entre os galhos das cercas-vivas que circundavam a casa, pousava os seus ninhos ali.
Ninguém, nem os adultos, sabia fazer como Solange os trançados, o desfiar dos barbantes, os topes justos no algodão.
Apenas Solange fazia os ninhos bem-feitos e não se sabia o que havia de tão imaculado em suas mãos.
O fato é que, em certa manhã, havia um pássaro na sua “construção”. Um pássaro vivo, realidade, o passarinho estava lá. Recém-nascido, o pássaro dela, e Solange o recebeu com afeição.
O bica ainda frágil, sem penas, o passarinho sentia frio. Padecia e aquele foi um momento enternecedor.
Solange aconchegando o ninho, retirando do galho, o trazendo na palma da mão. O bicho tão fragilzinho, lá estava o pássaro em sua mão. Vivo.
A irmãzinha trazia a mão em concha, era como um cálice que ofertava ao João Osmar, ao Pedro Antônio e à Sandramar.
Era um gesto profundo, a forma tão simples de afagar a todos os seus.
A irmãzinha retendo o seu ninho ainda ao peito e o pássaro vivendo neste infantil seio a sua primeira manhã.
Pedra, ferro, aço, o coração ainda no instante do ninho, no instante daquele gesto, a concha de sua mão.
Queria o que a fazedora de ninhos?, indagar de sua própria encomenda? O pássaro era feio? Queria a fazedora de ninho entender a natureza, o que ela, só ela, plasmou?
Não respondo, não sei. A memória vem desbotando o seu rosto, desbotando aquele instante, já não vejo a minha doce irmã de criação.
pr

Algemas tristes

Uma música tocando nas caixas de som. Um som pregado no teto do Fórum. Em seus ouvidos. Uma música que ficava com volume só no corredorzão, porque quando se entrava na Sala de Audiências, não tinha mais música, só interrogatório.
Era para isso a Audiência.
Ela ia, com coragem... E também, quando atravessou o corredorzão, antes de chegar na Sala, ela pensou: será que as outras que tinham penas —as apenadas de antes— tinham passado também por isso quando vieram igual dar depoimento?
Quando vieram pra contar a história delas?
Será que quando atravessaram este corredor também viram seus parentes e testemunhas?
Será que elas também passaram ouvindo música na caixa de som do Fórum?
Quando as outras atravessaram o corredor viram as criancinhas das primas ainda no colo?
Ficaram com pena delas também mulheres?
Seriam elas também lavadeiras de pratos. Estupradas pela vida?
Elas cantariam, como ela, numa pia?
Porque ela cantava na pia com a barriga nos pratos. Ela cantava na pia esbugalhada pelo meio. Ela cantava na pia com a placenta retida no dia em que seu filho nasceu.
Na pia a vida inteira. Lavadeira de pratos varizenta. Lavadeira de pratos mãe solteira. Muito analfabeta. Muito burra.
Para isso era a Audiência. Para o “como foi?” Para minúcias. Reminiscências na Promotoria.
Era para isso a Audiência: a história dela.
Era bem moça quando se empregou. Com um avental por cima do vestido, lavando pratos de botinas marrons.
Agora não tem mais o sorriso do antigo retrato. Tem um olhar triste. Tem Audiência. Sua história. É por isso a sua Audiência.
Atravessou o corredorzão do Fórum com bastante gente olhando para ela agora depois de apenada e que chamava mais a atenção. Crianças jogando terra nela. Vizinhas na janela. Cada passo dela com a música pregada no teto.
Será que a música deixa ela mais triste?
O sorriso do retrato já despistava a tristeza.
Ela.
Ela se sentia bandida mesmo. Com algemas nos pulsos, sentia a música dentro do seu coração.
E ficava mais triste. Triste como o olhar do retrato.
Caiu uma lágrima.
Será que todas sentem as algemas e ficam tristes?
pr

quinta-feira, maio 17

Caminho

Caminha, homem só, segue e cai na tua
Caminha teu rosto, a fazer idade
Caminham os ponteiros, controlando a hora
Caminha, ligeiro, vai pela beirada
Caminha poema, sapatos têm asa!
Caminha sem chão, como na cachaça
Caminha, atravessa, vai pro casamento
Caminha a medir, diminuindo a estrada
Caminha, botânico, lendo a palma, a planta
Caminha no carro, largando folheto
Caminha aprender!, mudando de idéia
Caminha até passar, o amor,
se um morto amor contigo levas!
pr

quarta-feira, maio 16

Novo dia do Carpinejar

A data do bate-papo com o Fabrício Carpinejar, com o lançamento do seu mais recente livro, Meu filho, Minha filha, foi alterado. Será no dia 1 de junho, uma sexta, às 19h, na Livraria e Café Do Arco da Velha, aqui em Caxias.
Apareçam!

Pegadas futuras em Santa Teresa de Caxias do Sul

Eu tenho ando como um arquiteto de casas extintas olhando por aí.
No que penso, ando.
E eu ando dizendo a esmo, em aula, o que devemos fazer:
pra melhorar, fique no mínimo!
Encurte, remende, aproveite que abriu aqui perto de casa uma restauração de jeans.
O papa se foi, cansou, tomou um fartão!
Já não se faz papa e nem ruas de Caxias como antigamente.
Arquiteto de casas modernas.
Sou o que sou!
Surdo à cidade, minha vontade é de começar por aqui:
a Via do Pátio, tornar Rua Aberta.
E já vou no Maria da Toca com uns 20% das Casas Uruguai.
Pão Foffo & Manga Rosa.
Neste ano de amor e mágoa relançaram uma pizza-sorvete que é pra morrer de rir.
De frio. De projetos de Toco de Gente e de botar um novo negócio naquela esquina da Casa Azul.
Caos nas calçadas. Coisas feitas “na hora”.
O meu exótico roteiro vai da Paris ao Havana Café.
E vai à Casa Londres, justo à Prenda Bonita, à Linnea Bella, vai, meu caro, até ao Cabanha’s de Bagé.
Was & Park?
Não. Ora, vá fazer Tattoo.
Aqui, ontem, foi show!
Descontado o Marketing Pessoal, foi.
Tempos modernos.
Note bem (foi minha pesquisa!), o nosso Horangotango mesmo passou a ser com “agá”.
E KareKas, assim, pluralizado.
E há um santo sino que decerto badala pelo governo federal.
Prece e pressa.
L’acqua di Fiori, meu compadre!
Aproveite o Dissturbio da minha prosa, porque Tem Gente Teatrando.
Tem uma escada dando à janela.
E vi uma pose tensa dos pares de Mannequins!
“Neblina, orvalho que voa” é o poema da estação.
Mas, neste inverno, seremos Dom Vitos, não seremos D. Juans.
Per Mangiare?
Minha cara, prefira o Chalé. A comidinha é Flor de Arroz.
E sue, saune, dance, se estresse depois no farol.
Neblina pro escambau!
Profusa cidade que vai ao Rizzo, por Esso, o Catz, hip-hop que te abrevia assim: CaXi do Sul.
Cidade.
Cidade que também se abrevia na banquinha de revistas que tiraram de lá.
Havia, cadê?, sumiu.
Já foi dado ao Moreira o que era de César?
Não sei.
Plaft! Plaft! Pararatantã!!!
Anda, Luzia!
Dança Flamenca!
Ouço no casarão.
Em Caxias uma noite caiu.
pr

terça-feira, maio 15

O lugar das palavras

Deve fazer uns 4 anos eu me arrisquei e disse: acabou a Literatura. Acabou, c’est fini. Literatura no sentido de contar história, que a garotada de hoje quer saber de uma boa história de forma muito mais inventiva do que estes chatos relatos de início, meio e fim.
Eu devo ter dito há 4 anos que a Literatura hoje é aquela que faz a fofoca de uma vida (vide a biografia do Roberto Carlos, vem aí o ACM e tem mais o Paulo Coelho pra se vender). No mais, depois de Érico ter minado o terreno e ter nos deixado só a rebarba, não há muito mais o que se dizer.
Claro, há a Literatura de Invenção, aquela que foge das normas e propõe. Exemplo: Fabrício Carpinejar e seus textos de sedução. Mas, advertência! Ela vem acompanhada da sua performance individual, pois, como se tem visto, Fabrício hoje é um ator.
Não há mais clima para um novo O tempo e o vento. E isso é bom. Já que literatura não vende, não mais se lê (embora ainda bafeje uma panela no centro do país), isso é o melhor. Assim é bom, porque sem o comprometimento, resta a liberdade de inventar. O teu compromisso termina na porta de casa. É uma grande vantagem não ter a obrigação do sucesso.
Mas falta algo aqui. É preciso dizer que chegamos a isso com a explosão da internet. A internet levou nossos potenciais leitores para o computador. E é uma concorrência desleal. O aluno hoje prefere pesquisar em sites do que buscar as enciclopédias. Deu para o papel. Buscam a informação on line ao mesmo tempo que estão no msn, baixando midi, youtube, dando pitacos no orkut. Sem contar o horizonte de pesquisa aos milhões.
O novo leitor passa o dia nisso. Volta à página inicial e está lá. “O papa já voltou. O papa já está em Roma”. De minuto a minuto ele tem a notícia. Daí que constato: a literatura nos libertou. Libertou de um mercado que não existe mais.
Não, eu não estou acabando com a literatura, como acabaram com o rádio depois da tevê. Nem estou acabando também, por tabela, com o jornalismo nosso de papel. Eles apenas mudaram de lugar. Tá difícil é admitir.
Crônica de amanhã no jornal Pioneiro

domingo, maio 13

Saudade

O silêncio que sobrevive sem tornar

sábado, maio 12

Cordas adormecidas

sexta-feira, maio 11

Meditação

Por quem as cortinas se abrem?
Por quem rufam os tambores?
Por quem os peões se movem, borboletas batem as asas e riscam lá foram os trovões?
De quem é a língua bêbada?
Quem inventou a cachaça?
Quem atraiu o santo e enforcou São João Maria depois?
Quem vive a noite e vai dançar na multidão?
A mais cheia, a mais graça, quem tem tatuagem, etiqueta, caroço numa das mãos?
Dama dos melhores cheiros. Aprendiz de ninfeta!
Quem fica em casa pensando. Quem foi dar um golpe no mundo e morreu de solidão?
Quem por mãos estranhas foi levada?
Quem num boteco foi atirada?
Por quem estalam as madeiras e os padres dobram a rezar?
Por quem os cínicos florescem?
Quem traz riscos, promessas, o vestido mais malicioso que já seu viu?
Quem vem com a mulherada sorrindo?
Quem perdeu o chinelinho, tem os pezinhos descalços e os miseráveis em procissão?
Por quem oferta o pagão a sua missa?
Por quem se nada às braçadas?
E quem vai às gargalhadas, gaga, drogada, vai se negar nos lençóis?
Quem gozou com as pernas rijas?
Quem chacoalhou a flagrância pra melhor aromar?
Em quem os turfistas apostam?
E esse silêncio súbito?
Por quem suam, limpam as mãos nas roupas, quem são os taxistas, os carroceiros, o lúmpen social?
Por quem o trompetista?
De quem a voz lamentosa. O cabelo azul, os lábios meladinhos e o se mijando de rir?
Em quem baixa o santo?
O dente doendo?
Quem é a viúva desejada e a mais gostosa da praia de abril?
Quem morreu de amores numa doce ilusão?
Por quem o anão cochila?
Por quem os sinos dobram?
Por quem a platéia cuspiu no palco antes do final?
Por quem?
Por que o troco, o soco, o capador de touros querendo ser seu marido, afinal?
Por quem se inventou o penico? A dobra do dinheiro? A doméstica, a polícia, a expressão canalha, marginal?
Quem é vagabundo?
Por quem se agacham os poderosos? Quem é gentil, feia, bela, ingênua, quem dormiu com o Almirante e o Papa Pio?
Por quem se bicam, bebem tônica, a lancheria trepida e as virgens a cochichar?
De quem falam, levantam infâmia, o chiiii improvisado de um jazz?
Por quem vibra a arquibancada?
Por quem se masturba o idoso?
Por quem a hóstia, o cálice, as vezes do Bis?
E a safadeza? Quem é?
Por que sais?
Por quem Bogart no balcão?
Por quem o facho de luz, as aduladoras de Lázaro, o ato da crucificação?
Ó Santa Joana, por quem?
Por quem se fazem cachorros os homens?? Por que o jogo enrola, o carnaval desforra o teu-pezinho-junto-ao-meu?
Por quem a partida, a emoção mais pura, o smoking e o poema do feijão?
Por quem se excita o rejeitado, se aprofunda o Parlamento, soa lá o Big Ben?
Por que se passa a mão no joelho de uma amiga com segundas intenções?
Por quem, Madona!, as curvas das axilas, a gilette de Marilyn?
De quem os pezinhos santos, a prece em banto, o arrotar de lingüiça, o cinema alemão?
Pra quem, com quem Bardot cedeu em Búzios, ó sertaneja, a mais linda canção!!
Por quê?
Por que não choveu mais no sertão?
Por quem o sugiro, acho, não tenho certeza, comece a imprensa a se retirar?
Por que o aborto, perguntas?
E por quem a caveira, a jaqueta pós-moderna e um texto de Shakespeare?
Por quem?
De quem os pentelinhos úmidos, que rumo tomou o DJ (sonoplasta!) na rave que emperrou?
Por quem se gira os braços de Cristo, por que tá tão empestado o ar desse show?
Por quem o Led, o Rolling e o The Who?
Por quem Elis gritando?
Por que somos tão baixos, machos e esse gosto artificial?
Por que, pra que e por quem o esperma cidadão?

pr

quarta-feira, maio 9

Meu filho, minha filha

Fui convidado para um papo com o Fabrício Carpinejar (deve ser mais um "possibilitaremos impossibilidades", eufemismo que criamos para improviso), dia 26 de maio, sábado, final de tarde, na Livraria-Café Do Arco da Velha. Será o lançamento do seu mais recente livro, Meu filho, minha filha (que são a Mariana e o Vicente, estas figurinhas aí da foto). A promoção é da rádio Itapema FM.
Vejam o que se tem dito:
“A série de poemas que Fabrício Carpinejar reuniu em Meu Filho, Minha Filha forma um monólogo a três. É assim que se pode entender a expansão do pensamento, as reflexões dadas também no sensorial dos toques, dos olhares, se é que aí não está o ponto em que as coisas se resolvem: a emoção do pai diante da ausência-presença da filha na casa da mãe e da presença-ausência do filho sempre ao alcance. Assim o poeta desenvolve o seu drama...
Os estudiosos da família vão encontrar aí o problema do filho de pais separados, do pai separado, do pai solteiro; os psicanalistas têm no livro generosa quantidade de material; os educadores vão achar motivos de inspiração no trato com as crianças; mães e pais verão refletidas suas memórias ou seu presente; e os filhos com certeza terão uma idéia sincera de que os espera quando assumirem o lugar dos pais. Embora pareça claro, deve-se chamar atenção para o fato de que não se trata de auto-ajuda disfarçada de poesia. Pelo contrário, as situações não se resolvem, pouco abaixo da superfície das palavras existe algo inquietante e inevitável, como está sugerido acima, a respeito da "grande questão". Algo tão permanente quanto insolúvel enquanto se respira: o enfrentamento da morte, do qual a infância às vezes parece um momento de trégua a ser festejado com toda a intensidade”.
Texto de Moacir Amâncio, Estadão, 6 de maio
A foto é de Renata Stoduto

Da amizade

Ah, os meus amigos!,
benditos os amigos,
poucos, como os amores,
que se prestam a nós
como à vida os dias
Amigos que se mostram
no enrugar, na face,
amigos como âncoras,
âncoras!,
e que me são ouvidos
pr

A visita do papa

Esta Igreja que vem aí é a mesma que um dia negou batismo ao filho de uma mãe solteira.
Mas isso já teve maior importância, hoje é apenas lamentável!

segunda-feira, maio 7

Kraftwerk. Lá de vez em quando...

O Café do Laurindo

É só a gente o piscar o olho, vão lá e derrubam. Estou falando do que aconteceu no meu Bonja. Derrubaram a casa de madeira que a vida inteira ficou lá na esquina da Praça Rio Branco. O antigo Café Baroni, o Café do Seu Laurindo.
Devia ter mais de 70 anos o casarão de dois pisos. Peguei ainda como sorveteria, depois foi Livraria Estrela e, por último, lamentavelmente, a Casa do Fumo!!!
Era um patrimônio vivo e estranhei agora a derrubada. Pensava que a casa estivesse tombada pela prefeitura. Que nada!!! Veio abaixo!!! Está lá agora aquele vazio. Está faltando um pedaço em nosso Bom Jesus.
No lugar, antes, bem antes, havia uma casa de taipa rebocada, de um certo João Hoffmann, onde funcionava um Sete Baiano e bilhar. Depois, foi comprada pelo Laurindo, que era filho da D. Tesesa Baroni, a dona do primeiro “grande” hotel da cidade.
Sei lá se construída pelo Higino Pinto, Inácio e Carlos Moojen (que lidavam com madeira no tempo de construção da cidade, além de Ângelo Zuanazzi), a casa que agora foi derrubada devia andar pelos seus 70 anos. Lembrava muito estas construções de Antônio Prado, tombadas pelo Patrimônio Histórico e que são referência mundial.
O Café do Laurindo foi um ponto de encontro notável. Lembro de suas mesas de mármore imitando tabuleiros de xadrez e dama. Ficou na memória de muitos os duelos infindáveis entre Pedro Tietbhol e Gelmino Zuanazzi. Os velhos quase não se concentravam nos lances tanta era gente que reuniam em volta.
Por isso, o Café do Laurindo era conhecido como o “Café do Dominó” (vejam só, e lá se jogava era xadrez e dama!). Na parte de cima da casa, aos domingos, como o salão era espaçoso, faziam matinés dançantes.
Sempre auxiliado pelo Marconi, seu filho, o Café do Laurindo foi também a sorveteria de três ou quatro gerações.
Acabou. Veio abaixo.
Dobrem os sinos lá de tristeza pelo Café Baroni!

domingo, maio 6

Pauzinho

O Pauzinho uma vez caiu na serra-fita que atorou as duas pernas dele. Demoraram pra contar pra ele que ele ficou sem as pernas, já fazia 45 dias.
Uma desgraçada duma tia que foi visitar ele em Caxias contou tudo o que tavam escondendo ele. Que ele não tinha mais pernas e nem sentia ainda ali no quarto do Pompéia.
A serraria inteira toda queria sempre saber como é que tava indo o Pauzinho. E a tia dele, muito analfabeta, muito burra, entra lá no quarto e inventa de contar tudo direto pra ele, que nem exame nada tinha visto ainda.
E o Pauzinho disse que agora ia dar gente na cadeia. Que nem resto das pernas dele tinha ficado no meio da serra de prova, mas que ele tinha certeza que a turma ia testemunhar, que ele ia colocar rico e gerentada no fundo duma cadeia.... Que os da turma sempre avisavam do perigo e que um dia um deles ia cair lá.
A reação do Pauzinho que ficou sem as duas pernas no acidente da serraria era só de pensar em matar o ordinário desse canalha subgerente, ele dizia tremendo bastante.
“Não tinha sangue na serra mas tem o laudo médico”, ele gritava pra essa tia dele no quarto do Pompéia.
O Pauzinho ficou sem as duas pernas e inconformado. A assistente social disse que ia mostrar ele pro outro doutor. E deram um abração no Pauzinho antes de sair do quarto dele.
Abraçaram ele depois que a tia dele foi lá e contou tudo. Fazia 45 dias.

Trechos de Pauzinho, o conto de abertura de Valsa dos Aparados, que está sendo relido no curso de Letras e Cultura Regional, da UCS, pelo mestrando André Fontana. É um escreve como se fala. Valeu, André!

sábado, maio 5

The Police

Quando encrespa ainda se escreve

sexta-feira, maio 4

Abertura de Missa para Kardec

Mais os espíritas tentaram dizer o que sentiam naquela tarde, mais ficaram abaixo dos seus desejos. A causa era a muda morta. Eselita ainda vagava e teria entrado a Salami na própria missa de sua alma.
E foi acolhida. O preto Cidálio acolhia, lhe dava carinho, lhe dava guarida, apesar de Cidálio já ter os 100 anos.
Ex-escravo, servia às orquídeas, servia aos Kardec, o Cidálio Cristino Castelo cantava na praça o Araçá.
E dava quase no mesmo: Araçá cantado na praça, Araçá por abraço de moça, Araçá pela muda defunta.
Cantava à altura um Araçá pra essa coitada: seu canto era um lamento, a mais triste orquídea a vicejar por ali.
Era a canção mais melancólica e na mesma melancolia encontrava guarida a mudinha no mulatão.
Mulatão, moleirão, colhedor de orquídeas na estrada, o Seu Cidálio também animava se falasse no seu estilo: “vintóito milhão de campo”, que era o que ele “pissuiu”.
Boa alma, tão boa, humorada, até Balduíno Rambo, o botânico, quando vinha, colhia com esse Cidálio a flora e a prosa de Bom Jesus.
Conhecia as orquídeas, sabia os costumes, seguiam os seus passos, lhe entendiam de coração.
Como os pobres ao Cidálio, aos kardec, ao crendospadre, eu vivi junto a rivalidade que os consumiu.
Na saúde e na doença, eu era escrivão e lavrava. Eu tomava potreiro em aposta, eu era o Alberto Hartmann, eu pra isso fui terreno: em escritura desde que no mundo, em certidão por boa letra, dito um estilo bem próprio, eu só somava em alemão.

Estudo para iludir anestesista



quarta-feira, maio 2

Teus cabelos quando molham

Teus cabelos quando molham, perdoa teus cabelos
teus cabelos quando molham, ajeita teus cabelos
arruma teus cabelos quando molham
promete, teus cabelos quando molham
afina teus cabelos quando molham
agraça teus cabelos quando molham
defende teus cabelos quando molham
declina teus cabelos
quando molham, tolera
teus cabelos quando molham
estandarte teus cabelos
quando molham... teus cabelos
chovem!

pr

terça-feira, maio 1

Thriller

Os gelados

Em 1927, Leonel Rocha, rebelde da Revolução de 1923, ainda circula com uma pequena força ali pelo Nordeste e é destroçado no Morro Agudo, interior de Bom Jesus. Cuidava do governo do município o Ten. Cel. Joaquim Marques Acauan, hoje nome de rua e colégio, e que tinha na retaguarda Francisco da Silva Ferreira, dos mais ferrenhos defensores de Borges de Medeiros.
O feito maior da administração de Acauan foi, sem dúvida, a instalação da luz elétrica no Bonja, tocada então com querosene. Ele também ampliou o reservatório de captação da água e começou o nivelamento das ruas numa Bom Jesus cheia de lombas.
Com Joaquim Marques no governo, portanto, as coisas por lá andavam. E foi quando abafou aquela pequena tropa ainda contrária ao Borges, no Morro Agudo. Por ironia, esta mesma mão-de-ferro, no ano anterior, havia criado o primeiro bloco carnavalesco da cidade. Chamava-se Os gelados, uma blague com o clima do Bonja e que tinha entre os seus membros até Francisco Spinelli, o futuro líder dos espíritas país afora.
E, na melhor tradição dos blocos, Os gelados criaram o seu próprio hino. Era esse:
Os gelados derreteram
/Derreteram o carnaval
Fogo no gelo meteram
E deu... água mineral.


Aos poucos foste esquentando
Com um calor infernal
Já tenho o sangue pulando
Carnaval, Oh, carnaval!

Gelados vêm mais pra cá
Gelados têm dó da gente
Gelados vai-te pra lá
Eu quero coisa mais quente.

No mesmo ano, foram “absorvidos” pelo Clube Juventude.

Trechos da crônica de amanhã no Pioneiro