Pauzinho
Uma desgraçada duma tia que foi visitar ele em Caxias contou tudo o que tavam escondendo ele. Que ele não tinha mais pernas e nem sentia ainda ali no quarto do Pompéia.
A serraria inteira toda queria sempre saber como é que tava indo o Pauzinho. E a tia dele, muito analfabeta, muito burra, entra lá no quarto e inventa de contar tudo direto pra ele, que nem exame nada tinha visto ainda.
E o Pauzinho disse que agora ia dar gente na cadeia. Que nem resto das pernas dele tinha ficado no meio da serra de prova, mas que ele tinha certeza que a turma ia testemunhar, que ele ia colocar rico e gerentada no fundo duma cadeia.... Que os da turma sempre avisavam do perigo e que um dia um deles ia cair lá.
A reação do Pauzinho que ficou sem as duas pernas no acidente da serraria era só de pensar em matar o ordinário desse canalha subgerente, ele dizia tremendo bastante.
“Não tinha sangue na serra mas tem o laudo médico”, ele gritava pra essa tia dele no quarto do Pompéia.
O Pauzinho ficou sem as duas pernas e inconformado. A assistente social disse que ia mostrar ele pro outro doutor. E deram um abração no Pauzinho antes de sair do quarto dele.
Abraçaram ele depois que a tia dele foi lá e contou tudo. Fazia 45 dias.
Trechos de Pauzinho, o conto de abertura de Valsa dos Aparados, que está sendo relido no curso de Letras e Cultura Regional, da UCS, pelo mestrando André Fontana. É um escreve como se fala. Valeu, André!
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