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sexta-feira, maio 11

Meditação

Por quem as cortinas se abrem?
Por quem rufam os tambores?
Por quem os peões se movem, borboletas batem as asas e riscam lá foram os trovões?
De quem é a língua bêbada?
Quem inventou a cachaça?
Quem atraiu o santo e enforcou São João Maria depois?
Quem vive a noite e vai dançar na multidão?
A mais cheia, a mais graça, quem tem tatuagem, etiqueta, caroço numa das mãos?
Dama dos melhores cheiros. Aprendiz de ninfeta!
Quem fica em casa pensando. Quem foi dar um golpe no mundo e morreu de solidão?
Quem por mãos estranhas foi levada?
Quem num boteco foi atirada?
Por quem estalam as madeiras e os padres dobram a rezar?
Por quem os cínicos florescem?
Quem traz riscos, promessas, o vestido mais malicioso que já seu viu?
Quem vem com a mulherada sorrindo?
Quem perdeu o chinelinho, tem os pezinhos descalços e os miseráveis em procissão?
Por quem oferta o pagão a sua missa?
Por quem se nada às braçadas?
E quem vai às gargalhadas, gaga, drogada, vai se negar nos lençóis?
Quem gozou com as pernas rijas?
Quem chacoalhou a flagrância pra melhor aromar?
Em quem os turfistas apostam?
E esse silêncio súbito?
Por quem suam, limpam as mãos nas roupas, quem são os taxistas, os carroceiros, o lúmpen social?
Por quem o trompetista?
De quem a voz lamentosa. O cabelo azul, os lábios meladinhos e o se mijando de rir?
Em quem baixa o santo?
O dente doendo?
Quem é a viúva desejada e a mais gostosa da praia de abril?
Quem morreu de amores numa doce ilusão?
Por quem o anão cochila?
Por quem os sinos dobram?
Por quem a platéia cuspiu no palco antes do final?
Por quem?
Por que o troco, o soco, o capador de touros querendo ser seu marido, afinal?
Por quem se inventou o penico? A dobra do dinheiro? A doméstica, a polícia, a expressão canalha, marginal?
Quem é vagabundo?
Por quem se agacham os poderosos? Quem é gentil, feia, bela, ingênua, quem dormiu com o Almirante e o Papa Pio?
Por quem se bicam, bebem tônica, a lancheria trepida e as virgens a cochichar?
De quem falam, levantam infâmia, o chiiii improvisado de um jazz?
Por quem vibra a arquibancada?
Por quem se masturba o idoso?
Por quem a hóstia, o cálice, as vezes do Bis?
E a safadeza? Quem é?
Por que sais?
Por quem Bogart no balcão?
Por quem o facho de luz, as aduladoras de Lázaro, o ato da crucificação?
Ó Santa Joana, por quem?
Por quem se fazem cachorros os homens?? Por que o jogo enrola, o carnaval desforra o teu-pezinho-junto-ao-meu?
Por quem a partida, a emoção mais pura, o smoking e o poema do feijão?
Por quem se excita o rejeitado, se aprofunda o Parlamento, soa lá o Big Ben?
Por que se passa a mão no joelho de uma amiga com segundas intenções?
Por quem, Madona!, as curvas das axilas, a gilette de Marilyn?
De quem os pezinhos santos, a prece em banto, o arrotar de lingüiça, o cinema alemão?
Pra quem, com quem Bardot cedeu em Búzios, ó sertaneja, a mais linda canção!!
Por quê?
Por que não choveu mais no sertão?
Por quem o sugiro, acho, não tenho certeza, comece a imprensa a se retirar?
Por que o aborto, perguntas?
E por quem a caveira, a jaqueta pós-moderna e um texto de Shakespeare?
Por quem?
De quem os pentelinhos úmidos, que rumo tomou o DJ (sonoplasta!) na rave que emperrou?
Por quem se gira os braços de Cristo, por que tá tão empestado o ar desse show?
Por quem o Led, o Rolling e o The Who?
Por quem Elis gritando?
Por que somos tão baixos, machos e esse gosto artificial?
Por que, pra que e por quem o esperma cidadão?

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