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quarta-feira, setembro 29

Texto para assobiar

O Aníbal Damasceno, nosso professor de cinema nos tempos da PUC, é um grande cara. Além de ensinar as técnicas, também trabalhara na produção daqueles filmes do Teixeirinha. E ele tinha uma obra de sua autoria, um filme que andou concorrendo em Gramado, que trazia um trem como protagonista.
Enfim, o Aníbal, que depois reencontrei na UFRGS, falava de Machado e Nelson Rodrigues nos almoços do Bar do Antônio. O Aníbal, que é parente de um dos maiores intelectuais do Rio Grande da velha guarda, Athos Damasceno, traz de família o gosto pela cultura. Foi Aníbal quem primeiro valorizou Qorpo Santo, ainda nos anos 60, o dramaturgo gaúcho mais criativo de todos os tempos.
Depois, Guilhermino César tratou de notabilizar Qorpo Santo. Mas foi Aníbal quem primeiro enxergou o inovador, o inventor do nosso “teatro do absurdo”.
Pois bem. Coincidiu à época da UFRGS, dos papos no Bar do Antônio (dos quais também participava Luís Augusto Fischer), de eu aproveitar para escrever Vitrola dos Ausentes. Fischer leu os originais. Aníbal, ao ler, não gostou muito. E saiu com essa: “teu texto não dá para assobiar”.
Mas, como? O cara que descobriu o Qorpo Santo tinha encaretado? Queria um texto linear e comportadinho, nos moldes?
Era o Aníbal. E sempre me cobrou um texto que desse para assobiar, à medida que eu escrevia outras coisas.
É do Aníbal que lembro agora quando sai este Que forças derrubaram o ciclista?, que está na coletânea Tríptico para Iberê recém-lançada.
Certo. Para quem leu até aqui, esta crônica é daquelas que não agradam, fica em torno do próprio cara. Mas agora talvez se justifique: estou falando em causa própria, porque sempre paguei o preço dos rótulos, de ser experimental, não compreensível, de fazer textos difíceis.
Que forças derrubaram o ciclista é, portanto, o texto que dá para assobiar. É simples, linear, um ensaio sobre quem também, paradoxalmente, escrevia simples: o surpreendente escritor Iberê Camargo.
***
Neste sábado, às 16h30min, na feira, haverá o lançamento da coletânea e mais bate-papo. Convido a todos!

sábado, setembro 25

A expressão da vida

Grande parte dos trabalhos tardios de Iberê está exibida na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, cuja sede foi projetada pelo arquiteto português Alvaro Siza. “Nas obras da maturidade ele defendia a capacidade de o indivíduo se expressar, criticava quem se deixa manipular: daí As Idiotas”, diz o escritor Paulo Ribeiro, que conviveu com o artista no fim da vida e escreveu uma novela ficcional sobre as conversas que mantiveram. “Além de lamentar os rumos do mundo e voltar-se para os desejos e angústias da humanidade, estava traçando uma linha em direção próprio passado. Produzia para apalpar a eternidade e dominar o tempo, para continuar conosco por mais tempo”, afirma Ribeiro.
Em paralelo à pintura, o pintor encontrou tempo para publicar, em 1988, os claustrofóbicos contos de No Andar do Tempo (esgotado). Adorava Dostoiévski, Kafka, Dante, Faulkner, Tolstói.
Tanto desencanto com o pincel não se refletia no trato pessoal. “Era generoso, falante, conciliava a solidão da criação ao convívio tranquilo no dia a dia”, diz Ribeiro. Era ácido. Iberê dizia que o Brasil é um “castelo habitado por mendigos”.
Brigou a vida toda por subsídios para diminuir o preço das tintas importadas e, nos últimos anos, reclamava que pintava para “si mesmo ou para holandeses comprarem”. Nunca entrou na onda da arte; chamava as instalações de “penico quadrado e arame farpado”.
Tamanha intensidade não podia resultar em outra coisa que não um casamento visceral com pintura. Como ele declarou à crítica Lisette Lagnado, “o homem sem fé não cria". Fé em quê? No que faz.

Trecho da matéria da revista Vida Simples, do mês de outubro e que já está nas bancas, sobre o Tríptico de Iberê.
No próximo sábado, na Feira do Livro de Caxias, autografo a obra. Trata-se de uma coletânea, da qual participo com um dos ensaios sobre o Iberê escritor.
O encontro, um bate-papo intitulado Pintando com as Palavras, terá também a participação da professora Silvana Boone, do Curso de Artes da UCS, e de Mara de Carli, do Núcleo de Artes Visuais de Caxias do Sul.
Sábado, no Auditório da Feira, às 16h30min. Também estará à disposição o romance O tal Eros Só, Osso relato, lançado em abril.
Apareçam!!!

terça-feira, setembro 21

O chamado do twitter

“Juíza ‘batiza’ mulher sem nome”. “Mudinha confessa tudo”. “Acrobata dorme no trapézio” e o “Padre ‘vende’ igreja”.
Entrar no twitter será acabar com estas boas recordações das aulas. Não quero ainda decepcioná-los, atuais e ex-alunos. Fiquemos pra nós com o “Isso não é Jornalismo”, com o bah, pô!, “a cobra que mamava”. O putz! para os títulos genéricos. Guardemos para sempre entre nós o título que não repete a cartola.
“Muito ruim este texto”. “Não temos notícia”. “O que importa é o ser humano”.
Alunos, meus amigos, não insistam. Entrar no twitter é cair na redundância, no lugar-comum da chaminé com um cara entalado. E ter de usar o delete, quando nunca usamos borracha.
Fiquemos ainda com os textos riscados, a “edição” em vermelho, a letra miúda à margem, a metade dos meus salários gasto em canetas. Em verde, azul, milhares de tweets à margem. Sim, porque aqueles recados entre os espaços duplos era já escrever limitado, às vezes pedindo desculpas.
Entrar no twitter, por isso, é recontar caracteres. É tornar público o “segredo da pirâmide” (o cara que furtou chocolate, o delegado do quarto parágrafo).
No primeiro, o velho “lead”, que o Noblat inventou de matar e a gente ressuscitava. “Vá vender um novo parafuso sem o Lead! Você fica desempregado”. O Lead garante emprego, ele é contra dor de dente, saldo no banco espetado, segurança ao casamento.
Busque sempre um bom começo, claro. Seja direto, não esqueça da premissa, a boa frase de passagem.
Em seguida (lembram?), vem o histórico: breve, conciso, situando ainda mais o assinante, que o leitor é de Marte, não sabe nada.
Vamos às falas. Agora é o terceiro parágrafo. O espaço das fontes — e a fonte vai falar “como gente fala”. Dê as duas versões do fato, a cada lado a razão que lhe cabe. Não ultrapasse duas linhas. Não vulgarize o que vai ser dito.
Pô!, texto confuso. Bah, não tem nem o arremate, parece até “brizolismo”. Seja propositivo, não tem bláblá ou lengalenga. O texto opinativo exige solução, respostas, ninguém compra jornal para ficar na dúvida. Não pergunte. Proponha.
Proponha ao seu velho amigo que entre no twitter.
Mas, ah, estimados alunos, entrar no twitter é pior que linha de apoio. Talvez demore um pouco. Ela não está zerada.

quarta-feira, setembro 15

E agora, Joseh?

Durante a semana, a Renata Sirtoli postou no seu twitter a indagação que é o título da crônica. É a grave questão de um poema de Drummond perante as dificuldades. Na verdade, era um José sem o “h”, que acrescentei para indicar como se grafa a acentuação na internet.
É que a Renata é exímia em internet, no twitter (ela fez a sua monografia sobre isso). E ela é recém-formada em Jornalismo. E eu pensei: está indagando por causa do mercado de trabalho, as escassas oportunidades, a questão do diploma.
E agora, José?
São os dilemas da vida, Renata. Eu, por exemplo, recentemente enfrentei dois obstáculos. O primeiro: como dar a minha opinião sobre o excelente Intercom, organizado pelos meus colegas na UCS, sem que parecesse bajulação?
O segundo, ressurge desde 2007, quando fui patrono da feira do livro: querem saber minha opinião sobre os novos escolhidos. Com relação ao Intercom, resolvi da seguinte forma. Escrevi no site que mantenho. Se o leitor tiver interesse, digita “Vitrola dos Ausentes” no Google, que cai direto.
Quanto ao Marcos Kirst patrono. Claro que é uma boa escolha. Além de ser dedicado aos livros, continuará nessa vida, porque isso é um vício. Será um patrono que publicará ainda muito. E o Marcos é meu amigo. Editor do Sete Dias, foi quem me convidou para escrever no Pioneiro. Quando lancei O Tal Eros Só, e constatei alguns erros, foi ao Marcos que recorri para saber se achava “grave” o que ele chamou de “probleminhas”. Quer dizer, considero o cara.
E quem seriam outros patronos, me perguntam. Eu cito três (vejam o dilema, existem outros): Iotti, Francisco Michelin e Lisana Bertussi.
Iotti porque é um propagador da cultura caxiense há anos. Michelin, porque eu era ainda pirralho em Bom Jesus e ele já escrevia em jornais, além de ter vários livros. E Lisana tem produção acadêmica na área do regionalismo, inclusive ficção.
É isso. Temos os nossos momentos de impasse, de “e agora, José” quase que semanalmente, viu Renata.
Ah, e se o teu “Agora José” referia às dificuldades de trabalho mesmo, convida as colegas, abre uma Assessoria, investe nas Redes Sociais para empresas. O mercado te espera, Renata.

domingo, setembro 12

De Belém a Manaus. De Bauru ao Recife. O Brasil na UCS.

Seguramente, vivenciamos na semana passada o maior evento de Comunicação já ocorrido na cidade e em 40 anos de Universidade de Caxias do Sul. Foram quase 4 mil pessoas que, em cinco dias, trocaram conhecimentos e confraternizaram em vários sotaques: havia gente de Belém a Manaus. De Bauru ao Recife. O Brasil inteiro.
Tivemos aqui a maior concentração de pesquisa acadêmica, grandes nomes da comunicação, e não só brasileiros. Os americanos vieram para troca de experiências. Um deles, Robert Picard, lançou livro sobre a sobrevivência dos jornais impressos.
Houve oficinas, palestras, comunicações, encontros de grupos de pesquisa. Marcelo Canelas, da TV Globo, comoveu com sua reportagem sobre a fome. José Marques de Melo, o decano da comunicação, o idealizador do Intercom, ganhou aqui a sua biografia. E também “ganhou” a todos dançando a “bela polenta” com os jovens.
Juventude, aliás, que era o tema do congresso. A juventude protagonista das novas tecnologias, e que recebeu Lúcia Santaella, estudiosa da semiótica, homenageada pela maturidade acadêmica.
Enfim, os jovens tomaram a UCS e apresentaram mais de 200 trabalhos (o chamado Expocom, que abre espaço para a pesquisa dos alunos). Por isso, diante de tanta oferta (o bate-papo com os chargistas, as discussões sobre cibercultura, e-books, tv digital, os destinos do rádio, as novas possibilidades para as Relações Públicas, os novos recursos para a Publicidade), o Intercom foi nota 11. Foi um acontecimento cultural ofertado pelo Antonio Hohlfeldt, seu presidente, que pela primeira vez deslocou o congresso das capitais. E a Caxias interiorana deu conta do recado.
Valeu, professora Marliva Gonçalves, Elaine, Maria Lúcia, Najara, Tassiara, toda a sua grande equipe, professores, alunos, voluntários, que organizaram este evento.

quarta-feira, setembro 8

A desordem de Caxias

Agora que estamos próximos das comemorações da Revolução Farroupilha, se pode lembrar que esta não foi uma “façanha” que serviu de modelo a toda terra, ao Brasil pelo menos. A Revolução Farroupilha (1835-1849) é contemporânea de várias revoltas que aconteceram durante o Período da Regência. A Cabanagem, por exemplo, é de 1835 a 1840. A Sabinada, 1837-1838. E a Balaiada, de 1838 a 1841. É sobre esta que Caxias tem ligação.
Com o algodão dos Estados Unidos em melhor oferta, o Maranhão, que sobrevivia disso, entrou em crise. E se tornou solo fértil para que os trabalhadores explorados, entre eles muitos escravos, se revoltassem contra o sistema dos “cabanos” conservadores. Em 1839, artesãos (entre eles um de apelido Balaio, que seria o líder da “Balaiada”), lavradores, vaqueiros invadem Caxias, a segunda cidade do Maranhão.
O derramamento de sangue e o inferno em que se transformou a cidade é narrado depois pelo filho ilustre de Caxias, o poeta Gonçalves Dias (aquele do “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá”). O poema, intitulado A desordem de Caxias, está no Segundo Cantos, e foi escrito em 1848, quando Gonçalves estava exilado em Portugal. Diz:
Do vulcão popular a lava ardente/ Sob os trépidos pés soluça a terra/ Sobre as cabeças pávidas volteia/ Ou rocha em brasa, ou condensada nuvem/ De pó desfeito, que resseca os ares/ E dentre aquele fumo e aquelas chamas/ Naquele horror e medo, estátuas vivas/ Sinistro lampejar de armas descobrem:/ Descobrem longe os tetos abrasados/ A pouco e pouco esmorecendo em cinzas”.
A Balaiada (que terá depois da invasão de Caxias ainda episódios marcantes, como a rebelião de 18 escravos da barca Laura Segunda, na costa do Ceará. Eles tomam a barca, encalham e acabam presos; seis deles enforcados) será abortada mais tarde pelo então coronel da província do Maranhão, Luís Alves de Lima e Silva, que por pacificar a região, ganhou o seu primeiro título de Barão de Caxias.
Caxias, no Maranhão, é uma homenagem à freguesia de Caxias, pertencente a Oeiras, em Portugal. A Caxias portuguesa tristemente é lembrada por ser o local para onde mandavam os presos políticos da ditadura de Oliveira Salazar.
No Brasil, no Amazonas, se encontram lugares com o topônimo. E há Duque de Caxias, no Rio. No Paraná é nome de ribeirão. Aqui, no Rio Grande, Caxias (que também “pacificou” os Farrapos, e bem mais tarde virou patrono do Exército), é a cidade que aí está.
Crônica no Pioneiro.

quarta-feira, setembro 1

História da poesia de Caxias

João Spadari Adami, o barbeiro que nos deixou uma História de Caxias do Sul que não tem preço, revela mesmo uma espantosa capacidade em coletar fatos e documentos. Entre a sua grande produção, num sugestivo título, promete: História da Poesia em Caxias do Sul.
Pô, pensei. Como não conferir isto?! E fui ver.
De fato, um dos seus volumes sobre a história de Caxias do Sul traz capítulo sobre a poesia. E que o há de “livro” mesmo, é uma “separata”. Isto é, aquele mesmo capítulo do livro, editado em publicação avulsa.
São seis páginas apenas. Mas é o que basta. É o que há de mais concreto e relevante sobre os poetas caxienses do passado. João Spadari Adami começa nos dando notícia dos desafios em versos de três funcionários da Comissão de Terras à época da imigração: Bento de Lavra Pinto, José Bernardino dos Santos e Carlos de Lavra Pinto. Eles se reuniam num salão de bilhar e chegavam a escrever versos nas paredes.
Mas Adami, lá com seu critério de buscar em jornais, não os considera os pioneiros da poesia caxiense (embora Bernardino pertencesse ao poderoso Partenon Literário de Porto Alegre). O pesquisador, a partir do jornal O Caxiense, de 1897, descobre ali José Barros Cobra, que publicou na imprensa a primeira poesia, “sendo, por conseguinte, cronologicamente, o primeiro poeta caxiense”.
Barros Cobra era o pseudônimo de José Michel, provavelmente um funcionário público, que não nascera em Caxias. O primeiro filho da terra a publicar seus versos será Antônio Casagrande, que tornou público, em 1900, no jornal O Cosmopolita, o poema Despedida de Caxias.
Perceberam a importância da pesquisa? A partir de “jornais emprestados”, Adami compõe a trajetória da lírica caxiense, destacando na sequência nomes como Jerônimo Neves, Vivita Cartier, Antonieta Saldanha, Luís Miler, Vico Thompson, Olmiro de Azevedo, Frontino Mesquita e Ciro de Lavra Pinto.
Entre os dados curiosos do levantamento, a presença entre os poetas de D. José Baréa, primeiro bispo de Caxias.
A pesquisa, “espinhosa missão”, segundo o próprio Adami, vai até por volta de 1960. E é fundamental para que se estude também a Literatura de Caxias a partir daí. Pesquisadores, professores, estudantes, autores de Caxias precisam ter acesso a esse material.

Crônica no Pioneiro.