Texto para assobiar
Enfim, o Aníbal, que depois reencontrei na UFRGS, falava de Machado e Nelson Rodrigues nos almoços do Bar do Antônio. O Aníbal, que é parente de um dos maiores intelectuais do Rio Grande da velha guarda, Athos Damasceno, traz de família o gosto pela cultura. Foi Aníbal quem primeiro valorizou Qorpo Santo, ainda nos anos 60, o dramaturgo gaúcho mais criativo de todos os tempos.
Depois, Guilhermino César tratou de notabilizar Qorpo Santo. Mas foi Aníbal quem primeiro enxergou o inovador, o inventor do nosso “teatro do absurdo”.
Pois bem. Coincidiu à época da UFRGS, dos papos no Bar do Antônio (dos quais também participava Luís Augusto Fischer), de eu aproveitar para escrever Vitrola dos Ausentes. Fischer leu os originais. Aníbal, ao ler, não gostou muito. E saiu com essa: “teu texto não dá para assobiar”.
Mas, como? O cara que descobriu o Qorpo Santo tinha encaretado? Queria um texto linear e comportadinho, nos moldes?
Era o Aníbal. E sempre me cobrou um texto que desse para assobiar, à medida que eu escrevia outras coisas.
É do Aníbal que lembro agora quando sai este Que forças derrubaram o ciclista?, que está na coletânea Tríptico para Iberê recém-lançada.
Certo. Para quem leu até aqui, esta crônica é daquelas que não agradam, fica em torno do próprio cara. Mas agora talvez se justifique: estou falando em causa própria, porque sempre paguei o preço dos rótulos, de ser experimental, não compreensível, de fazer textos difíceis.
Que forças derrubaram o ciclista é, portanto, o texto que dá para assobiar. É simples, linear, um ensaio sobre quem também, paradoxalmente, escrevia simples: o surpreendente escritor Iberê Camargo.
Neste sábado, às 16h30min, na feira, haverá o lançamento da coletânea e mais bate-papo. Convido a todos!
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