quinta-feira, agosto 31
quarta-feira, agosto 30
Não apaguem as vitrines
Amar como se ama nos portos
De boa pessoa à louca, desvairada, doente, é o amor aos borbotões
O amor faz arrepender
leva a bobagens,
dar carinho por raiva
a usar como nunca se usou o próprio amor
Mas o amor quando assim exige
já é apenas amar como se ama nos portos
(amor de marinheiro, fuga sem pressa, 1% de amor só).
pr
segunda-feira, agosto 28
Não rogue
Não rogue sorriso a quem te amarelou
Não rogue o mal, o azar
Não rogue aos céus o que é de bem
Não rogue a morte, filha da vida
Não rogue tua vez, será intromissão
Não rogue o ar
que os pássaros não pedem
Não rogue
Não rogue nem pensar
Não rogue aumento,
pouco
menos
trabalho
direito
Não se arrogue em preces quando é teu dever
Não rogue boa música se os chatos comandam
Não rogue nada, igualdade, o que seja
três vezes
...
como um galo bíblico
não rogue!
pr
domingo, agosto 27
sábado, agosto 26
Um conceito, um legado
Trecho de nosso Ensaio publicado hoje no jornal Pioneiro, revista Almanaque. Para acessar www.clicrbs.com.br
quinta-feira, agosto 24
quarta-feira, agosto 23
A confidente
Cenara era boa vizinha
Virgínia conheceu Zé Sachetto
Jurema casou com coveiro
Eliana e a paixão por polaco
Sirlei que engomava camisas
A Laura ficou com Alfredo
Odete sumiu da cidade
Marta Lima pedia desculpas
Selene e um sírio solteiro
Odete andou meio mundo
E a Mudinha mandava notícias
terça-feira, agosto 22
Quebrem as esquinas por mim
que eu parti
Quebrem as esquinas por mim
que eu, bêbado, nas noites do meu lugar já quebrei
Quebrem as esquinas por mim aí,
mas não melancolicamente,
quebrem fazendo gracejo, quebrem por amor
Quebrem as esquinas do meu lugar
não tristes,
que a tristeza é um dom herdado quando se sai
Quebrem as esquinas sem lágrimas,
em altos brados,
com a alegria de quem ficou
Eu deixo a alegria de vocês preencher a minha ausência
novos bêbados
adolescentes
novos sonhadores do meu lugar:
gritem alto!
não deixem a cidade,
vácuo estrelado, a pensar:
os seus filhos que partiram...
os seus filhos que ficaram,
quebrem as esquinas por mim.
Andem!
segunda-feira, agosto 21
Aprendiz do repouso
Repouso é pousar a alma na palma da mão. No edredon, na linha do tempo que não se esvai. Repouso é quando o ser coagula, sangue parado, no bem quente se é frio e ficar assim.
Na ressaca da gripe, na gangorra do bem-bom. Do mimo, da cisma de não levantar pro café.
Repouso não é doença, é cura. Repouso não é rock, é valsa, sinfonia, um adágio sem pé. E nem cabeça, é o tronco da canção que se pode admirar. Bem no meio da tarde é ficar estendido no sofá.
Repouso.
Repouso é vidão, massa mesmo, repousar com cachaça é o melhor! Um gim, a tônica, um campari, quem não pensa na praia do ano que vem?
Repouso é desempregar recebendo. Repouso remunerado vai cair num cuecão. Nossos dólares afastados, dinheiro pra repousar. Bem suíço, o que seja, é dinheiro fora de circulação.
Isso é repouso. Ficar de fora, de papo, é estender a gaiola do pássaro pro pássaro fugir. Repousar as asas no sol, atravessar a nuvem bonita e depois voltar. Repousar no alçapão.
Repouso é retorno. Quem volta sempre pede pouso, dá oi, de casa!, será que posso entrar??
Pro pouso possua a senha: é ser tranquilão! E pouso dobrado é quando se diz assim: RE-pouso.
Quando se briga, repousa o amor. Por isso reemposse, espose, vá se casar outra vez. Pra ver como é bom.
Ser casado e caseiro é uma forma de adormecer melhor. É se recolher às 9 e repousar sem dormir. É a hora de encomendar um filho a Deus!
E repouso no ventre é semente, o começo. E depois que se sai aos tropeços é tratar de aprender: o repouso, até morrer.
pr
domingo, agosto 20
quinta-feira, agosto 17
quarta-feira, agosto 16
Carta sobre a amizade
Trechos da carta de Raul Kramer Borges, que por algum tempo atuou como membro da ONU, no Oriente Médio, tentando a paz entre árabes e judeus.
Faz parte da crônica de hoje. Para ler, www.clicrbs.com.br, jornal Pioneiro, colunas e charges
terça-feira, agosto 15
segunda-feira, agosto 14
A visão que N. Sra. de Pompéia teve de mim
O residente tinha o semblante grave e uma pose de coragem que os veteranos também tinham, mas não queriam mostrar.
Frágeis eram pra me dar o soco!
E eu, que já andava assim de longe, sorrateiro, orgulhoso, envergonhado, na Capela entrei.
Da rua nem se imagina, mas o Hospital Pompéia tem uma igreja interna, encravada, é como uma tentação quando se passa ali... Dá vontade de entrar!
Água no pescoço? imã de fé?, o fato é que naquele dia eu fui.
Só. Exposto à santa e Jesus!
Por isso, quando me perguntam (sábado até insistiram!), se acredito em Deus, eu fico desse jeitão...
pr
sábado, agosto 12
Quando o amor anoitece
nós não somos mais os mesmos,
nossos olhos não mais brilham,
me disse depois.
Choro e não é por ti, meu garoto!
Balanço,
não me chame mais de amor!
Xingou sequer.
Quando não se xinga, deu
Passou, não chorou como eu
a noite acordada era pra pensar,
disse descabelada,
sim, queria ter a graça de conhecer um outro alguém
Sacou?
Saquei!
pr
sexta-feira, agosto 11
A Rosa
A Rosa Marmelo tinha temor a Deus desde um dia que uma criança dela perdeu.
E um filho nascendo morto, pra uma humilde, era o maior pecado do mundo.
Se culpava. Deus, não fiz por querer, o Adair.
Torrar café
Porque vaidade pra ela não prestava e, quando se via apertada, inventava de agir assim: de dizer pra alguém que ela ia torrar café e ia torrar café e saía dali.
Excerto de Cozinha Gorda
quinta-feira, agosto 10
Cozinha Gorda
Trecho do novo livro, ilustrado com a gravura A Cozinha Gorda, de Pieter Brueghel, o Velho, 1763
Cozinha Magra
O Seu Vantuir Fayet dizia com metade da mesa pra ele e o seu olhar adormecia de infelicidade.
O Seu Fayet dizia que a vida continuava e quem sabe também ele não ia passar de cadeira de rodas.
Mas isso não te diminui, pai, a Avany lhe dizia. Pense mais na religião.
A Rosa suspirava na pia, mas não se virava.
Trecho de Cozinha Gorda, a novela, com gravura A Cozinha Magra, de Pieter Brueghel, o Velho, 1763
Cozinha Zero
Trecho de hoje na Contracapa, coluna de Roger Lerina, Segundo Caderno, Zero Hora
terça-feira, agosto 8
Presa, não pressa
Hoje, Caixa de Sapatos só mesmo o livro de Carpinejar.
Mas continua ainda esta ânsia incontornável de se escrever e logo mostrar.
Porém, mais que pressa, me vejo uma frágil presa deste computador.
pr
segunda-feira, agosto 7
domingo, agosto 6
Da solidão
E eu, bah!, logo afasto estas bobagens de “manias” que se pega, estas tolices de isolamento pra escrita, essa lenda de cuecas no chão espalhadas. Ser ou estar sozinho é pior coisa do mundo, a pior coisa que pode existir é a solidão.
O escambau que não é!
Ouçam bem: viver sozinho é sobra e eu nada entendo de sobras, não sei o que fazer com restos de pão!
Ah, isso de sacudir a toalha depois de uma refeição feita só! É um momento forte da vida, asseguro, dato e assino!
Cristo mesmo deu uma olhadela pros lados e viu que por ali havia doze. Mas, ah!, uma mesa só...
Bueno, outra mentira tosca que circula sobre o homem sozinho é que ele desaprende a chorar, fica seco.
Uma ova!
A experiência de solitário me ensinou três coisinhas: não deixem o homem sozinho depois da perda de pessoa querida; não deixem este homem sozinho ter um amor à distância; não deixem este homem sozinho fazer carnê pra cortinas.
Não fosse a minha mula manca, esta sinusite de novo, eu, animal assustado, sairia andar no Centro!
pr
sexta-feira, agosto 4
quinta-feira, agosto 3
Iberê total e o prêmio
Nesse sentido, o Catálogo Iberê é fonte indispensável para quem se interessa pelo artista e pela história da arte brasileira.
Além do projeto de catalogação, a Fundação Iberê Camargo - cuja nova sede, em construção em Porto Alegre, tem projeto arquitetônico assinado pelo português Alvaro Siza - dará continuidade à parceria com a Cosac Naify através da publicação dos ensaios sobre a obra do artista, de Paulo Ribeiro, Laura Gomes de Castilhos e Daniela Vicentini, vencedores do "Prêmio Iberê Camargo", instituído pela Fundação.
Saiba mais em:
www.cosacnaify.com.br
quarta-feira, agosto 2
Contando o rosário
Eia!, eu disse meio pra dentro, fica com Deus!
Até ontem eu só escrevia no messenger, mas internet aceita tudo, quero ver chegar e dizer.
E fazia um tempão que eu não usava esta frase. E eu disse: Fi-ca-com-De-us!
Tomara que ninguém tenha escutado, porque era só pra você, mulher.
É que eu fiz um pedido pra Deus que pode virar risos, que Deus te ilumine!, e publico aqui no jornal: essa pessoa me deu amor e me deu carinho e me valorizou, eu sou um louco mesmo em contar.
Mas, quando se cruza uma pessoa tão boa, fazer o quê?
Do fundo do meu coração, que Ele sempre te guie, proteja, olhe em tua volta, e é só isso aí que rezei.
Tá vendo!?
É diferente de se desejar automóveis, presentes, muito dinheiro, isso é a coisa mais simples que sempre sai.
Mas, agora, trazer um desejo bem fundo, de dentro, tencionar que a pessoa se alegre, é o que não se acha mais.
Quando se faz, parece Feliz Natal. Quando se diz, já vai dum ouvido saindo por outro.
Só que desta vez eu espalhei. Para todas, que é como você se reconhece aqui.
Crônica publicada hoje no jornal Pioneiro