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segunda-feira, dezembro 21

Retrato de Natal

1) A casa do Rufino era a casa do DAER. O DAER dava até casa pra morar. A casa do Seu Rufino depois ficou fechadona por lá. Pra cima um pouco do Curtume, no que passava a pontezinha do Alemão. O Borghetti distribuía lenha aos pobres, restos de araucária, bastava ter um jeito de ir buscar. E no tempo do Natal havia uns galhos ainda com grimpas na lenha e era o pinheirinho de Natal.
2) Eram galhotas, mulher velha com netos, camionetas, subiam a avenida, seguiam na direção do Seu Dilson Martins. Construtor, o Dílson foi quem levantou o edifício dos De Boni, primeiro grande prédio que de perto eu vi. Também num Natal veio o prédio dos turcos com a sua loja e nunca mais teve prédios em Bom Jesus. Apenas casas, cada uma por si. Cada uma em seu lote, e o que mais tem hoje no Bonja são terrenos baldios.
3) As casas também abandonaram seus lotes, foram morar atrás de quem partiu. Decerto. Uma casa sem portas e janelas não tem sentimentos. Casa de boa índole, com gerânios em latas de ervilhas nas janelas, com pinheirinho lá dos Borghetti são casas de partir. No sentido de partir mesmo, de rachar coração sem mais Natal.
4) De Bom Jesus, que me lembre, lá vinha o Hermeto buscar o jornal. O Hermeto busca ainda hoje as notícias do mundo pra dentro de Bom Jesus. É uma forma de viver enquanto não vende tecido. O Hermeto vende pouco, quase nada, desde o tempo do Vietnã. E persevera.
5) Havia cachoeiras e água atrás do hospital. Pausa para um sorvete. O Tio Purça ficava na sorveteria e bebia cervejinha com os cotovelos no balcão. Parece que não tinha Natal na casa dele e se dizia um filósofo. Sartre. E agora com vocês, descubram quem é? O Teixeirinha. Para o Tio Purça, Teixeirinha era quem não sabia da vida o melhor.
6) O Tio Purça era racional e na escola frei Geraldo uma fileira de Congas era o que se tinha de melhor. Congas brancas, desbotadas, alguém na estreia de uma Conga Azul. Batizavam a Conga com um pisão. E se ouviam gaitas como nos rádios (primeiros grandes artistas que de perto eu vi). Um triunfante Guilherme Tell nas acrobracias de um circo que por lá passou. E a mulher do Robatinni levou com raiz e tudo uns copos-de-leite de Bom Jesus.

Crônica para o Pioneiro de quarta.
Desejo a todos que visitam o blog um bom Natal e um 2010 com saúde e trabalho.
Volto em janeiro.

sexta-feira, dezembro 18

Maquete para a próxima crônica


Querida, murcha lembrança neste fim de tarde estourado. Meu espírito não está para livros. Meu espírito se preserva das figuras que vejo na janela olhando para os lados do Bonja. Nos reflexos dos faróis, no começo da noite como aquela mesma madrugada de capuchos de neve em que retornamos pela estrada do Sol. Chegamos em Bom Jesus. Pela primeira vez eu em Bom Jesus com você morta. Seis anos já. Sem presépios, sem mais casa, seis anos já de ausência e não começarei as férias como se começavam as férias pelo Bom Jesus de teu tempo.
Um homem se preserva ao se afastar de suas ideias e se se aguenta bem com a saudade. Estico o braço, vejo a temperatura quente, uma distante baliza de Autoescola, que aliás cumpri a contento. Deleto agora já restos de textos do ano da graça de 2009. Passo à noite. O desenho que me convença de uma possível crônica longe desta Poética da vida campeira que me persegue. Bonja em seu tempo. É preciso ser moderno e é preciso evitar a crônica de uma página sobre os teus analgésicos.
Falemos de coisas amenas. Mas de quê? Um longa-metragem sobre o Vitrola sem verba, roteiro inacabado? Também isso não rende a crônica e é preciso a maquete no processo.
(Parábola da Pata-Choca, sorriso que vem do escárnio. O Quadro da Lanterneta e o baita azar da cegonha. As nossas preces em macumba e a cobra do couro rajado.
As tristes botinas no MASP. Um Hino ao Contrabando. Bom equilíbrio ao dinheiro e as pernas boas da moça.
Polígrafos que vendem aos quilos e a falta total de ideias.
O pensamento constante tremula em bandeiras do Bonja. Duas vezes já teu título sem uso. O Tópico II dos Cachimbos e a invocação da Morena Crespa.
O giro que faz a bússola e a geometria do carro.
A valsa com muita técnica e a grávida com pouco inchaço.
Os fundamentos perdidos, exige baliza a Carteira.
O Livro de Deus aos Defuntos. A Bíblia dos Desvalidos.
E a sátira que fazem os morcegos ao se baterem no vidro
). Sobre isso escrevi em 2009. Por isso a maquete em socorro: o Arroio Dilúvio, o caminhão verde e a lenha para os pobres. A casa do Seu Rufino. O Curtume. As Congas da escola Frei Geraldo. A mulher do circo e os copos-de-leite. D. Isaltina. Teixeirinha F. C.
A crônica por fim vem nascendo. Leiam no próximo post.

Noiva crespa


quarta-feira, dezembro 16

O pianista rindo

É possível pescar aí na Internet Harpo em dueto com Chico (Chico Marx era excelente pianista, enquanto Harpo se virava mesmo com a harpa, daí o codinome). No dueto, que é dos momentos memoráveis da história do humor, eles tocam... (bem, confiram no texto abaixo). Num outro vídeo, se vê Harpo literalmente destruindo um piano enquanto executa Rachmaninov. É o pianista rindo do caos de ruídos, sem perder um segundo a nota.
Harpo escreveu uma autobiografia que intitulou Harpo fala. Genial, porque ele se notabilizou nos filmes dos irmãos exatamente por nunca falar. Harpo era hilário, tapava a cabeça com uma peruca desgrenhada e fazia suas “gags”. Ao lado de Chaplin e Buster Keaton, os Irmãos Marx são reconhecidos como os comediantes de maior espirituosidade. Das situações mais sérias ou corriqueiras tiravam saídas geniais. Influenciaram gerações.
Como homenagear Harpo aos 90 anos do primeiro filme dos Marx? Com um palíndromo, porque escrever de trás pra diante tem muito a ver com as interpretações dos três irmãos. E este tipo de escrita é mesmo propício ao humor. Leiam o texto que segue, de baixo para cima, da direita para a esquerda. É Harpo no Brasil.

Ó, pra Harpo
É piano. Ressona e baba lá o caos. Às. E na tuba “Mamãe eu quero”. O fanho onha fó. Ré. Só gagues. É Jô. Harpo é o zarpar. Humour.
És o “mi” no nisso o teu dom. E piana. Sorri. PS: é a cidade mi. Fax, ramal, o apagão.
“Refeijão?” “É nome?” “Em rodelas.” “Ué, como boi, dê aí...” “A diva ou cavaco?” “Ambos.”
Arte letra, ah, na manha, ó!, pra Harpo.
Ari é só, bá, bazófia: “Ramo?” “Do mar, robalo.”
Ô, leseira, e ira. Ari é Ari. É sê-lo.
Ô, labor. Ramo do mar. Aí, foz, a baboseira.
Ó, pra Harpo!
Ah, na manhã, arte letra. Sob má. Oca. Vácuo, a vida.
“I, ae, Dio bom, o Céu?” Sal e dorme. Emo, né. Ô, a Jiefer, o ágapa.
“Olá, Marx, a fim?”
É. Dá dica. Espirrosa, naipe. Mó dueto: os sinônimos. (É. Rúom. Úhr!) A prazo é o pra hoje. Seu gago ser, o fanho onha fó. O réu que é. A má (má!) butanesa. Só acoa lá. Babe a nós ser o naipe.


Crônica no Pioneiro de hoje.

terça-feira, dezembro 15

Crespa II


segunda-feira, dezembro 14

Crespa


sexta-feira, dezembro 11

O Grama Cerebi


Deve sair no começo do ano que vem o livro sobre Iberê Camargo (à esquerda)resultado do 1º Prêmio de Ensaios da fundação que leva o nome do pintor. Além da pesquisa do escritor e jornalista Paulo Ribeiro sobre o artista, a obra traz textos de Daniela Vicentini e Laura Castilhos.
O volume reunindo três ensaios e batizado de Tríptico para Iberê Camargo fará parte de uma coleção em que também serão publicadas as duas obras escritas por Iberê Camargo: Gaveta dos Guardados e No Andar do Tempo. A edição será da CosacNaify.
Autor fascinado pela experimentação narrativa, Paulo Ribeiro também lançará em breve O Tal Eros Só (Osso Relato). Trata-se de um livro palíndromo, cuja segunda parte deve ser lida de baixo para cima, da direita para a esquerda. A publicação será da Belas-Letras, editora de Caxias do Sul.
Dá só uma olhada em um trecho dessa viagem linguística:
"A ti, Feola. Apita a bola. E Pelé recua. Ô, partidas, ô, chicotes. Áureo. À folha gota. À seca. Arde pano de pé. A! Vive a fal dele. Ala Fluzão. Afama e pé. A!, papa de Aninha à loba. Ô, tá na cara, meu. Ôa, Melo! O Lenich a mundiar o golo. Lá, tô. E salta. É ala. A! Levita na cuca. Olho. À caixa. São e osso. 1 a 1. E reze. A! Toca! O Zôle, vá! E de rosca, Omero. O gol, ô!!! Adivinha. Ô, azar bom! A-ra-ru-a! O Rodemônio! O céu passado. Tu e o das 11. O do Taurus. O do Taurus e a moto. O trom, o tim, Ortunho. Morto Zôle, vai à sauna o tal Eros. Só relato: a nu, a!, saia veloz o trom. Ôh, nutro mito morto. O tom, a!, é Surú a todo. Surú a todo. 11, Sá? Doeu? Todas. Sá. Pú! Eco. Oi, no medo. Rô: aura, ramo? Brazão. Ah, Ni! Vida. O logo. O Remo A.C. Só rede. A! Veloz, ô! À cota e zere. 1 a 1. Osso. E ao sax ia caolho. A cuca a ti vela. Ala. É Atlas e o tal. O logo Raid numa chinelo. O lemão. Ué! Maracá nato. A bola, ah, nina e da papá. E pé. Ama fã. O azul fala. Ele, dela fã, e viva! É pé do... Na pedra acesa. Ato galhofa. Ô, é a rua! Se tô chic? Ô, Sadi Trapo. Aú, Cerelepe! À loba, à tipa. Alo, é fita."

Postado no Bloger Lerina, do titular da Contracapa de Zero Hora.

quinta-feira, dezembro 10

Mulher crespa esperando o Sol


quarta-feira, dezembro 9

A erosão que edifica

Por mais que se diga do amor, em múltiplas formas, nas várias línguas, a pluralidade que alcance, ao fim, ele é ausência. A conclusão parece cética, crua, não fosse possível estendê-la ao olhar dos poetas. Aí, o indecifrável rende. Suponhamos a premissa: “O amor é a erosão da ausência”. Isto é, o esboroar da solidão, logo, a relação (in)completa.
Não há nada mais universal do que a relação amorosa. E vou já citar o poeta: “Não sei inventar mistérios/nem criar novos enredos. Não sei desenhar mapas/nem multiplicar segredos... desde sempre escrevo.” Quer dizer: o tema ultrapassa os tempos e sobre ele versaram. É com esta constatação que João Claudio Arendt vai nos conduzir no seu primeiro livro Plural da Ausência.
O amor e o tempo. Como conjugar isso? Indicar, além disso, certa posição para os amantes. É, talvez, a matéria mais difícil, porque, ao mínimo deslize, se cai no piegas. João Claudio sai bem do desafio, provavelmente pela sua condição de quem conhece a poesia por dentro (é professor de Letras). E se percebe mesmo em sua poesia estratégias apreendidas do romântico Junqueira, de Bilac, dos modernos Drummond e Vinícius. E nem estou a vasculhar se há Homero (quem sabe é um Ulisses em seu retorno a percorrer o poema-longo). Mas há algo de Ferreira Gullar (ecos de Traduzir-se), da lâmina de João Cabral, um clamor pessoano a pedir que contemos as nossas desditas (próprias ao amor) e não as glórias. João Claudio organiza um longo-poema que vai como as águas, atento à ânsia. “Não colhas a rosa/antes do botão. Nem comas o fruto, antes da maturação. A espera poderá ser longa/e mais longa a decepção”. É um alerta tipo Ovídio.
Há coerência entre o que escreve e o que pensa das relações. Não há poemas desprendidos, há um conjunto na erosão. Essa noção de espaço e tempo (Quero, na hora precisa/do poço/a sede constante), este “sistema” organizado de Plural da ausência é o que também afasta João Claudio daquela poesia erótico-amorosa que enfileira poemas para apenas explorar o corpo, ou chorar um amor perdido.
A noção de sistema, a construção que sabe aonde chegar, não ao ceticismo, mas à evidência, é o mais singular deste Plural da Ausência.

Crônica no Pioneiro de hoje.

terça-feira, dezembro 8

Mulher com chapéu olhando a Lua


segunda-feira, dezembro 7

Mário Bortolotto

Quero registrar minha força ao Mário Bortolotto, em estado grave depois de ser baleado durante assalto em São Paulo. Recebo sempre seus mails convidando para peças, pois Bortolotto, além de atuar e dirigir, é talvez o nosso maior autor (seu texto mais conhecido é Nossa Vida Não Vale um Chevrolet). Seu blog Atire no Dramaturgo, agora uma trágica ironia, é dos mais interessantes.

quinta-feira, dezembro 3

tríptico

A obra do pintor gaúcho Iberê Camargo ganha nova publicação no início de 2010. O livro terá participação do escritor Paulo Ribeiro, que publicará nele uma pesquisa sobre o pintor-escritor. A obra também terá textos de Daniela Vicentini e Laura Castilhos. Tríptico para Iberê Camargo é resultado do 1º Prêmio de Ensaios da Fundação Iberê Camargo e fará parte de uma coleção onde serão incluídos dois títulos do próprio Iberê, Gaveta dos Guardados e No Andar do Tempo. A edição será da Cosac Naify. Ribeiro também é um dos contemplados com o Financiarte 2009, com o projeto de um livro palíndromo, intitulado O Tal Eros Só (Osso Relato), que será publicado pela Belas-Letras.

Coluna de Carlinhos Santos, hoje, no jornal Pioneiro.

quarta-feira, dezembro 2

O desconhecido em Sobral

Conversar com o Aníbal Damasceno no Bar do Antônio era das melhores disciplinas na UFRGS. Com ele, também partilhava a mesa o Luís Augusto Fischer. O Aníbal, que era professor de cinema, tinha lido coisas boas, por exemplo, Machado de Assis. Com sua argúcia, Aníbal tirava de Machado aquele “ranço” da nossa formação.
E Aníbal gostava também do Nelson Rodrigues. Dizia que as crônicas de Nelson, sobretudo as Confissões, iam além. Elas tinham “humour”, que, antes de ser cinismo, era ironia, e conseguiam assim clarear o mundo que aí está. Por essas e outras, dizia o Aníbal, o Nelson era ensaísta, na melhor linha de Montaigne.
Certa vez, eu não estava nesse almoço, mas o Fischer depois relatou, o Aníbal falou sobre o “fato sobrálico”. Era o seguinte: Einstein, o físico já famoso, lançou uma teoria: que raios de luz, se encontram corpos celestes em seu caminho, são atraídos pela sua gravidade. Houve quem duvidasse e Einstein então escolheu aleatoriamente no mapa uma cidadezinha, Sobral, no Ceará. Ali ocorreria um eclipse e poderiam verificar. Bem, vários cientistas andaram por Sobral, não poderia ser só a palavra de um Einstein, precisam comprovar uma verdade que o físico já intuíra.
Aníbal dizia que faltava ao Nelson Rodrigues, para dizê-lo ensaísta, o seu fato sobrálico. E lançou o desafio ao Fischer. Agora, 17 anos depois, o Fischer lança Inteligência com dor, que anuncia exatamente Nelson como ensaísta. Razão principal: ele ultrapassa os quadrados limites da crônica-Rubem Braga (o populismo com o leitor, o coloquialismo, a ingenuidade e a piada da crônica comum) para enveredar pela reflexão.
Fischer mostra que Nelson desafiava a voz corrente do seu tempo, se encorajava a espantar unanimidades (D. Hélder Câmara), e até simpatizou com o regime, o que lhe rendeu o rótulo de reacionário.
Mas, o que Fischer desvela é a capacidade de Nelson assumir a individualidade do pensar, a coragem de “ser”. Uma das mais notáveis crônicas desse tempo (final dos 60), ele intitula exatamente O ex-covarde. Nela, expõe as tragédias de sua vida, a sucessão de dramas que suportou, o que o deixava livre de qualquer convenção.
E, assim, Nelson pensou o Brasil! Extraiu do conhecido, do seu cotidiano (como Montaigne), o contraponto para o que não sabia. Mediu aquilo que não sabemos em face da realidade — e que isto resultasse numa moral para a nossa história. Fazia Ensaio. Bem como se faz na Física de nosso Einstein em Sobral.


Crônica no Pioneiro de hoje.