Retrato de Natal
2) Eram galhotas, mulher velha com netos, camionetas, subiam a avenida, seguiam na direção do Seu Dilson Martins. Construtor, o Dílson foi quem levantou o edifício dos De Boni, primeiro grande prédio que de perto eu vi. Também num Natal veio o prédio dos turcos com a sua loja e nunca mais teve prédios em Bom Jesus. Apenas casas, cada uma por si. Cada uma em seu lote, e o que mais tem hoje no Bonja são terrenos baldios.
3) As casas também abandonaram seus lotes, foram morar atrás de quem partiu. Decerto. Uma casa sem portas e janelas não tem sentimentos. Casa de boa índole, com gerânios em latas de ervilhas nas janelas, com pinheirinho lá dos Borghetti são casas de partir. No sentido de partir mesmo, de rachar coração sem mais Natal.
4) De Bom Jesus, que me lembre, lá vinha o Hermeto buscar o jornal. O Hermeto busca ainda hoje as notícias do mundo pra dentro de Bom Jesus. É uma forma de viver enquanto não vende tecido. O Hermeto vende pouco, quase nada, desde o tempo do Vietnã. E persevera.
5) Havia cachoeiras e água atrás do hospital. Pausa para um sorvete. O Tio Purça ficava na sorveteria e bebia cervejinha com os cotovelos no balcão. Parece que não tinha Natal na casa dele e se dizia um filósofo. Sartre. E agora com vocês, descubram quem é? O Teixeirinha. Para o Tio Purça, Teixeirinha era quem não sabia da vida o melhor.
6) O Tio Purça era racional e na escola frei Geraldo uma fileira de Congas era o que se tinha de melhor. Congas brancas, desbotadas, alguém na estreia de uma Conga Azul. Batizavam a Conga com um pisão. E se ouviam gaitas como nos rádios (primeiros grandes artistas que de perto eu vi). Um triunfante Guilherme Tell nas acrobracias de um circo que por lá passou. E a mulher do Robatinni levou com raiz e tudo uns copos-de-leite de Bom Jesus.
Crônica para o Pioneiro de quarta.
Desejo a todos que visitam o blog um bom Natal e um 2010 com saúde e trabalho.
Volto em janeiro.
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