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quarta-feira, dezembro 2

O desconhecido em Sobral

Conversar com o Aníbal Damasceno no Bar do Antônio era das melhores disciplinas na UFRGS. Com ele, também partilhava a mesa o Luís Augusto Fischer. O Aníbal, que era professor de cinema, tinha lido coisas boas, por exemplo, Machado de Assis. Com sua argúcia, Aníbal tirava de Machado aquele “ranço” da nossa formação.
E Aníbal gostava também do Nelson Rodrigues. Dizia que as crônicas de Nelson, sobretudo as Confissões, iam além. Elas tinham “humour”, que, antes de ser cinismo, era ironia, e conseguiam assim clarear o mundo que aí está. Por essas e outras, dizia o Aníbal, o Nelson era ensaísta, na melhor linha de Montaigne.
Certa vez, eu não estava nesse almoço, mas o Fischer depois relatou, o Aníbal falou sobre o “fato sobrálico”. Era o seguinte: Einstein, o físico já famoso, lançou uma teoria: que raios de luz, se encontram corpos celestes em seu caminho, são atraídos pela sua gravidade. Houve quem duvidasse e Einstein então escolheu aleatoriamente no mapa uma cidadezinha, Sobral, no Ceará. Ali ocorreria um eclipse e poderiam verificar. Bem, vários cientistas andaram por Sobral, não poderia ser só a palavra de um Einstein, precisam comprovar uma verdade que o físico já intuíra.
Aníbal dizia que faltava ao Nelson Rodrigues, para dizê-lo ensaísta, o seu fato sobrálico. E lançou o desafio ao Fischer. Agora, 17 anos depois, o Fischer lança Inteligência com dor, que anuncia exatamente Nelson como ensaísta. Razão principal: ele ultrapassa os quadrados limites da crônica-Rubem Braga (o populismo com o leitor, o coloquialismo, a ingenuidade e a piada da crônica comum) para enveredar pela reflexão.
Fischer mostra que Nelson desafiava a voz corrente do seu tempo, se encorajava a espantar unanimidades (D. Hélder Câmara), e até simpatizou com o regime, o que lhe rendeu o rótulo de reacionário.
Mas, o que Fischer desvela é a capacidade de Nelson assumir a individualidade do pensar, a coragem de “ser”. Uma das mais notáveis crônicas desse tempo (final dos 60), ele intitula exatamente O ex-covarde. Nela, expõe as tragédias de sua vida, a sucessão de dramas que suportou, o que o deixava livre de qualquer convenção.
E, assim, Nelson pensou o Brasil! Extraiu do conhecido, do seu cotidiano (como Montaigne), o contraponto para o que não sabia. Mediu aquilo que não sabemos em face da realidade — e que isto resultasse numa moral para a nossa história. Fazia Ensaio. Bem como se faz na Física de nosso Einstein em Sobral.


Crônica no Pioneiro de hoje.