
Vitrola
dos Ausentes
Clique
aqui e leia um trecho.
Nova Edição

Clique
aqui e leia.

DEMAIS
LIVROS


Glaucha
Clique
aqui e leia um trecho.


Iberê
Clique
aqui e leia um trecho.

Valsa
dos Aparados
Clique
aqui e leia um trecho.


Missa
para Kardec
Clique
aqui e leia um trecho.


Quando
cai a neve no Brasil
Clique
aqui e leia um trecho.


Cozinha Gorda
Clique
aqui e leia um trecho.


As luas que fisgam o peixe
Clique
aqui e leia um trecho.

Coletâneas
Meia encarnada, dura de sangue

Clique
aqui e leia um trecho.

Cem Menores Contos

Clique
aqui e leia um trecho.
Contos
Cruéis

Clique
aqui e leia um trecho.
Contos
do Novo Milênio

Clique
aqui e leia um trecho.
|
|
O rito, o tiro
Ramo. Novo ano. O vô, a nona, há a mãe. A Nú, a Fê, aí Rê! Laguna. Saúde! e fé. Batom. Ô... Á... “régui”. Ié!! Manajá! O clap. O na mão bater. E lá vú!!! Emo. E Dr. e varre, o mó corre e corre. O tiro! É. Morto. Sem ir, caído. Elo. Leva, roda, arg!, a mé. A droga. Sac! Só mata-mata. A Lú: “Polícia!!!” Assim. Aí, bala. Acuda! Caí. Ai dos pares. À retirada, ré, Laguna. A droga aluga Laguna. Arrasa ceia, a Terra do Bicho, é geral. E Saci locara praia. Ô, sal e fruta! A caramelo e pele, aí, é rã. A! Usava chapéu a ver... Ré. Vau é pah! Cava, sua, areia. Ele pé. Olé, Maraca! A turfe, lá, só. Aí, ar para cólicas. E lar é Ge. Oh, Cí! Bodar reta? Aí é casar. Rá! A Nú, gala. Gula, gorda. A Nú. Galera da Riter. A Sé, rapsódia, ia caduca. À lábia, missa, a Icíl, ó, pula! A, tá, mata moscas! A gorda-e-magra adorável. Ó, lê O Dia. Crimes. O trom é o rito. Erro. Cerro. Como erra verde o meu vale. Rê tá boa, mano? Palco. A Jana, mé. Ií! Ú! Gera o mó tabefe. E duas. A Nú (galeria e fauna) e a má. Ah, ano não vô. Ô, não vô no mar! *** Comecei o ano assim. Vendo a 50 metros um cara ser baleado. O mundo está mesmo virado e é preciso representá-lo assim, neste rap do espanto, escrevendo a crônica de baixo para cima, da direita para a esquerda. E percebam como o texto permanece o mesmo nas duas formas de leitura. Lendo normal ou ao contrário. Crônica no Pioneiro de hoje.
Aurora numa Quarta de Cinzas
Se você fosse sincera é o título brasileiro para o musical de Hollywood, de 1941, Lady Be Good, que é uma canja do George Gershwin, que cedeu algumas composições para o filme. Lady Be Good ficará celebrizada pela interpretação depois de Ella Fitzgerald, mas, cá entre nós, o Mario Lago também tirou a sua casquinha. O Mario Lago era aquele ator da Globo. E ele tinha uma influência incrível, por conta do seu caráter, principalmente junto aos mais jovens no Projac. Morreu em 2002, com 90 anos. Pois o Mario Lago, numa Quarta de Cinzas de 1940, em parceria com Roberto Roberti, escreveu Aurora, sucesso do Carnaval de 41: “Se você fosse sincera / Ôôôô, Aurora...” A canção conta a história do homem que oferece o melhor para sua amada ("Um lindo apartamento / Com porteiro e elevador / E ar refrigerado / Para os dias de calor”) e ficou consagrada pela interpretação da Carmen Miranda, que naquelas alturas andava também por Hollywood fazendo musicais. Desconfio que o tradutor brasileiro embarcou no sucesso da marchinha e traduziu por Lady Be Good. Em Portugal já não tinham traduzido Cidadão Kane por O mundo aos teus pés? Pois é. Tradutores. E agora uma nota: Mario era neto de um anarquista que também tocava flauta, e, certamente por isso, desde cedo era um militante comunista. E era ainda filho de um maestro, o que o ligava duplamente à música. Não satisfeito por emplacar então a marchinha Aurora naquele ano, Mario pegou ainda o mote do “Se você fosse sincera” para ir mais longe. E agora, quase certo, em cima do filme. Lady be Good, numa tradução ao pé da letra é: “a senhora seja boa”. Naquela época, o “senhora seja boa” correspondia à mulher subserviente, à esposa que vivia exclusivamente para o marido. E Mario, junto com o Ataulfo Alves, tasca então, em 1942, essa: “Amélia não tinha a menor vaidade. Amélia é que era mulher de verdade”. Amélia ficou conhecida como o tema da submissão, embora o estrondoso sucesso que atravessava as décadas e muitos carnavais. Eram outros tempos. Eram outros valores. E, na manhã desta Quarta de Cinzas foi o que me ocorreu, depois de ouvir tocar a Aurora por estas quatro noites. Crônica no Pioneiro de hoje.
Lula, o pintor mal-assombrado III
O jornalista Carlos Lacerda, como vimos a semana a passada, escreveu uma reportagem contando sobre a obra de Lula, o pintor mal-assombrado que descobriu nos anos 40 em Pernambuco. Depois de descrever a paisagem, as figuras humanas que inspiravam aquele artista “atuado”, Lacerda vai narrar o que sucedeu a Lula depois de abandonar o massapé e passar para a cerâmica. Em certa altura da matéria, Lacerda diz que o Lula dele “queria ser o não sei quem do que vem a ser esssa arte de famílias inteiras nas zonas de Caruarú, do Canhotinho e até de Garanhuns”. “O que vende mas não se fabrica” era a Cerâmica Popular de Pernambuco, e ela absorverá Lula integralmente. “Vi uma por uma as suas anotações, os apontamentos das danças, os croquis dos tipos populares, a obscura mas festiva ainda que dolorosa miséria popular na qual ele foi buscar, com fiel carinho, os motivos de sua arte”. E passou à cerâmica popular... E todos hão de ver as assombrações que ele traz. Hão de ver o cabriolé fantasma, aquela charrete das fazendas e engenhos, conduzindo as sombras numa noite verde; hão de ver o sofá de jacarandá sentado pela translúcida e inefável moça dos nossos sonhos, cercada de duendes familiares que se esvaem e se identificam num esgarçamento de sombras; e os cavalos que se decompõem; os bichos do bumba-meu-boi convertidos em carniça, devorados pelos urubus das festanças populares; hão de ver as figuras dos pastoris deformados na viscosa profundidade do sonho, arrancados à sua substância imediata, endereçados ao mundo infinito; hão de ver como o pintor mal-assombrado domina a técnica e a coloca a serviço da poesia, na mais poderosa aventura artística de que há notícia na pintura brasileira de todos os tempos; hão de ver as cabaças que são fantasmas, os fantasmas são musas, as musas que são perguntas indecifráveis; hão de ver a beleza nascendo do mistério, a alegria que brota do pavor como uma flor de cemitério; hão de ver o frenesi do frevo, a tempestade de guarda-chuvas derrubando as esquinas, o desmoronamento das famílias dissolvidas nas lendas dos corredores, hão de ver um imenso artista, uma obra que vai dar a todos esse orgulho besta: ele é brasileiro”. Como se percebe, na sua narrativa exagerada, gongórica, Lacerda errou em algumas coisas com o seu Lula. Em outras, porém, nos cria um estranhamento... que parece profecia.
Lula, o pintor mal-assombrado II
Perdi o senso? Como é que vou trazer aqui a lembrança de um cara de direita, que deu uma forcinha pro Getúlio acionar o gatilho, e ainda faço relação com o presidente Lula??? É que revelei semana passada o acaso de ter esbarrado num texto do cara, e vamos aí prosseguir. E é o seguinte: encontrei numa Revista do Globo, (anos 40, século passado) uma reportagem com o título aí de cima. É do Carlos Lacerda, o líder da UDN, jornalista e proprietário da Tribuna de Imprensa, que muito sacaneou o Samuel Wainer, só pra ficar nessa área. E mais não falo, transcrevo. “Nas minhas andanças pelo nordeste encontrei um pintor mal-assombrado. Hoje trago a sua história para exemplo de aflitos e remate de males. É uma história de fadas e anões, de iaras e iaiás, bonita a não mais poder. Que me devorem os jacarés do bumba-meu-boi se eu não souber contar direito a história de Lula, o pintor mal-assombrado. Era uma vez um moço de Pernambuco. Tinha uns olhos serenos e grandes... Lula – que assim chamavam o moço – era filho de um grande usineiro... e seus desenhos eram muito coloridos e redondos: uma redondeza geral nos seus traços escassos. Lula estilizava palmeiras, morros, luares, cabeças inexpressívas de mulheres sem história... Em 1932, quando os paulistas se levantaram pela Constituição, a Usina Cucaú, na zona do Rio Formoso, ao sul de Pernambuco, deu pra trás. O vigoroso João Cardoso Ayres, senhor de energias e de teimosias, sentiu que suas moendas já não davam para sustentar filho malandro no Rio”... Então, Lula voltou à terra... E ao ver o esforço dos homens curvos, o chapelão das magras mulheres sobre o pano que cobre o pescoço, tronco e membros, deixando de fora uma cara sumítica, esfarinhadas da pura cor da terra: o cheiro de cana que entranha nos automóveis, nas roupas, nos seios das mulheres e domina até o almíscar dos bodes do sertão... tudo isto tomou conta de Lula – e desde então ele ficou atuado. Como um possesso, Lula afunda no massapê, palmilha com sandálias de couro o agreste e depois o rebarbativo sertão... E viu o culto do meu padrinho, o padre Cícero Romão Batista; seguiu no rastro de Lampião e foi na pancada do ganzá... Viu cheganças e festanças, aconchegos e acalantos, comeu o gordo sapotil da mata, sorveu os sucos ácidos do agreste, a água salobra da caatinga, viu os últimos índios de Águas Belas e os últimos cangaceiros...” (Contínua).
|
|
|