OBRA     AUTOR
         


Vitrola dos Ausentes
Clique aqui e leia um trecho.


Nova Edição



Clique aqui e leia.


DEMAIS LIVROS


Glaucha
Clique aqui e leia um trecho.



Iberê
Clique aqui e leia um trecho.




Valsa dos Aparados
Clique aqui e leia um trecho.




Missa para Kardec
Clique aqui e leia um trecho.



Quando cai a neve no Brasil
Clique aqui e leia um trecho.


Cozinha Gorda
Clique aqui e leia um trecho.


As luas que fisgam o peixe
Clique aqui e leia um trecho.

Coletâneas


Meia encarnada, dura de sangue
Clique aqui e leia um trecho.



Cem Menores Contos

Clique aqui e leia um trecho.



Contos Cruéis

Clique aqui e leia um trecho.



Contos do Novo Milênio

Clique aqui e leia um trecho.




 

terça-feira, fevereiro 9

Lula, o pintor mal-assombrado III

O jornalista Carlos Lacerda, como vimos a semana a passada, escreveu uma reportagem contando sobre a obra de Lula, o pintor mal-assombrado que descobriu nos anos 40 em Pernambuco. Depois de descrever a paisagem, as figuras humanas que inspiravam aquele artista “atuado”, Lacerda vai narrar o que sucedeu a Lula depois de abandonar o massapé e passar para a cerâmica.
Em certa altura da matéria, Lacerda diz que o Lula dele “queria ser o não sei quem do que vem a ser esssa arte de famílias inteiras nas zonas de Caruarú, do Canhotinho e até de Garanhuns”. “O que vende mas não se fabrica” era a Cerâmica Popular de Pernambuco, e ela absorverá Lula integralmente.
“Vi uma por uma as suas anotações, os apontamentos das danças, os croquis dos tipos populares, a obscura mas festiva ainda que dolorosa miséria popular na qual ele foi buscar, com fiel carinho, os motivos de sua arte”.
E passou à cerâmica popular... E todos hão de ver as assombrações que ele traz. Hão de ver o cabriolé fantasma, aquela charrete das fazendas e engenhos, conduzindo as sombras numa noite verde; hão de ver o sofá de jacarandá sentado pela translúcida e inefável moça dos nossos sonhos, cercada de duendes familiares que se esvaem e se identificam num esgarçamento de sombras; e os cavalos que se decompõem; os bichos do bumba-meu-boi convertidos em carniça, devorados pelos urubus das festanças populares; hão de ver as figuras dos pastoris deformados na viscosa profundidade do sonho, arrancados à sua substância imediata, endereçados ao mundo infinito; hão de ver como o pintor mal-assombrado domina a técnica e a coloca a serviço da poesia, na mais poderosa aventura artística de que há notícia na pintura brasileira de todos os tempos; hão de ver as cabaças que são fantasmas, os fantasmas são musas, as musas que são perguntas indecifráveis; hão de ver a beleza nascendo do mistério, a alegria que brota do pavor como uma flor de cemitério; hão de ver o frenesi do frevo, a tempestade de guarda-chuvas derrubando as esquinas, o desmoronamento das famílias dissolvidas nas lendas dos corredores, hão de ver um imenso artista, uma obra que vai dar a todos esse orgulho besta: ele é brasileiro”.
Como se percebe, na sua narrativa exagerada, gongórica, Lacerda errou em algumas coisas com o seu Lula. Em outras, porém, nos cria um estranhamento... que parece profecia.