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domingo, maio 25

O amor de Guignard e o concreto de Iberê

A história mais comovente que conheço do mundo das artes pertence a Alberto Guignard. Certa vez, promoveram uma exposição com as suas gravuras sobre o Rio de Janeiro. No dia da abertura, um amigo perguntou se Guignard iria. Ele indagou então se não era muito caro o ingresso.
A história, além de expor um ultrapassado desapego dos artistas com relação ao dinheiro (essa coisa de em nome da arte passar fome e tal, essa coisa de dar palestras e conferências sem nunca receber um tostão) demonstra também a pureza de caráter de um grande artista.
Reavivei a história lendo agora que alguns desenhos de Guignard estão no Museu de Arte Moderna de São Paulo. São cartões que ele remetia para a sua amada, Amalita. Os cartões (desenhos, recortes e colagens, que conheci pela internet) trazem dedicatórias tipo, “Vive para ela”, ou a fusão apaixonada que fizera com as iniciais dos dois nomes: Guiama.
O interessante é que estes desenhos e gravuras reforçam uma impressão que sempre tive de Guignard, desde quando andei buscando vestígios de sua convivência com Iberê Camargo. A impressão de que Guignard talvez tenha sido nosso artista de alma mais pura, bom coração, de uma forma de expressão que, de tão sincera e honesta, chega a ser ingênua.
Guignard era leporino. Uma figura mesmo. Ele deu aulas para o Iberê Camargo, no Rio, e foi ele quem inspirou Iberê a pintar Lapa, o quadro que projetaria o gaúcho para estudar depois na Europa.
Iberê não esquecia um ensinamento de Guignard e sempre o contava. Certa vez, perguntou como saber se um quadro estava pronto. Guignard respondeu: “Quando ele faz um tim”. Iberê lembrava, ria, e dizia que tinha compreendido perfeitamente o mestre.
Pois quando Iberê voltou da Europa, Guignard estava se mandado pra Minas. Atendia ao convite do então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, em 1944. Guignard não sairia mais de Minas. Está sepultado em Ouro Preto.
Em Minas, Guignard se notabilizou ao pintar as montanhas, e ele se inscreve mesmo ao lado de Portinari, Ismael Nery e Cícero Dias no time dos grandes artistas do seu tempo (acrescido de Volpi e do próprio Iberê mais tarde).
A simplicidade dos cartões de Guignard agora exposta (a história do ingresso que demonstra a penúria em que vivia) é uma coincidência bem oportuna com a inauguração do imponente prédio da Fundação Iberê Camargo, nesta sexta-feira. O prédio de Iberê, projetado pelo português Álvaro Siza, se concretiza na paisagem porto-alegrense, e é um exemplo dos mais singulares: das trajetórias de mestre e discípulo, da evolução das artes em nosso meio.

terça-feira, maio 20

Sinfonia de um Novo Mundo

O New York Times sugeriu em matéria recente que a Amazônia “não é brasileira”. Seria um patrimônio internacional, o espaço que regulará o meio ambiente no futuro. A Amazônia é o pulmão da humanidade sempre foi apenas uma frase. Mas agora a coisa começou a ficar séria. Os Estados Unidos mandaram o seu recado.
Não faz muito, aqui bem perto, houve reuniões para se estabelecer medidas que também preservem a área principalmente dos Aparados da Serra. Também aqui se pode dizer: a área dos Aparados da Serra não pertence apenas a Cambará e São José dos Ausentes. Os Campos de Cima da Serra são os nossos pulmões.
Antes da emancipação dos Ausentes, esta área do extremo nordeste, fronteira com Lages, São Joaquim, por ali, pertenciam a Bom Jesus. E Bom Jesus chegou a ser chamado por um tempo, entre 49 e 58, de Aparados da Serra.
Bom, todos sabem que nessa região estava a maior concentração de araucárias do Estado. E o que houve? Uma exploração sem controle, com o corte de árvores e devastação da terra, deixando por lá um verdadeiro “deserto”. O meio ambiente, claro, à época, não tinha a força que ganhou depois. Mas, se sabe de medidas que exigiam reflorestamento e que nunca foram obedecidas.
Bom Jesus, no auge do corte dos pinheiros, chegou a ter cerca de 150 serrarias. Era uma verdadeira indústria, que dava trabalho e impulsionava o comércio de um município com 37 mil habitantes. Hoje, são 11 mil, incluindo cidade e campo. Dá pra se ter uma idéia do estrago.
Vitrola dos Ausentes, uma novela que escrevi, pretende dar conta desta migração. Há, no seu transcorrer, uma intensa polêmica sobre o progresso e o futuro. Dois grupos discutem se é válida a instalação de um banco na minha São José ficcional. Termina com a saída de quase todos do espaço, por conta do tal “progresso”. Daí os “ausentes” do título, que são os nativos saindo com suas mudanças, e no meio de uma das mudanças segue uma vitrola. Música triste.
Pois é isto que está em pauta por lá agora. As reuniões devem indicar sugestões, de novo, para o “progresso”. No fundo, fazendo uma caricatura, está se discutindo se devem instalar um “banco” nos Aparados. Leia-se “banco” como o cultivo dos campos para a monocultura, a exploração do Parque dos Aparados que não seja tão-somente para o turismo.
Espera-se que desta vitrola saia A Sinfonia de um Novo Mundo.

domingo, maio 18

Vitrola

Um outro muro em Berlim.

terça-feira, maio 13

A gruta e a rede dos pescadores

Em 7 de dezembro de 1958, o Santos enfiava 6 X 1 no Corinthians. Pelé, que então começava, fez 4 gols. Mas não foi este o assunto predominante nos bares, cafés e hotéis de Bom Jesus naquele domingo. Falava-se mais da multidão que se aglomerou ao lado do hospital para a inauguração da Gruta de Lourdes.
Naquele ano se comemorava o centenário de aparecimento da santa e as irmãs franciscanas, que dirigiam o hospital, resolveram fazer a homenagem.
A gruta é, talvez, o lugar mais singular de Bom Jesus. Quantos pedidos já foram feitos lá? Quantos pedidos por saúde, um milagre, que se amenizasse a pobreza, uma febre mais forte? Milhares de lamentos há 50 anos já teria se registrado caso se pudesse lamentos ouvir?
“Me dá um dinheiro aí”, foi o sucesso do carnaval daquele ano. E, como o Brasil disparava em desenvolvimento, JK faria 50 em 5, baixou por aqui um secretário de governo dos Estados Unidos para ver como andavam as coisas. E aí divulgaram a foto do Juscelino ao lado do americano, a mão estendida, como se pedisse dinheiro. Foi uma gargalhada nacional.
A foto saiu na capa do Jornal do Brasil, e o JB, que tinha influência, por ironia, logo faria uma reforma gráfica seguindo também as regras americanas. A “piada-crítica” do jornal perdia então a graça e só estou contando isso para dar o contexto.
Vivia-se uma euforia no país e eu quero mesmo é falar da minha mãe Carmem. Naquela época, ela trabalhava no hotel da D. Jardolina e apareceu grávida.
Minha mãe atravessaria aquele resto de ano lavando pratos, curtindo por certo a gravidez da filha, e daria à luz no hospital já com a gruta.
Pedidos, lamentos, o que fosse, minha mãe daria o nome à guria exatamente de... Lourdes.
Nunca perguntei, mas não pode ser coincidência uma coisa dessas. D. Carmem certamente também homenageava a santa.
Criada com outra família, minha irmã Lourdes (que nasceu ainda antes que eu viesse ao mundo, nunca nos vimos) cresceu na região de Canoas. E morreria aos 14 anos, na Praia do Pinhal, enroscada numa rede de pescadores.



segunda-feira, maio 5

O ex-escritor

Deixei de escrever. Há seis meses parei. A gente escreve para impressionar e fazer confissão.
Escrever quer dizer criação, vida que se imita, luz num parto cruel. Disso deixei: a escrita de ficção.
Quer dizer então que não acredito mais no poder da palavra? Seria uma contradição se pensasse assim. Eu morreria de fome, eu vivo da palavra, eu vivo de aulas e algumas publicações.
Eu deixei de escrever exatamente porque com as palavras eu nunca brinquei. Elas não admitem a repetição, elas não admitem ser saco de pancada de quem talvez tenha esgotado o que dizer.
Preciso viajar. Flávio Loureiro Chaves, que é um leitor dos mais críticos, já um dia me falou: tá tirando leite de pedra! E acho que ele disse bem, se acaso se referia a Bom Jesus.
Parto cruel. Além de ser difícil escrever (leiam Drummond, lembrem Drummond!) eu apostei muitos anos de vida a fugir do linear, afastar o convencional.
Escrever é: ter uma boa história, ser convencido pela história, narrar a história de forma a impressionar.
Foi disso que deixei: impressionar!
De que adianta rebater no aniversário de uma mãe morta, qual o efeito que isto na minha vida faz??? Nenhum. Chegou de confissão.
Também conclui que jamais alcançarei a fama, o objetivo de todo o artista, escritor, enfim. Eu me resignei. Deixei de escrever (como acho que Iberê não deveria ter pintado numa fase em que sua obra só patinou) e posso me dedicar agora a outras coisas: aprender a dirigir, ouvir mais música, ficar mais atento à minha pedra no rim.
Pedra no rim dói. Nada escrever, não. Não escrevo desde outubro. Já tô até acostumando. Se foi pras cucuias que escritor não vive sem escrever.
Estou vivo.