A gruta e a rede dos pescadores
Naquele ano se comemorava o centenário de aparecimento da santa e as irmãs franciscanas, que dirigiam o hospital, resolveram fazer a homenagem.
A gruta é, talvez, o lugar mais singular de Bom Jesus. Quantos pedidos já foram feitos lá? Quantos pedidos por saúde, um milagre, que se amenizasse a pobreza, uma febre mais forte? Milhares de lamentos há 50 anos já teria se registrado caso se pudesse lamentos ouvir?
“Me dá um dinheiro aí”, foi o sucesso do carnaval daquele ano. E, como o Brasil disparava em desenvolvimento, JK faria 50 em 5, baixou por aqui um secretário de governo dos Estados Unidos para ver como andavam as coisas. E aí divulgaram a foto do Juscelino ao lado do americano, a mão estendida, como se pedisse dinheiro. Foi uma gargalhada nacional.
A foto saiu na capa do Jornal do Brasil, e o JB, que tinha influência, por ironia, logo faria uma reforma gráfica seguindo também as regras americanas. A “piada-crítica” do jornal perdia então a graça e só estou contando isso para dar o contexto.
Vivia-se uma euforia no país e eu quero mesmo é falar da minha mãe Carmem. Naquela época, ela trabalhava no hotel da D. Jardolina e apareceu grávida.
Minha mãe atravessaria aquele resto de ano lavando pratos, curtindo por certo a gravidez da filha, e daria à luz no hospital já com a gruta.
Pedidos, lamentos, o que fosse, minha mãe daria o nome à guria exatamente de... Lourdes.
Nunca perguntei, mas não pode ser coincidência uma coisa dessas. D. Carmem certamente também homenageava a santa.
Criada com outra família, minha irmã Lourdes (que nasceu ainda antes que eu viesse ao mundo, nunca nos vimos) cresceu na região de Canoas. E morreria aos 14 anos, na Praia do Pinhal, enroscada numa rede de pescadores.
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