Os magros viraram tios
O Aníbal se queixava que o Gerbase sentava o pau na sua geração de cineastas, que os julgava ultrapassados, caretas. E o Aníbal então contava sobre a seguinte imagem que criara para responder ao Gerbase. Dizia que a turma dele, Aníbal, era a dos “magrãos”, pronunciado assim mesmo como a grafia. Que a turma do Gerbase, que sentava a ripa, eram os “magros”. E que o Gerbase um dia iria “pagar”, porque, pela evolução da espécie, eles ainda seriam taxados de caretas e ultrapassados pela turma dos “magríssimos”.
Não deu outra. Se observamos a Casa de Cinema (do Gerbase, do Jorge Furtado), hoje, ela passou a ser vista como uma espécie de refúgio dos “tios” (os magros) pela nova geração. São os magríssimos em sua hora e com as suas mais recentes tecnologias, como dá para se observar na produção do Histórias Curtas que começou na RBS TV no sábado.
Mas, passando para o âmbito da literatura. A imagem dos “magros” do Aníbal também se aplica perfeitamente. Na Literatura Gaúcha, digamos, mais contemporânea, os “magrãos” seriam aqueles herdeiros de Erico, entre os quais se incluem Josué Guimarães, Assis Brasil e Tabajara Ruas. Uma turma de escritores ainda compromissada com um Rio Grande que tinha como Sul a herança cultural ligada ao campo, às tradições de família e as suas circunstâncias.
Nos anos 80, finalzinho deste, surgiram autores (seriam os magros), como Luiz Sérgio Metz, Paulo Bentacur, Juremir Machado, Luís Augusto Fischer, que representariam uma espécie de turma do “apartamento alugado”, isto é, criadores de classe média, que não tinham compromisso com a “tradição” de família, com a estância remota, e passavam a enxergar um Rio Grande já urbano. Portanto, com enfoques mais livres na estética. E João Gilberto Noll seria exatamente a ponte entre os “magrãos” e os “magros”.
Na passagem de século, e com a internet já fazendo parte de nossas vidas, surgia a geração dos “magríssimos”. Com Cardoso, principalmente no começo, apareceram os primeiros blogs. E com eles Daniel Galera e Clara Averbuck. Depois, já nos anos 2000, numa editora, a Livros do Mal, aparecia de novo Daniel Galera, Daniel Pelizari e outros. É com o Galera, da turma dos “magríssimos”, que estarei na Feira do Livro nesta sexta. Falaremos não só da produção gaúcha, mas da Literatura Brasileira contemporânea.
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