OBRA     AUTOR
         


Vitrola dos Ausentes
Clique aqui e leia um trecho.


Nova Edição



Clique aqui e leia.


DEMAIS LIVROS


Glaucha
Clique aqui e leia um trecho.



Iberê
Clique aqui e leia um trecho.




Valsa dos Aparados
Clique aqui e leia um trecho.




Missa para Kardec
Clique aqui e leia um trecho.



Quando cai a neve no Brasil
Clique aqui e leia um trecho.


Cozinha Gorda
Clique aqui e leia um trecho.


As luas que fisgam o peixe
Clique aqui e leia um trecho.

Coletâneas


Meia encarnada, dura de sangue
Clique aqui e leia um trecho.



Cem Menores Contos

Clique aqui e leia um trecho.



Contos Cruéis

Clique aqui e leia um trecho.



Contos do Novo Milênio

Clique aqui e leia um trecho.




 

quarta-feira, agosto 18

As tábuas mecânicas

Eu fiz, como todos da minha geração, aquele chato caminho das primeiras leituras. Ser induzido a ler muito cedo o José de Alencar e os romances do Machado (que nem eram os contos do Machado, esses, sim, geniais). A coisa só melhorava quando se chegava ao Jorge Amado, porque, aí, tinha alguma sacanagem e um Brasil que um adolescente já reconhecia.
Esse é o caminho que fiz na minha formação de leitor até chegar ao João Guimarães Rosa (que, depois, quando comecei a escrever, constatei que era a principal influência a ser eliminada). Só que já andei por aí, traído pela memória, dando um crédito maior ao João Guimarães Rosa. Não foi ele quem primeiro teve o maior impacto nas minhas leituras de formação. Não foi Grande sertão: veredas o meu primeiro grande livro. Foi Laranja Mecânica, de Anthony Burgess.
Jorge Amado, aquela turma, Erico, ultrapassaram os meus 15 anos. Por volta dos 17, descobri, por conta do filme do Stanley Kubrick, o Laranja Mecânica (por revistas, claro, que jamais passaria em Bom Jesus o filme, mesmo depois de liberado pela censura).
Pedi então pelo Reembolso Postal o livro. Percebam agora o impacto da leitura. Eu era um cara, pós-adolescente, que morava numa casa de madeira, com frestas por onde entrava muito vento e, em dias de chuva, a cama tinha de ser coberta com uma capa para aparar as goteiras. Lia com vela, sem luz em casa. A 50 metros dessa casa pastavam as vacas.
E fui surpreendido por aquele cenário ultraurbano do Laranja Mecânica. O enredo, num ambiente futurista, expunha a juventude, as drogas e a violência (e questões como o livre-arbítrio, o “controle” do indivíduo pelo Estado, que eu iria então pescar) e era um mundo que não cabia de forma alguma naquela casa de tábuas e vacas próximas. O impacto do livro saía pelas frestas afora.
E havia mais: a linguagem. Anthony Burgess criara uma língua. A partir da gíria da gang protagonista, criara uma espécie de inglês com russo, e mais a fala de ciganos e muitas expressões da pura invenção. Eu li aquilo num fôlego, a escrita era desconcertante.
Neste final de semana, por acaso, folheei o Laranja Mecânica. E a apresentação do livro serviu para refrescar a memória: indica a influência de James Joyce em Burgess. E é óbvio que foi ali que eu soube do Joyce. E, daí, ao João Guimarães Rosa. E o vento soprando entre as frestas das tábuas.

Crônica no Pioneiro.