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quarta-feira, junho 9

A tristeza com bonita canção

Kentucky Babe é aquela canção que você põe a rodar enquanto segue a Rota do Sol e vai tamborilando a mão no volante. E você sabe então que está tudo bem, está tudo Ok, a paisagem corre ao lado.
A canção é aquela que Boo Boo Tannembaum cantarola, a bela mãe do conto de Salinger sobre um menino que se nega a deixar um bote. Boo Boo está vestida de suéter preto de gola virada, bermudas, meias soquetes e mocassins (com aquele rosto eternamente memorável sem ser exatamente bonita) e vai cantarolando enquanto se aproxima do lago.
O danado do Salinger era ótimo mesmo para criar estes bons momentos. Bom de descrição e ainda nos dá Kentucky Babe de canja no deslocamento da mulher de 25 anos.
Em um outro conto de Salinger, A fase azul de Daumier-Smith (ele está em Nove Estórias, onde também se encontram os extraordinários, Para Esmé, com amor e sordidez e Lindos Lábios e verdes meus Olhos) aparecem outras duas canções, cujas letras ficaram gravadas na mente do personagem: Sweet Sue e Let Me Call You Sweetheart.
Por curiosidade, fui ver se havia no YouTube as canções. Estão as três lá. Mas é mesmo Kentucky Babe, na interpretação de The Clovers (um grupo dos anos 50, e gravada, portanto, posteriormente ao conto, que é de 1942) que “gruda”.
E fica mesmo na cabeça enquanto você sai em retirada para Bom Jesus ao longo da Rota do Sol. E você bate então no volante, dá o ritmo tamborilando no volante e segue olhando para o horizonte. E você vê então a primeira casa, tua mãe de criação nas manhãs mais frias, as cercas-vivas tomadas de sol, um alto-falante na torre.
A primeira aula, a primeira namorada, as festas de São João, uma fogueira. A calçada de nós de pinho na praça. As peras em seu tempo, Seu Epaminondas tocando as vacas. E um Zecateca a pedalar por mais de 48 horas, e se dizendo do México, vissem os recortes do jornal.
E muitos outros rostos surgem na estrada e umas casas quase sem cumeeiras porque a fumaça empesta e cobre de um foguetório o próprio ar. Há um exército de Bom Jesus, cada feição, mesmo dos mortos, vestidos, gravatas, uns close-ups pra se guardar. Cada emoção no rosto das jovens e os rostos com vincos, mais velhos, muito aos pares, tudo no tamborilar da mão.
E a Rota do Sol se estende e está tudo bem, é só tristeza, não há nada mais.
Crônica no Pioneiro de hoje.