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quarta-feira, junho 23

A moça de Santarém

Lembro-me que li O Ano da Morte de Ricardo Reis ainda muito ligado afetivamente a Portugal. Fracassara meu “exílio” de 1984 em Lisboa, e eu voltara para recuperar o fôlego. Precisava continuar os estudos, arranjar emprego, e voltei a Bom Jesus para retomar a vida “filando” a comida de minha mãe.
Naquele recomeço de 1985, recebia em Bom Jesus cartas e livros dos amigos que deixara. Os portugueses têm cada uma: ora se precisava mandar apoio para o desterrado brasileiro que lhes fazia companhia nos almoços das cantinas da Universidade.
Enfim, entre as coisas que recebia, o jornal JL, uma antologia de novos autores, mandaram O Ano da Morte de Ricardo Reis. Fazia sentido. O heterônimo de Fernando Pessoa, na imaginação de José Saramago, era um Paulo desterrado ao contrário, que fizera o caminho inverso e tinha se exilado no Brasil em 1919, voltando para Lisboa nos anos 30.
Li com muito interesse e gostei do romance, que acima de tudo chamava a atenção por introduzir os diálogos em meio aos parágrafos, apenas com a primeira fala em maiúscula, sem aspas ou travessões.
Pois bem, com a morte de Saramago, senti saudade do livro e fui procurá-lo aqui entre as coisas e não há jeito de encontrá-lo. Eu sinto muito, era o simbolismo daquele retorno.
Reencontrei, por outro lado, as “cartas de Lisboa”. E há entre as coisas (além de uma nota de Cem Cruzados!!!, decerto resto do magro câmbio) uma carta de uma moça de Santarém. Clara, minha colega de universidade, de almoços na cantina, das leituras de poesia no B’Arte, no Bairro Alto.
Clara queria ser atriz. Aos 7 anos ouvia Doors e Pink Floyd. E eu nunca mais soube de Clara que recitava Pessoa e detestava as aulas de linguística do professor Abel.
Ah, Lisboa! Ah, meus amigos! D. Carmem, a senhora da limpeza da casa de estudantes (o nome de minha mãe) preparou uma torta “especialmente para o nosso adeus!”
Os portugueses são feitos dessa afetividade. São de bom coração e dramáticos. Assim, como o Saramago, embora o rótulo de “materialista”. Era um Português!
E aqui nesta borda do mar Atlântico, que de Europa só tem a ponta e o nome, espero e desespero sempre esperando e também lutando que as ideias nasçam, o mundo cresça e as prisões morram”.
Parece o Saramago. Mas foi a Clara que escreveu.

Crônica no Pioneiro de hoje.