Encarnador de imagens
Chegou aqui à época da colonização e era responsável pelo pagamento dos subsídios mensais destinados aos imigrantes. Discreto em sua função, o que talvez não se soubesse é que estava por aqui um cara “famoso”. José Bernardino pertencia à Sociedade Partenon Literário (que congregava escritores e políticos na capital), e era tido como um dos mais destacados intelectuais entre os companheiros de Apolinário Porto Alegre.
Por conta da sua convivência em São Chico, José Bernardino havia escrito um romance, Serões de um Tropeiro, que dava conta pela primeira vez dos usos, costumes e, principalmente, do jeito de falar dos tropeiros. O romance, (publicado de 1874 a 1878 como folhetim), tem “apenas” esta importância, diante de uma literatura gaúcha que sempre privilegiou a campanha, a parte Sul do Estado.
Este cara chegou, portanto, quando a imigração recém-desembarcava. Obviamente, a vida cultural em Caxias era rara. Consta que ficou amigo dos irmãos Lavra Pinto, que teriam emendado duas mesas para o seu velório, já que Bernardino media quase 2 metros.
Os irmãos Lavra Pinto eram proprietários de uma tipografia e, em 1911, já em consequência da chegada do trem e do “progresso” que a todos contagiava, veremos Arthur de Lavra Pinto como editor do jornal Cidade de Caxias (que era impresso na própria tipografia da família).
Contemporâneos de Arthur e Bernardino havia ainda dois sujeitos ligados à cultura e de muita importância. Os santeiros Tarquínio Zambelli e Pedro Stangherlin. Imigrantes, os dois chegaram aqui e (“encarnadores de imagens”, como se dizia à época para os santeiros) literalmente colocaram a mão na massa. Povoaram de santos não só as igrejas da cidade (a Imagem do senhor Morto, na catedral, é de Zambelli; a Santa Tereza é de Stangherlin), mas de toda a região. Eram muito reconhecidos em todo o Rio Grande.
Assim, creio, nestas quatro figuras se pode ter uma certa, possível representação da área das artes naquela Caxias que despontava como uma grande cidade, aglutinadora de várias etnias no futuro.
100 anos de Caxias. Este é o texto que sai amanhã no Pioneiro.
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