Resistência
Pode ser. Mas a estratégia traz em si, paradoxalmente, uma forma de resistência. É ofertar um texto que seja puramente dos livros.
Como filmar um enredo que foi escrito de trás para diante?
Como registrar um conto sem desfecho, ou uma novela em que predomina o personagem (são mais de 400 em 96 páginas) sobre a trama?
São coisas assim que fiz. Em Glaucha há um trecho que diz do “alimentar” a vingança da linguagem com a televisão. Sim, porque existem palavras que requerem um silêncio e uma pausa impossíveis de serem “enredadas”, isto é, posteriormente filmadas.
Por isso, quando se começa a anunciar uma nova novela, eu torço que ela seja chata e repetitiva. Muito arrastada como essa que terminou semana passada.
É que as novelas de tevê mataram a literatura. Tomaram o tempo que se tinha para os livros com uma ficção ali prontinha, basta se esparramar no sofá e ver. Nenhum esforço, nada de cérebro, nenhum rasgo de provocação com as ideias.
Faz um tempão que isso aconteceu, desde os anos 70.
Mas, em nossos dias, há um outro fenômeno: nunca se leu tanto. Principalmente entre os jovens. Está aí a Internet com suas múltiplas opções (twitter, orkut, facebook, msn, YouTube, tantas outras). E, se a novela é arrastada e chata, pelo menos os jovens se mandam para o consolo dos eletrônicos.
Percebam. Para os eletrônicos. Não ainda de volta para os livros.
Não, não há nada de restritivo nesta observação. Já fui viciado em Internet. Já tive minha fase de msn, já abasteci um blog todo o dia; e mesmo em Glaucha há um troca de e-mails, num livro de 1989. Portanto, não é papo sem-noção, só constato.
É que a Jornada Literária de Passo Fundo quer publicar em sua próxima edição um livro que incentive os jovens à leitura (leitura de livros, obviamente) e pediram que colaborasse com um texto.
O que dizer? Contei, claro, das minhas primeiras leituras com lampião e lamparina. De uma casa sem luz, mas com livros.
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