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quarta-feira, maio 12

A barbárie das metas

Lima Barreto é o escritor que melhor fixou a bomba da burocracia e o ambiente do trabalho em nossa literatura. Não só pelo seu romance Recordações do escrivão Isaías Caminha, mas também no menos conhecido Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá, no qual um aposentado medita sobre as profundezas do serviço público, ao tempo que descreve as belas paisagens do Rio de Janeiro com o olhar de quem pendurou as chuteiras.
O seu personagem se divide em duas personalidades: o funcionário correto e o filósofo sarcástico. Enquanto observa as cariocas, “com seus chapéus de plumas enfunadas ao vento” (o progresso), medita sobre as relações de trabalho daquele Rio dos 1900.
Herman Melville, de Moby Dick, também tem um livro menos conhecido, Buterbly, o escriturário, que trata do universo de uma repartição. Um escriturário passa o dia a fazer cópias no seu canto. Certo dia, decide “não fazer mais”. Apenas isso. Não fará mais cópias. E, depois, radicaliza: não trabalhará mais, embora continue no escritório.
Este ambiente kafkiano das relações de trabalho (quase não explorado em nossa literatura) o autor caxiense Paulo Tedesco tomou como tema para o seu Contos da Mais-Valia que agora lança. Se Lima Barreto expunha o conflito homem-máquina de seu tempo, Tedesco abordará muito ajustadamente a relação homem-mercado de nossos dias.
A premissa é: o trabalho oprime ao estabelecer as suas metas. É um tema moderno e Tedesco, criado num “ambiente de trabalho”, estabelece o seu projeto. Os contos estão divididos em três seções: os comissionados, os pró-laboreados e os assalariados. E abre o livro exatamente com o Dia de fechar negócio. É a história do Festugatto passado para trás no fechamento da venda de um apartamento. Vacilou e o seu colega papou a comissão. O final é uma revelação da frieza do “mundo do dinheiro”.
Este conto dá a chave do restante do livro. Em o Aldeão e os Bárbaros, que é hilariante, nos deparamos com um empresário rústico, muito bem-sucedido, que simula reuniões e assinatura de contratos na presença dos “caras do banco”. Eles se vão e resta o empresário às gargalhadas pela mofa planejada.
Além da modernidade, claro, aparecem os colonos e os bodegueiros. Laço Apertado, por exemplo, é uma situação “quente” diante de um Programa de Demissões. A situação do vendedor da empresa Tenhotudo é comovedora.
Em tempos de cumprimento de metas, estamos diante de uma ficção bem fiel às relações de trabalho. E estas relações podem nos colocar em crise. Acontece que não tem volta. Trata-se da lei do mercado e, quem puder, que se safe.
Crônica no Pioneiro de hoje.