OBRA     AUTOR
         


Vitrola dos Ausentes
Clique aqui e leia um trecho.


Nova Edição



Clique aqui e leia.


DEMAIS LIVROS


Glaucha
Clique aqui e leia um trecho.



Iberê
Clique aqui e leia um trecho.




Valsa dos Aparados
Clique aqui e leia um trecho.




Missa para Kardec
Clique aqui e leia um trecho.



Quando cai a neve no Brasil
Clique aqui e leia um trecho.


Cozinha Gorda
Clique aqui e leia um trecho.


As luas que fisgam o peixe
Clique aqui e leia um trecho.

Coletâneas


Meia encarnada, dura de sangue
Clique aqui e leia um trecho.



Cem Menores Contos

Clique aqui e leia um trecho.



Contos Cruéis

Clique aqui e leia um trecho.



Contos do Novo Milênio

Clique aqui e leia um trecho.




 

domingo, abril 25

O mito ao contrário

Se vivos e usuários do Twitter, James Joyce, Guimarães Rosa, Georges Perec e Erico Verissimo seriam seguidos pelo escritor e professor Paulo Ribeiro. Ele usa o exemplo para mostrar que esses expoentes da Literatura de Invenção são a “turma que ele segue” – e não a quem se compara. Seu recém lançado livro-palíndromo O tal Eros só – Osso relato reinventa a linguagem e exige do autor mais do que a criatividade inerente à ficção. Vai além de contar uma história, a do jovem Sore, interiorano que usa chapéu nos pés e caminha de costas. Cria, além desse universo inspirado na mitologia grega tão bem esmiuçada por Donaldo Schüler, um modo de narrar. Em troca do trabalho de quatro meses para ficar pronto, o livro pede apenas que o leitor aceite participar do jogo que é ler de trás para frente, de baixo pra cima, uma regra simples. A interação pode ser comparada à aplicada por Julio Cortázar em O jogo da Amarelinha, onde quem lê é que escolhe a ordem dos capítulos.
Poderá se pensar que escrever um livro-palíndromo é andar de costas, como faz Sore. Mas tanto para Paulo Ribeiro como para Eros a ação surge natural, não é para ser difícil ou incompreensível. O que pode ocorrer é a falta de um dos elementos da tríade autor-obra-público explicada por Antônio Cândido em Formação da Literatura Brasileira, de 1959. Não há dúvida sobre a consistência de autor e obra. Quanto ao público, este deve, no mínimo, ler a introdução, que certamente irá instigá-lo a ir adiante.
A primeira parte de O tal Eros só conta uma versão do mito de Eros amaldiçoado por seu pai, Zeus. Sore é um jovem excêntrico. Filho de Zeda e Otto, namorado de Alma, aluno aplicado que, entretanto, não gosta da repressiva Matemática ensinada pelos freis. Após sua morte – “Ciclista que transita de costas é atropelado na BR”, Alma descobre uma caixa com os textos de Sore. Começa, então, a segunda e melhor parte do livro.
A caixa cheia de poemas aberta pela namorada é como uma caixa de Pandora de onde sai o caos linguístico de frases que podem ser lidas no sentido contrário. Para Eros, o caos é o mundo ideal, e no caos sua expressividade atinge o auge. Os palíndromos de Paulo Ribeiro mostram um Sore contemplativo, que passa tempo no café, lê jornais e conversa laconicamente. As poesias são repletas de ah!, é, ôh!, interjeições típicas de quem observa a realidade e escuta e responde as indagações daqueles que o rodeiam. Na epígrafe, o autor seleciona um trecho de O Banquete, de Platão, que diz que tudo que Eros “consegue pouco a pouco sempre lhe foge das mãos”. Mas é na República que podemos entender a poesia de Paulo Ribeiro. Platão não diferencia o poeta do filósofo. O raciocínio filosófico, mesmo em versos, permanece filosofia. E O tal Eros só pode ser compreendido como uma filosofia erótica, niilista talvez, de poemas enxutos e concisos e, em raríssimos momentos, imperfeitos. A junção de lh no verso “em olho, olho-me” do primeiro poema gera uma ilusão de ótica que enganou até mesmo o autor. É metafórico, como todas poesias, que ao falar do olhar a visão seja embaralhada pelas consoantes. É na busca por um significado além do proposto que reside a maior riqueza de Osso relato.

Texto de Paula Sperb. Jornal O Caxiense deste final de semana.