Mãos vazias de livros
Pô, tenho eu lá culpa disso, senhor distribuidor?! O que devia fazer eu fiz, escrever o livro. O resto é com a mentalidade cultural do país em que vivemos.
Quarenta exemplares. É um bom começo.
Na lotação, um colega professor da UCS me disse que até me admirava: num país em que ninguém lê, eu ainda escrevia um livro de trás pra diante!!
Bom, se cabe algum consolo em ser autor no Brasil é exatamente este: já que ninguém lê, podemos experimentar novas formas de literatura à vontade.
Claro, desde que não envolva terceiros, e, no caso, meu editor e o distribuidor estão com toda razão indignados.
Eu não estou. Começa que a obra saiu pelo Financiarte, e acho que é bem uma das funções do Financiarte impulsionar livros que estão longe de ser autoajuda, ou melzinho na chupeta de leiturinha fácil.
E também, no plano pessoal, já estou mais do que adulto e vacinado com estas consequências de fazer livros que desembotam cérebros, mas que nada vendem.
O livro tem rendido. Pelo menos já soube de uma boa piada. Que para ler O tal Eros Só é preciso anteceder com alguma xícara de ervas do Santo Daime.
É boa como piada. Mas é só uma triste piada (o país, a cultura, etc, como eu disse acima).
Enfim: piadas, mas piadas ruins. Como dizer que a quinta-feira passada era o dia do meu livro e do título de cidadão para o Zé do Rio na Câmara. Piadas...
E claro que o livro faz referência a Platão, ao Voltaire e o seu Cândido ingênuo. Por quê? Não poderia?
Ah, “vão zerar uma linha de apoio!”, como brincam comigo os alunos, depois desse sarro do Samuel Rodrigues com a minha exigência de frase de ajuda abaixo de títulos. É coisa de jornalista, desculpe aí o leitor que não conseguiu pescar o sentido.
Piadas. E eu levando o meu livro super a sério. Porque o tal de Tal Eros não é difícil, é uma grande brincadeira.
Incentivo para leitura. Para mãos vazias de livros.
Crônica no Pioneiro de hoje.
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