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quarta-feira, março 3

8 ½

Otto e mezzo é aquele filme autobiográfico do Federico Fellini muito inspirado, dos seus mais criativos. A ironia é que Fellini estava vazio, sem ideias, e sendo pressionado para uma nova produção. Ele parte então, mais ou menos como Orson Welles no Cidadão Kane, fazer o filme sem um plano definido. E isto depois de já ter dirigido oito filmes e meio, daí o título.
E então se põe na pele de um cineasta, Guido Anselmi (alter ego de Fellini e interpretado por Marcello Mastroianni), e passa a fazer da imaginação a forma de sobrepor a crise artística e existencial que o atormenta (pois está também em crise o seu casamento). O resultado é uma junção de passado, sonhos e presente, numa profusão de flashbacks que só se salva pelo olhar muito apurado de Fellini pelo que há de humano.
É memorável a cena final com um desfile circense de todas as pessoas que passaram pela sua vida, com aquela canção do Nino Rota de fundo. É um dos grandes momentos do velho e melhor cinema.
O que Fellini fez em 8 ½, no fundo, é a equação não só para ajudar criadores em crise (que “trem” é este que não traz o trem? Falo, claro, da falta de imaginação do corso da Festa da Uva que perdeu o tema que estava aí picando), como é a fórmula para todo autor. O que se faz em literatura (o campo puro da imaginação, embora Fellini tenha sido autobiográfico) se não isso?
1) pegar pessoas e cenários que não se conhece (são personagens) e os transportar para o passado (em alguma literatura este passado pode ser um dia, uma hora);
2) idealizar um mundo que não é real, por isso, o sonho;
3) representar o presente pelas convicções e ideias que movem o autor, porque é inevitável a interferência do criador por mais distanciado que queira estar da sua obra.
Como se vê: passado, sonho e presente. Esta é a equação que se põe no liquidificador (a literatura de invenção, ou o filme que exige do espectador como Otto e Mezzo), ou então se organiza (a literatura linear), mas que é a fórmula da literatura de forma geral. Mesmo as biografias seguem este caminho.
Mas, como sempre, o problema é aquele: é preciso uma boa história e um bom manejo da mesma. Muitas vezes, até se tem uma boa história para contar, mas o manejo falha. Quer dizer, não “acontece” o certo talento que em Fellini sobrava.
Em arte, passar do ²/8 ao 8 ½ é o ponto crucial.

Crônica de hoje no Pioneiro.