A estrela atropelada
Detalhe: não é este “Deus te abençoe” o mesmo que, não faz muito, a gente recebia em resposta de um pai, avó, ou madrinha. Lembro de meu padrinho João Maria, umbandista, que respondia de bate pronto ao meu pedido de benção. Na rua, em casa, não deixava passar.
Mas, voltando ao Deus nos abençoando do MJ. Seu “Deus te abençoe” dirigido aos protagonistas dos seus últimos ensaios era um “abençoe” de “obrigado”. Ou ainda: isso ficou tão perfeito que é coisa do Pai lá de Cima, por isso, meu obrigado a você, incluindo Ele de tabela.
Mas há um terceiro “Deus te abençoe”, além daquele do meu padrinho e este do Michael Jackson. É um “Deus te abençoe” de uma mãe, no leito da morte, que quer saber por que o filho decidira seguir a profissão de “barbeiro de necrotério”.
A cena está numa das melhores crônicas de Nelson Rodrigues (aliás, desprezando o título direto, “O Barbeiro de Necrotério”, Nelson alcança um outro achado como manchete do seu texto: “A estrela do atropelado”).
Pois bem, naquela história de um jovem que desiste do curso de Medicina para seguir o ofício de “barbeiro de necrotério”, o grande mistério é saber qual o motivo de tamanha mudança. O rapaz nunca revela. Até que a mãe, muito doente, o chama para a derradeira pergunta: por que barbeiro de necrotério??
O rapaz diz que é “para dar na cara do pai”. Era para fazer uma desfeita ao pai, motivado por uma desavença antiga. A mãe, então, diz que já pode morrer em paz, já sabe a resposta. E lança um “Deus te abençoe” ao filho.
A história é bem ao estilo Nelson Rodrigues, com ecos dos Karamazov do Dostoievski e suas tragédias familiares.
Bom, aqui a ligação com o meu assunto: se sabia que Michael Jackson não se relacionava lá muito com pai, pelo contrário. Revelava que foi agredido pelo pai na infância e que aquilo perdurava.
Fiz esta relação agora por ver o pai do Michael (“a estrela atropelada” do meu título) exigindo pensão dos inventariantes do filho. E com prazo estipulado.
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