Zumbi e Gershwin
Porgy and Bess também ganhou destaque no pré-Guerra Fria, quando foi levada à Rússia causando espanto ao estrear em Leningrado, em 1956. Afinal, era a primeira peça americana a pisar na União Soviética depois do czarismo, e o seu elenco era formado por negros.
Truman Capote acompanhou e descreveu tudo isto e a Mirella agora faz uma original leitura daquela reportagem na sua monografia em curso. E daí que descubro os bastidores da estreia em Leningrado, com os russos bastante surpresos com aquele enredo que falava de opressão, preconceito e tráfico de drogas.
Lembrei então de Zumbi, há 40 anos, em Bom Jesus. Não assisti, mas conheço a foto. Há uma fotografia da plateia, muito atenta, e à frente o famoso crítico e criador do teatro do estudante, Paschoal Carlos Magno. É um flagrante da encenação de Zumbi, dirigida por Milton Baggio, com Dario Zambelli (com o corpo coberto de graxa preta) a interpretar o líder dos negros livres do Quilombo dos Palmares.
A peça era um musical como Porgy and Bess, e incluía também elementos do folclore e da cultura popular. Para se ter uma ideia do contexto: isto foi em 1969 (recrudescimento da ditadura) e, naquele ano, além de Zumbi, foi encenada Faz escuro, mas eu canto, baseada em textos de Tiago de Mello (então exilado pelo regime) e Berthold Brecht.
Em consequência da boa acolhida de Morte e Vida Severina no ano anterior, o Teatro Estudantil vivia o seu auge, com repercussão nacional, e daí a presença de Paschoal Carlos Magno por lá.
Em 1969, encenaram ainda Nós, a Humanidade. Mas, o que marcou mesmo foi Zumbi, que com seu numeroso elenco teve dificuldades para se deslocar até Porto Alegre para a apresentação. Em seguida, começaram a surgir “certas pressões” contra o movimento de teatro em Bom Jesus. Alegavam que os “alunos faltavam às aulas” no Ginásio.
Estávamos em plena ditadura militar. E é um verdadeiro “feito” que o Festival de Teatro Estudantil tenha se estendido até 1971.
Crônica no Pioneiro de hoje.
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