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quarta-feira, setembro 23

O pão e a tigela

Inútil ensinar ao cachorro apanhar o pão. Pensei nesta boa frase ao lembrar o cachorro da nossa infância. Eu nada lhe atribuí. Nenhum réquiem, nenhum minuto triste, eu não soube o nosso cachorro no seu final.
A minha mãe morta. Uma Casa de Fado em Lisboa eu já me pus a descrever. Eu já contei de uma velha tigela e daquela família querida, emprestada, que me criou. É o que, talvez, chamem de “instinto de prosador”.
Pintar é mais fácil. Iberê contava que foi procurado por um jovem que lhe pediu conselhos. Pediu para que deixasse ver como trabalhava. O velho pintor consentiu. E o resultado foi que aquele jovem viu um homem que se desesperava a procurar cor para o fundo de um quadro. Dava sua vida naquilo.
Isto era o criar.
Grande lição!
E o ensinamento ainda foi complementado: veja bem, disse o pintor, o esforço é sempre o mesmo, para quem sabe, como para quem não sabe. Há só essa pequena diferença: aquele que sabe, termina acertando. E aquele que não sabe, jamais.
Há pólvora em minhas mãos aqui. Há um rugir na solidão que pede amostra de qualquer valor. É que é idiota confessar isso, mas não sou humilde. Há uma porção de palavras que não uso. Céu, por exemplo, jamais escrevo. Falta-me a confiança e a minha desvantagem está aí.
“Aquele que não sabe, acaba errando”, dizia Iberê. Por isso, manda-se muitas vezes às favas textos que pareciam começar bem: o pão, Dick, o cachorro. A boa frase por si.
Mas, manda-se muito mais ainda o “Aluguei, desaluguei um box. Aprendi a dirigir”. “Vou tentar deixar de fumar”.
Que cansaço para quem lê!
É preciso aí palavras-tripas, do fundo do coração. Eu uso e abuso delas e, ainda assim, quase sempre erro. A um pássaro, que é nada, atribuo virtudes (Iberê não pintava pássaros). Aos porcos dos chiqueiros confiro uma força que também não há. Quase sempre erro.
Assim, sem amargura, (tomar o pão e a tigela) achar as palavras mais justas, é ainda a forma de se dizer. À força de tanto tentar se acaba achando. É a teimosia, o perseverar do velho Iberê.
Crônica no Pioneiro de hoje.