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terça-feira, agosto 11

Glaucha

Em Toulouse, depois de não ganhar bolsa para um mestrado, comi um pão amassado. Meus colegas de Francês Para Estrangeiros, na Universidade Le Mirail, acompanharam aquilo. O que poderia fazer sem a bolsa? Colher uva?
Eu jogava futebol. Já nem lembro quem teve a ideia de um teste no Toulouse. Com as chuteiras de um português colega de aula, eu devia então participar de um treino dos reservas. Naquela base pão e água que eu vinha, “pensei melhor”, não fui. Passava ali um baita cavalo encilhado. Não importa. A vida é jogo, sempre nos impõe escolhas.
Naquele dias, falei do projeto de um livro e era só o que eu queria da frustrada experiência. Tive apoio dos argelinos, amigos da faculdade, que eram de Havre, me ajudaram na empreitada. Semanas de isolamento na Le Mirail e concluí então o Glaucha.
Glau+Cha = Glauber Rocha. A protagonista do livro é uma prostituta que encarna o espírito do cineasta Glauber Rocha. Glaucha entende de arte e economia e ironiza de cima a baixo o linguajar do “Plano Bonanza”, que vem a ser o Plano Cruzado, do Sarney, batam aí na madeira.
“A monetização acelerada, a hiperinflação que asfixia, a flexibilização dos negócios” nos lábios de uma garota de programa da Volunta era pura ironia. Isso, em 1987. E tem coisa ali bem de agora: a troca de e-mails entre Glaucha e Samantha, as imagens computadorizadas que depois só deslancharam. O livro é um liquidificador que mistura cinema, teatro, fotografia, música, desenho, o escambau bem no espírito do Glauber. Há até o Guimarães Rosa lido de trás pra diante.
Principalmente, há ali o Zecalencarismo (de José de Alencar, que Glauber julgava superior a Machado), um manifesto dos filhos de ex-exilados pelo regime militar, que voltavam ao Brasil e sonhavam com novos tempos.
“Reengolir todo o Movimento Modernista”. “Deglutir toda a cultura externa”. Parece até o Collor apontando pro Pedro Simon, mas era a sua plataforma. E muito mais. O Zecalencarismo propunha buscar inspiração no futebol, exportar nosso couro em forma de livros. NÃO SUBESTIMAR O FUTEBOL!, bradava o manifesto, ao mesmo tempo em que apontava a alienação e deblaterava. Era um troço “de louco”, bem ao estilo de Glauber.
Glaucha foi lançado depois, aqui, em 1989. Faz 20 anos. Mas a vida continua, com Sarney e as escolhas.


Crônica no Pioneiro de amanhã.