Volver a Scott McKenzie
Eu tentava decorar o Operário em Construção. A casa era bem isso aí. Chegamos a receber o Flávio Tavares, de volta ao Brasil, para que relatasse a sua experiência no exílio. Como se vê, era um ambiente politizado e de muita reivindicação: a JUC estava por fechar por falta de pagamento do aluguel.
Certo, peguei a casa nos seus estertores, mas ainda assim valeu. As assembleias eram obrigatórias e mensais. Havia uma tensão permanente com o despejo e foram assim meus primeiros semestres na faculdade que começava ali.
Em meio a isso, nos finais de semana, eu saia pra variar o ambiente. Visitava a minha antiga família adotiva de Bom Jesus (eles tinham uma boa coleção de discos, até um antigo do Scott McKenzie, que trazia San Francisco). Tia Elsa, o pessoal da Tia Linda, Oneide, o Celso, estavam todos em Porto Alegre. Lá, reencontrava também o Joãozinho, meu irmão de criação, e que falava das novidades da música. Num domingo, me disse, “escute isso!”. Era Billie Jean.
Como escrever agora sobre Michael Jackson que não pareça piegas e redundante?
O fato é que o Joãozinho vinha da Discolândia (a casa de venda de vinis em Bom Jesus) e sabia tudo da “era disco”. E era muito bom o que ele mandava ouvir. Michael Jackson era mesmo 100 passos adiante. Uma mistura de James Brown, Fred Astaire e Charles Chaplin. E inaugurava o clipe na tevê, todo esse bláblá que agora se falou.
A trilha daquele tempo na JUC acabou sendo Mercedes Sosa. Mas sempre restava aquela boa batida de Billie Jean. Convenhamos, uma bela mistura. Disparatada formação cultural.
Essa junção, essa mescla de coisas que se vai apreendendo na vida, transparece no que se escreve depois. E é o que tenta Raquel Weber desvendar de um dos meus livros agora, no mestrado de Letras da UCS. Apresenta seu trabalho este mês. E eu só tenho a agradecer.
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