A oficina de Cândido
A presença do poeta já é uma crônica. Misto de elegância e clown que desinibe, Cândido tenta, digamos, se “aclimatar” à figura ali.
Sim, como o Celso Roth e o Tite, Fabrício Carpinejar também é de Caxias. Nasceu aqui, mas há apenas dois anos conheceu a cidade. E tem vindo. Nos últimos quatro meses, seis sextas-feiras. Já conheceu sabiá-laranjeira, comprou a número 3 do Caxias, já reuniu 60 pessoas pra falar de literatura, pra falar bem mais da vida.
Cândido é observador: cabeça raspada — na nuca traz escrito um SOS com o que restou de cabelos — o terno, a gravata, o capote, Carpinejar chamou a atenção na Lunelli.
É preciso fugir do comum, Cândido! E o que se propõe é o seguinte: crônica não é jornalismo, Cândido! É o único espaço do jornal que não se tem controle. A crônica — a partir daquilo que não importa — diz o que lhe interessa. Fora disso, Cândido — diária ou semanal —, o que chamam de crônica é opinião jornalística. Não vale Literatura.
Retruca com boas tiradas os 10 textos que são lidos. Na Oficina do Gelo, Carpinejar quer a valorização do miúdo, e da falha, a força da nossa incompetência. Quer a crônica visão dos chatos sendo os chatos nós mesmos.
É um instigador da terapia literária. Quer na ZH de domingo sua Oficina ao lado dos anúncios de tarô, da leitura de cartas. Consegue alguma coisa. Tira do professor Paulo, assistente, um texto pouco, piegas. “Feliz Natal”. Não é crônica, é conto. (O conto te tira o chão. A crônica explica, diz para onde o personagem anda. “Feliz Natal” ou “clínica”, a sinuca não vai te safar com o título).
Não há complacência. E assim prossegue (Bandeira, Murilo, Ubaldo. Vinicius, Herberto Helder, Antonio Maria), senta a ripa generosa no texto recente de Cândido. Cândido tem 82 anos. Tá sacando o poeta na noite mais fria.
Quatro graus negativos. E o poeta provoca: Rio Grande do Norte!!!
E vai mesmo. É a sua próxima oficina.
(E Cândido, pura verdade, lá conferindo o gelo no teto do carro).
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