O capítulo do baile
Eu devo duplamente ao Baile do Seu Doca. Foi também no Princesa da Serra um dos meus primeiros empregos. O Clube Princesa da Serra era o salão frequentado pelos mais humildes de Bom Jesus. Já não existe. Agora, em 4 de julho, teria completado 50 anos. Mas foi marcante. Acélio, Ernani Dutra, Homero animavam com gaita e pandeiro lá. E havia também uma dupla cover dos Irmãos Bertussi. Tocavam sempre aos sábados e davam o recado valendo.
Guri, eu era auxiliar de garçom lá no Seu Doca. Recolher garrafa. Espalhar a serragem na entrada da porta. Vender pedaços de galinha frita de mesa em mesa.
Seu Milito, dos últimos tropeiros (diziam que ele era parente mesmo de escravos) era como uma autoridade no Seu Doca. Respeitado, só a sua presença já evitava os começos de briga.
Nas paredes, pôster de lata de Pepsi Cola e cigarro Minister. Seu Doca (assador da Churrascaria dos Biazolli) era admirador de políticos e ficava contente com a presença dos vereadores. Do ex-prefeito Odilon Guazelli, do Seu Edmundo Jacoby ele vivia falando. Seu Doca era “MDB” no tempo da Ditadura.
Em 1994, esteve na Rádio Aparados da Serra numa memorável entrevista. O Princesa completava 35 anos e apareceu por lá com as Atas. Estava tudo registrado e Seu Doca tinha na memória o início do Clube. Até abrir o seu Salão, apenas os Irmãos Cascata promoviam bailes. Como não era “clube”, tinham lá problemas com a igreja. Os padres implicavam com o “carnaval dos Cascatas”, e organizavam mesmo a “Semana de Arte” quando chegava a época.
O que havia de tão errado com o Carnaval?
Neste contexto é que surgiu o Princesa da Serra. Como o nome indica, era uma homenagem à princesa Isabel e o clube fora fundado para congregar os negros. Os carnavais mais autênticos eram lá no Seu Doca. Meu padrinho João Maria (que também era da Umbanda) organizava os cordões e os blocos. Grandes bailes. E restaram como história dos negros do nosso Bonja.
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