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terça-feira, março 24

A sanfoneira de Roma

Domingo, fui dar uma espiada em algumas fotos do Orkut de uma amiga. Ela está estudando em Roma e aproveita as folgas para fotografar a cidade com detalhes que só uma “amadora” do lugar pode fazer. Entre os prédios e monumentos, o Metrô do Coliseu, tem lá a foto de uma sanfoneira de rua que me fez lembrar Iberê e Tia Olívia.
Iberê, além de pintor, gostava de escrever. Ele também viveu em Roma, na década de 40, para estagiar no ateliê do De Chirico. E, daquela temporada, nos deixou textos escritos em italiano. E aqueles textos (retrabalhados depois no Rio), falam de personagens de Roma, como esta gaiteira encontrada pela minha amiga no sábado.
Embora em número pequeno, os textos romanos bem caracterizam duas faturas importantes da criação de Iberê. Alguns, como aquele Padre Gregório (“Quem tivesse olhado de trás o andar do padre Gregório, teria a impressão de que os seus pés não acompanhassem o movimento do seu corpo: eram mandados para fora de sua figura colocados de atravessado sob a batina. O busto se perfilava e andava para frente deslocado do resto. O corpo se balançava como um balanço descompassado e dava à figura um aspecto desajeitado...”), são bem chaplinianos.
Outros são febris (o texto se chama exatamente Febre), como a futura arte de Iberê já se desenhava.
Aqueles textos enriquecem e comprovam a capacidade de Iberê Camargo também como escritor. Só que a coincidência da gaiteira de Roma e Iberê não ficaria apenas neste aspecto das suas possibilidades criativas. A coincidência se torna ainda mais impressionante porque Iberê também expressou o tema dos sanfoneiros de rua.
Ele sempre cruzava com um cego, tocador de sanfona, sentado em um tamborete no caminho do seu ateliê, no Rio. Era uma cena prosaica, a bengala encostada no muro, um pires sobre a calçada para recolher as esmolas e um velho cão deitado aos seus pés.
Iberê, um dia, decidiu executar este quadro que resultaria numa mulher esquálida, tocando a sua própria caixa torácica. Segundo ele, a representação da morte.
Longe disso, a mulher de Roma agora despertou em mim outro sentimento. De pé, a sanfoneira romana olha para o alto, de viés, como buscando as notas na memória — memória que se confunde com o céu de Roma. É um céu que não conheço, mas a figura lembrou minha Tia Olívia. E céu de Roma e Olívia, então, se fizeram analogia da vida. Porque Tia Olívia de Nova Hartz — a quem devo visitas — anda já bem pertinho dos seus 90 anos. Se já não os fez.
Crônica de amanhã no Pioneiro.