Literatura de Invenção II
Georges Perec, daquela turma, é sem dúvida o mais criativo. Entre seus tantos textos de experimentação, escreve um romance sem utilizar o “e” (a vogal mais usada no francês), o que equivaleria a escrever no Brasil desprezando o “a”. O seu livro de maior alcance é A Vida Modo de Usar. Nele, relata a história de um pintor que passa o serrote em todas as suas telas e espalha os pedaços pelo mundo. E depois gasta o resto de sua vida a recriar os quadros. Uma reconstrução à moda dos jogos de puzzles, estes quebra-cabeças que, além de crianças, seduzem também adultos.
Coletivamente, a “oficina” foi a produção mais importante na área da Literatura de Invenção. Entre nós, a Poesia Concreta (com Décio Pignatari e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos à frente) talvez possa se equivaler como manifestação artística.
Contemporâneo da Poesia Concreta, outro texto (e definitivo) também se vincula à Literatura de Invenção. Guimarães Rosa, o mais inventivo entre nós, no seu Grande sertão: veredas faz a reflexão sobre o mal e o bem, o diabo e deus, vida e a morte, a partir de um romance nunca resolvido entre Riobaldo e Diadorim, porque Diadorim até o final do livro veste e age como jagunço. A grande poesia em prosa em Língua Portuguesa é este Grande sertão.
Na virada dos 70, num de seus últimos livros, Erico Verissimo também reinventa. Incidente em Antares é o livro de Erico que mais gosto, porque bota uma procissão de mortos a tomar a cidade com discursos contundentes relacionados à moral, à ética, ao sexo, ao escambau!
A Literatura de Invenção, como se percebe, acolhe autores e gêneros muito diferentes, e isto também é uma boa razão para ser descoberta. E prova disto estará no desfecho destas três crônicas. Nosso maior cineasta, Glauber Rocha, também se arriscando na reinvenção literária.
Texto para o Pioneiro de amanhã.
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