O som dos espelhos
A música (junto com Radioatividade, outra ótima deles) virou trilha de formaturas, de outros documentários, mas o fato é que marcou a minha adolescência. Alcançar um Star sax era sair do Ki-Chute, sinal de amadurecimento e prestígio junto às garotas. E também porque o Star sax era mais discreto no odor, todos sabem.
Curti muito o Kraftwerk, principalmente porque o Joãozinho da Tia Olga não deixava passar um LP que chegasse no Bonja. Gastava toda a grana em disco, na Discolândia do outro Joãozinho, que fechou a loja para se aventurar numa funerária.
Bons tempos. E a gente sempre pensava em seguir em frente, como nos fazia intuir o som daqueles caras. O Kraft era a trilha adequada para se pensar em Porto, São Paulo, Rio, alguns queriam a Bahia. Queríamos sair de Bom Jesus. A minha geração pensava nisso a sério, pois pressentia no horizonte a falta de emprego.
Estávamos certos. O vento sopra pra frente e, como um imã, aquele grupo alemão nos indicava a trilha a seguir. Pé na estrada, sem Ki-Chute, agora calçados em Star sax.
Pode isso?
Bem americanizados, mas nada de bobos. A gente ia com aqueles sapatos recitar Millôr no Ginásio, quando ainda no finzinho ditavam ordens os generais. Desligaram uma vez o nosso som.
Mas, o vento soprava pra frente. E não, não, não vou cair aqui na conclusiva piada das nossas “rugas no espelho”. Prefiro ainda a estrada e os sonhos.
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