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terça-feira, dezembro 2

La caccia

Quando as pessoas diziam não gostar de Iberê Camargo porque ele era muito impetuoso, o pintor respondia: “mas eu faço arte. Não faço a vida”. Embora em Iberê se tenha confundido de fato arte-e-vida como indissolúveis, a resposta tinha a sua razão de ser. Em sua “busca” ele empastava as telas como uma intervenção mais que sutil na realidade, para dizer que aquele exagero de tinta na tela era a Arte, não o Homem Iberê.
Reli agora um texto de suas memórias, Cartão de Natal. O que precedeu a tragédia de sua vida (o pintor matou um homem que o agrediu naquela tarde em Botafogo) foi a sua decisão em “sair comprar” cartões pintados por meninos pobres. Ora, é quase básico que obra não é autor, ou que deixa de ser do autor (alguns lapsos de personalidade talvez fiquem; e isto é o que me salva de não ser coerente com a crônica anterior) no momento em que está concluída. Torna-se outra coisa muito além da imaginação e mãos que as tenham construído.
Querem ver? Ennio Morricone, por exemplo, é um cara calmo, aquele avô que todos gostariam de ter para só ficar ouvindo. Este temperamento contido de Morricone, no entanto, extrapola nas centenas de trilhas que fez para filmes, clássicos que sempre vão de uma inicial suavidade — um assovio, um clarinete, uma gaita-de-boca — a um estressante final. Ao mirar que enerva de tão contido e que antecipa os enfrentamentos, os duelos.
Dos westerns (e se encontra a cena no Youtube), talvez o duelo mais inverossímil — e também talvez o mais enervante — é aquele de O dia da desforra, de Sergio Sollima. É um duelo inusitado. Cuchillo, o mexicano que está sendo caçado injustamente (e as leituras críticas apontam ali uma tremenda invasão do território mexicano pelos EUA, emblematicamente expresso nesta caça obsessiva a Cuchillo), na hora do enfrentamento pede ao xerife que lhe dê uma faca para duelar com o oponente. Quem venceria um duelo de faca contra revólver???
Pura capacidade imaginativa, pura arte, e de fundo uma das mais belas composições de Ennio Morricone. La caccia, que expõe a tensão, que enerva por alargar os segundos com sua sinfonia moderna. Aquele nervosismo melódico que Morricone tirou de John Cage que era apenas som. Morricone faz a melodia retomar a prioridade, deixando a incidência dos sons, ruídos, estalos, como coadjuvantes.
Achou a fórmula. E achou bem mais ainda em Era uma vez no Oeste. Sempre há uma caça, no sentido de busca, e os duelos finais são apenas os melhores detalhes. Ruídos em meio a histórias imaginadas.