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terça-feira, novembro 11

Foi Deus nada acontecer

O médico baiano Thales de Azevedo, que acabou se tornando historiador e antropólogo pelo andar da vida, foi o primeiro a pesquisar com afinco a imigração em nosso meio e a registrar a aculturação dos italianos já nos anos 50. Este Thales era um cara interessante. Além de também pintar, era fotógrafo, e já se preocupava com a qualidade das lentes, pois queria sempre flagrar as coisas no que elas tinham de mais “miúdo”.
Thales era casado com Mariá, uma pianista de Livramento, e daí se explica porque andou aqui entre os gaúchos. Em casa, tinha uma mania. Todos já sabiam que os jornais deviam ficar intocados, não poderiam ser manuseados, pois aquele era o único motivo que tirava o generoso médico do sério. Dizia que jornal revirado parecia com notícia requentada, e ele queria ler as notícias “fresquinhas”.
Pensei em Thales agora na estréia do Pioneiro virtual. O Pioneiro na Internet é a promessa de termos, de “minuto a minuto”, perdoem a redundância, “as notícias novas”. E fiquei também pensando se o Pioneiro conseguirá manter com novos acontecimentos e episódios a sua página na Internet.
Já teríamos vida cultural e econômica tão ativa, relações sociais tão dinâmicas capazes de alimentar um site que exige notícias sempre atualizadas?
Bem, a resposta eu tive na segunda, e não precisava este exagero na resposta. “Terra treme em Caxias”, era a manchete estampada no Pioneiro da virtualidade.
A resposta que tive foi de fato exagerada ­— ­e devemos dizer que foi Deus quem não nos deixou acontecer alguma coisa mais séria. E este Deus me levou de novo ao Thales.
Formado pela Faculdade de Medicina da Bahia, no final dos anos 20 Thales se muda para o interior, Castro Alves, onde atuará como “verificador de óbitos” da febre amarela que dizima a região. Anos depois, das observações cotidianas e das relações políticas escreverá uma novela cujo título é esta pérola: Foi Deus não acontecer nada.
O título (que esconde com domínio de mestre o “por obra de”; ou a duplicidade do verbo, “não deixar acontecer”) é daqueles que resume tudo. Depois de quase dois meses de chuva, quem sabe a água tenha a ver sim com o tremor aqui sentido. Mas qual! Tanto em Castro Alves com sua febre, tanto agora em Caxias com o seu terremoto, estas coisas que fogem do nosso controle sempre serão justificadas pelo imponderável. Deus!
Mesmo com toda a parafernália tecnológica que inauguramos ­­— diria Thales, um cristão convicto­ — perante a natureza grandiosa e, às vezes adversa, somos ainda miúdos.

(Texto para o Pioneiro de amanhã. Acima, uma velha igreja solitária na gravura de Thales).