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quarta-feira, setembro 10

Cruz e baliza

Recordo que sepultei minha mãe bem como se sepultam as mães, um pedaço da gente indo pra sempre. Como se diz depois, já não haverá presépios, já não haverá casa tabuada, cebola-verde, batata fatiada, nem o cheiro bom da cozinha.
Exatos hoje cinco anos. Voltamos a Bom Jesus pela Estrada do Sol e era muito frio. Havia neve, como se fez agora de novo, e pela primeira vez voltavas assim: morta. (Não, esta não é uma frase burra e óbvia, é a pior coisa que nos pode acontecer).
Querida, viva é a lembrança ainda neste meu espírito que já não está para livros. Cinco anos sem presépios, cebolas e tal. Aprendi que um homem se preserva ao se afastar de suas idéias tristes e se agüenta bem a saudade. Só por isso escrevo agora, mãe, e não devia. Estico a minha mão para o teu descanso eterno mais uma vez. Venho eu cá com as minhas novidades sem que me convença esta página sobre os teus analgésicos.
Não é disso que estamos falando? De febre, de ausência? Hamham! É a pantomima do filho forte, impávido, colosso, temente à pressão arterial.
Num sonho meu de outro dia entravas. Pata-Choca minha mãe de novo com o sorriso seu. Que baita azar da cegonha cruzar com a senhora, não foi?!?! E as nossas preces depois em macumba porque nos negaram o batizado??
Uma cobra do couro rajado me inspirou a escrever. E há também uma capa da gaita em Vitrola que foi do meu tio Sebastião. E há um revólver, de ouro, com cabo de madrepérola, que foi do Washington Luís. Escrevi assim, por partes, o que vi. Mas escrevi num mesmo bloco aquela parte inteira de tuas dores porque era o que te coube viver. Zanzando pela cozinha. Cortando cebola-verde, fatiando as batatas, preparando sei lá mais...
Escrevi naquele bloco a tua dor!
Fatiava batatas. As tristes botinas no MASP eu só vi depois. Um Hino ao Contrabando eu bolei também, mãe! Mama morta no Pompéia! Equilíbrio no dinheiro eu consegui, mãe. Nas pernas boas da moça deitei meu olhar.
Livros, não fosse minha impiedosa autocrítica, escreveria aos quilos. Não me falta o ranger das tábuas, o giro que faz a bússola, a geometria e todos os meus erros e a tua valsa preferida que ainda não desgravei.
Eu recordo, e eu recordo com muita técnica: a grávida com pouco inchaço que um dia saiu da pia para o parir. Meu pensamento constante tremula em bandeiras do Bonja. Duas vezes já sem uso o teu título e o teu voto que eu julgava imbecil. Nunca votamos juntos, eu sei.
Exigem baliza para a minha Carteira, mãe. E, se te recordo, eu rezo. Como hoje e só.

Crônica de hoje no Pioneiro.