OBRA     AUTOR
         


Vitrola dos Ausentes
Clique aqui e leia um trecho.


Nova Edição



Clique aqui e leia.


DEMAIS LIVROS


Glaucha
Clique aqui e leia um trecho.



Iberê
Clique aqui e leia um trecho.




Valsa dos Aparados
Clique aqui e leia um trecho.




Missa para Kardec
Clique aqui e leia um trecho.



Quando cai a neve no Brasil
Clique aqui e leia um trecho.


Cozinha Gorda
Clique aqui e leia um trecho.


As luas que fisgam o peixe
Clique aqui e leia um trecho.

Coletâneas


Meia encarnada, dura de sangue
Clique aqui e leia um trecho.



Cem Menores Contos

Clique aqui e leia um trecho.



Contos Cruéis

Clique aqui e leia um trecho.



Contos do Novo Milênio

Clique aqui e leia um trecho.




 

segunda-feira, agosto 11

O revólver de ouro com cabo de madrepérola

O Zoinho sempre ia na vitrina da Camponesa. Uma vez, que ele nunca esqueceu, foi aquela do ramalhete de flor oferecido pela D. Belmira à viúva Maria Antonieta — que era irmão do Cidóca, do Cilício e do Abgelo, também filhos do Seu Diamantino — como pêsames em nome da Congregação de Madalena. Ficaram lá as flores até quando quase murcharam. Os filhos Jary, Mercy e Amery, todos juntos com a mãe, tinham visto quando o corpo desapareceu naquele afogamento triste. O Seu Diamantino tinha um revólver de ouro com cabo de madrepérola. A arma depois foi vendida por causa da fraqueza mental do Cidóca. Pra fazer uns tratamento fora. Pra se distrair das lembranças de criança. Faiscava dentro do belo estojo o revólver do Seu Diamantino que foi vendido pro Vazulmiro Gago. O Vazulmiro se gavava que o revólver tinha sido do Washington Luís mas ele tinha comprado era da viúva Antonieta. A égua Condessa e a égua Pretensiosa é que andavam dando dinheiro pro Vazulmiro nas carreiras. O Abgelo matou a Pretensiosa por motivo de estragos num canteiro de alface feito por cavalos. O verdureiro Abgelo passou a ser procurado a peso de ouro. Toda a capatazia e o Vazulmiro Gago de espingarda — e o Seu Vazulmiro que ia usar então o tal revólver do Washington Luís ou do afogado. Era uma dupla boa: a égua Condessa e Pretensiosa numa cancha retona. Viesse quem viesse. O Seu Diamantino Moreira morreu no Rio dos Touros num acidente que lhe custou a vida. Choveu umas 18 horas sem parar até acharem o corpo do homem. O Vazulmiro vinha voltando com dois carneiros de raça. Vieram lhe avisar: as correntezas eram fortes. As lágrimas da viúva filha do Moreira não tinha Congregação de Santa Madalena com reza que fizesse parar. A D. Belmira dizia: “uma morte monstruosa nas águas”. A Antonieta viúva. As crianças ainda menores. O Cilício que não conversava mais com o pai. Foi instaurado o competente processo crime contra o Abgelo pela morte da égua. Dizia que era a segunda vez porque ele já tinha matado uma outra égua estrangulada e que o corpo tinha sido pra corvo. O Abgelo nem acabava de ser descoberto já tinha desaparecido de São José dos Ausentes. O corpo só foi achado no outro dia abandonado nas margens do rio. A polícia no Jeep preto com o Cabo Miche de chofer nas emergências. Por causa dumas alfaces iam usar um revólver de ouro. O enterro do Seu Diamantino ainda com o corpo murcho da água. O Cilício não foi no velório. Um ano depois faleceu a D. Belmira com 90 anos e ainda solteira. Dez novenas para A Oração dos Moços. A Amery sofria de empingens. A Amery com umas cicatriz no corpo dela. Tudo em ouro o revólver com cabo de madrepérola. A viúva, filha do falecido Diamantino, deu pro guri dela uma roupa de flecheiro. Junto com a roupa de flecheiro veio o arco e a flecha. Um delito por causa das alfaces.

(Trecho de Vitrola dos Ausentes, com sua “sintaxe” própria, um ou outro “s” engolido e a narração em círculo).
A foto de João Victor de Oliveira registra uma cena de campo em São José dos Ausentes.