Pássaro perdido
O que a Califórnia ainda tinha a dizer era pela inovação dos arranjos, pela criatividade das melodias, pelos excelentes intérpretes que fez surgir Leopoldo Rassier, César Pasarinho, Mario Barbará, que só compunha obras-primas como Desgarrados e Retirante.
A Califórnia morreu porque não havia mais a dizer. E quem prossegue hoje em música gaúcha sabe disso: nada mais a ser dito e o que se diz é um incompatível cenário do campo que há quase um século deixou de existir. E temos aí insistentes que acabam caindo nessa ladainha de nossas façanhas, ou ainda artistas de uma música só (Elton Saldanha, eu quase ia dizer).
Mas eu peguei o Pássaro Perdido apenas como um gancho pra melhor ilustrar a falta do que dizer em todas as áreas da criação. Por exemplo, eu. Estou voltando das mais improdutivas férias da minha vida. Não por preguiça, mas por sinal de alerta, desisti de um livro já bem adiantado. A intuição de não cair no abismo da repetição soando forte.
Vocês devem conhecer a frase: desconfie do autor de um só livro. O que este petardo quer dizer é o seguinte: pode-se até publicar meia centena de obras, mas o conteúdo... bah, sempre o mesmo.
E eis que chegou a minha hora de temer a rotina, a repetição, a falta de criatividade. É preciso ser crítico em relação ao repeteco, não só em artes, como em tudo, não é?! Nada mais desanimador do que a mesma aula, o mesmo desfile, a mesma Portela, o goleador de um gol só!
Sacar isso, ajustar o semancol, pode ser o recomeço.
(Crônica para o Pioneiro)
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