São Roque e o cachorro
Quem conduzia a procissão era frei Ângelo, que vai fazer 95 anos agora (sim, faz aniversário agora, no dia 8), e é o mais idoso dos capuchinhos. Vive ali na Casa de Saúde junto à igreja.
Pois este frei Ângelo de Alfredo Chaves fez muito por Bom Jesus. Comprou o primeiro jipe e atendeu as capelas da “Costa”, quando Bom Jesus quase “chegava” em Florianópolis. Deu à igreja um altar, pois, apesar de imponente, a matriz carecia de imagens.
Havia poucas. Entre elas, um São Judas, uma outra de São Roque. E, decerto, inspirado pelo cachorro, naquele ano frei Ângelo realizou uma festa pra São Roque. Era uma preocupação antiga. Há 15 anos o santo estava ali e não sabiam quem era. De qual milagre se tratava.
São Roque é o protetor dos enfermos, dizem, até dos médicos. E foi homenageado então o jovem francês que largara a riqueza e saíra na penúria para servir aos doentes e inválidos. Quem não lembra a figura? É aquele com cajado, ferimento na perna, sempre acompanhado de um cachorro. É o santo das “feridas”, das epidemias, e que acabou numa prisão acusado de espionar pro Papa. Trazia uma tatuagem no peito (uma cruz de nascença) quando o identificaram morto.
São Roque Peregrino!, que até poderia proteger o gado. Não se sabia. E frei Ângelo era esforçado, ensinava os seus santos (já falei do jipe e do altar trazido), mas havia outras coisas: os bancos, que eram modestos, e a luz, muito precária. Luz pesada, daquele jeito com sombra amarela.
E, em 1951, dois anos depois do cachorro, o que veremos? A igreja repleta, iluminada por fluorescentes.
Casualidade como o cachorro? Não. Um ano antes, tinham inaugurado a Usina dos Touros.
(Crônica para o Pioneiro).
A imagem acima é São Roque na prisão, de Pedro e Ulderico Gentilli
<< Home