O jogo das coincidências
Dorme ali na praça e gosta de jogar dominó sozinho. Desenha no chão como o Modigliani, o Cabelo Louco é filósofo?, ex-exilado?, quando o conheceram era visto no Olímpico.
“Gravura do flautista sepultando a mulher numa tarde de chuva”.
“Estudo para chutar bola”.
“Honra ao Contrabando!”
“Hino aos Malucos”.
“Paisagem de um ruído d’água.”
“Cena de um batismo.”
“Cantigas Hipócritas”.
“Carta da Volta”.
“Poemas de minha profissão”.
“Álbum da grávida”
e “A cartilha das farsas”.
O Cabelo anda à noite nos bares e distribui estes cartonetes com as mãos bem trêmulas. E propõe o jogo.
Uma mulher que não gosta de tardes chuvosas pega a primeira carta. Um executivo, cansado do estresse de terno e gravata, resolve comprar uma bola depois de conhecer o Cabelo. Um camelô grava ainda mais CDs e DVD's. Um sargento acaba a noite ensinando o Hino Nacional a um mendigo. Um cego compra uma casa na praia depois que sua filha lê uma das cartas. Um ateu ri, mas reza antes de dormir. Um poeta sonha, mas decide passar a noite calado. Um viajante sente saudades. Um universitário, que já está no 3º curso, resolve escrever poemas e lança seu livro. Um pai começa a chorar, e uma carta cai no chão. Coincidências, só não existem para quem não as cria.
Este é o conto na íntegra da promoção Ponha um ponto final nesta História, do ClicRBS, Especial Feira do Livro (clica aí!).
O desfecho do conto, que está em negrito, é de Thaisa Silva de Souza, de Viamão, que foi a vencedora entre 78 participantes.
A Thaisa ganhou 5 livros (5 títulos) da minha trajetória. Espero que ela tenha uma boa leitura.
Parabéns, Thaisa!
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