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domingo, outubro 28

A prosa ordinária

A forma certa para escrever é desenhar, desenhar, desenhar, esgotar todos os motivos que intuitivamente consiga e depois rasgar todas essas gravuras.
Agora você está apto, sente-se bem e passa então ao mais fácil.
Em prosa ou verso falará então do que já viu, do que leu, do que pode ter visto, das experiências que especialmente nos enterneceram: fala-se então do amor, fala-se do amor da infância, do amor adulto, de um amor que persiste até o momento da morte, embora ainda não o tenhamos vivido.
Escrever, como se percebe, é falar destes contrabandos do amor: do amor tenro, do amor viril e do amor da maturidade. E percebe-se que quase sempre tudo girou em torno desta semente que, ao invés de germinar, por fim nos ocorre como um legado de incidentes já sepultos.
É o que chamamos saudade.
Existe a boa saudade. E existe um outro tipo de saudade que são gestos ou episódios que todo o dia nos retornam.
Por exemplo, o amor do último olhar que se deixa para a vida. Para a imagem de um Cristo, para as mãos de quem nos atenda, um último olhar para o olhar do filho que esteja ao teu lado no ato final.
Foi este o olhar que minha mãe teve.
Como se vê, esta angústia do expressar, este exercício ordinário que enfrenta a solidão faz bem seu trabalho. Escrever é isso: ter o que dizer.
Já experimentei da palavra arrancar as metáforas que se reinventaram. Sim, porque todas as metáforas e todas as figuras de retórica já foram escritas. Apenas nos surpreendemos por termos feito igual, agora com o toque de nossa vivência.
Perceberam que usei acima a expressão ordinário. Ordinário como coisa rotineira. Mas é uma daquelas tantas palavrinhas usadas no meu Bonja com uma outra conotação. Não o ordinário cafajeste, mas se usa lá na minha cidade esta expressão para o sujeito vivaz, sacador do que se passa em volta. O sujeito que fica no limite céu e inferno de forma legal.
Pode parecer aqui a dedução mais simples (e isto vale ainda mais com a experiência e o ouvido afinado pela leitura), mas quem se põe em prosa ou poesia deve fazer com vigor e paixão.
Em suma: ordinário diante do que é humano.