Saberia
Saberia o que acontece por trás da bondade, num acenar da saudade, no que se preserva no gelo, um amor que nunca se disse.
Saberia adiante, a dolorosa expressão mais tranqüila, saberia como se diz um adeus!
Saberia como se um Kardec curvo, um Kardec de joelhos, saberia o amor por compaixão.
Saberia. Saberia o soar do gongo, cada passo meu, inclusive, saberia cem anos atrás.
O verso da tabela, saberia. Saberia em conjunto com o sino, onde é que me enquadro no Código Civil.
Saberia e aconteceria. Operaria um milagre. Saberia o balanço das fábricas, a Ford, Chevrolet, saberia as datas, parentescos — descobrir no casamento o preço por mim.
Saberia malabarismo, o perdão, altruísmo, saberia depois o que treinei.
O rugir do leão e a partitura. O jejum e a lábia. Saberia acompanhar a gravidez.
E o que saberia para ser velado?
Saberia 100 missas? 1000 missas? Saberia depois destes milhões de missas a minha alma?
Saberia da situação.
Saberia minhas casas fechadas. Saberia como um arquivo.
Recordaria pedra, seria como um rádio. Saberia o que acontece em minhas próprias bombachas.
Saberia, eu, pára-raios! Saberia, fosse eu cata-vento! Saberia utensílio, uma lágrima, saberia minha sombra no deslocar.
Saberia feito um juiz, um médico. Saberia um cheiro, uma erva, saberia da alcova, o debaixo dos lençóis.
Saberia muito acima do que desejo. Saberia ser engraçado. Saberia um segredo, guardaria, saberia por pura intuição.
Saberia pressentindo, saberia e não só saberia como pensaria um rio.
Saberia os seus oito pontilhões. Saberia a criança triste, saberia quem come o alpiste, saberia um tango e a bonita manhã.
Por que a tuba toca? Por que o barro e por que aconteceu de os olhos de minha mãe eu fechar?
Saberia e não seria este mudo, este homem sem frase. Saberia o que me tranca o chorar.
Mas, nada sei.
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