Crônica do Menino Jesus roubado
Eu ia aos domingos na igreja e lá vinha mentalmente o Brasil. O cavalo se chamava Brasil e era do próprio padre. Era do tempo do latim e, se dizia, o Brasil entendia as falas da missa.
Num Sete de Setembro, homenagem à Pátria, o padre caprichou no chamado.
O Brasil isso. O Brasil mais aquilo. Ah, o cavalo não teve dúvida. Era com ele o papo.
Entrou nave adentro. Vinha atender ao seu dono.
Aquele cavalo, da cor da gemada, era uma recorrência para quem não via nada de graça nas rezas.
Pelo sim, pelo não, bem mais tarde aconteceu outra na nossa igreja. Véspera de um Natal, uma menina, ali pelos seus 8 anos, cismou de levar o Menino Jesus para casa.
E saiu porta afora com o Cristinho nos braços e deu um que deu para que devolvesse o Jesus Infante.
A estatuazinha gessada ainda repousa lá no altar à direita. E, o Cristinho roubado, pelo que contam, acabou dando nome à menina ainda não batizada.
Chamariam Jesusa Cristina depois à criança.
Como na reza não há humor, parece que na minha terra tratavam de ajudar um pouco aos padres.
Então, não? E o cachorro?!
Havia esta outra de um cachorro que acompanhava o seu dono nas missas e se colocava bem lá na frente da nave. Ressonava em frente ao altar. Um cachorro meditativo que ouvia os preceitos e os hinos e, diziam, se lambia na hora da hóstia.
Pode haver um certo folclore por trás desses episódios, os três verdadeiros, mas o fato é que eles davam um certo tempero à falta de humor de nossas missas.
Humor, aliás, que a minha terra traz grudado em seu próprio nome, com todo o respeito.
Minha cidade é um redundância.
Bom Jesus!
Haveria um mau Jesus, por acaso?
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