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terça-feira, julho 31

O morro das latas d'água

Que coração, o da Dona Odila! Do poço da Dona Odila todos os da nossa rua tiravam água. Latões de querosene, com arquinhos de arame com pegador de pau, eram os baldes de todos. E a gente buscava água, velhos, adultos, meninos e meninas com seus corpos de mulher. E nada, nada existia nelas, meninas puxadoras de lata, que nós não amássemos. Éramos metade sem elas, nossos amores, nosso bens, “espécie de veneno”, como dizia a atrevida letra do Reginaldo Rossi.
Pecados, pecados nossos redimidos pelo Roberto Carlos com o seu “Jesus Cristo, Jesus Cristo, eu estou aqui...” E, de fato, a gente ali: a gente erguendo as latas. Garrinchinhas de pernas trançadas na subida do morro com a água escorrendo pelo garrão. ”Cadê você, cadê você, você passou. O que era doce e o que não era se acabou...” A bela voz do Moacir Franco e os Garrinchinhas carregando a água pra higiene e alimentação.
E a lata com a água jangaleava na subidinha da lomba, jangaleava bastante. Aquilo pesava e a água rebatia de um lado pro outro. Respingava nas pernas, deixava lisa a chinela de dedos, ficava que era só lama o carreirinho do poço. “Velho , meu querido velho!”, cantava o Altemar pra Dona Odila.
Lama e felicidade. Assim se levava a vida no morro das latas d’água. E nascia e morria gente na nossa rua; e se fazia folia e se varava a noite e se cruzava os dias na puxação da água do poço. E a Caixa D’Água das Freiras, decerto com o seu locomóvel jogado em depósito, pra sempre desativada.
Que coração, o da Dona Odila! Mas, o seu coração, as suas vistas, a sua água acabou. Dona Odila, os seus olhos! Dona Odila morreu cega.

Trecho de crônica de Quando cai a neve no Brasil.