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quinta-feira, julho 26

A lápide como uma página

Sempre que chego, chego assim à antiga, pelo velho portão. Seu cantinho do repouso ficou do outro lado, no alto do morro, na entrada pelo portão velho de lá.
Deixei de ir fanaticamente a Bom Jesus, afastei há 4 anos, ainda que não descuide e apareça uma vez que outra sem ninguém saber.
Por estas frestas de sol, nestes dias de frio, a coisa aperta e é a saudade de D. Carmem que vem. Ela aparece em qualquer coisa, jarro, cristaleira, panela, é motivo para voltar lá. E penso em lhe deixar umas duas linhas...
Iberê Camargo tem um pequeno texto que é talvez das coisas mais lindas que li. É um texto cheio de vida pensando a sua ausência.
Acho que serviria em sua lápide, não sei se Maria mandou fazer. Nunca visitei Iberê depois de morto.
Mas, vejam, este texto (de um pintor!!) é uma criação que deixa muitos escritores a babar, se estes compreenderem a dimensão de seu fracasso frente a um momento de inspiração assim.
Quando eu estiver deitado na planície, indiferente às cores e às formas, tu deves te lembrar de mim. Aí, onde a planície ondula, a terra é mais fértil. Abre com a concha da tua mão uma pequenina cova e esconde nela a semente de uma árvore. Eu quero nascer nesta árvore, quero subir com os seus galhos até o beijo da luz. Depois, nos dias abrasados, tu virás procurar uma sombra, que será fresca para ti. Então no murmúrio das folhas eu te direi o que o meu pobre coração de homem não soube dizer.
Este texto, exuberante, emotivo, humano, carinhoso, se chama Depois, e foi dedicado à Maria, ainda em 1940.
Desde que li este texto nunca esqueci. E ele sempre me criou este problema de consciência que falei aí em cima. A equação do escrever.
Por outro lado, é uma demonstração incontestável que mesmo uma lápide, se feita com o coração e bom estilo, vira uma página literária. Imortal.
E eu penso duas linhas...

Na foto, Maria e Iberê Camargo, em frente à tela No Tempo e na Terra II, 1993.