OBRA     AUTOR
         


Vitrola dos Ausentes
Clique aqui e leia um trecho.


Nova Edição



Clique aqui e leia.


DEMAIS LIVROS


Glaucha
Clique aqui e leia um trecho.



Iberê
Clique aqui e leia um trecho.




Valsa dos Aparados
Clique aqui e leia um trecho.




Missa para Kardec
Clique aqui e leia um trecho.



Quando cai a neve no Brasil
Clique aqui e leia um trecho.


Cozinha Gorda
Clique aqui e leia um trecho.


As luas que fisgam o peixe
Clique aqui e leia um trecho.

Coletâneas


Meia encarnada, dura de sangue
Clique aqui e leia um trecho.



Cem Menores Contos

Clique aqui e leia um trecho.



Contos Cruéis

Clique aqui e leia um trecho.



Contos do Novo Milênio

Clique aqui e leia um trecho.




 

quinta-feira, março 8

A mãe das mães

Na casa de Jarcedi, casa infeliz, a mesa era curta, mas não seria pobre o seu acolher. Curta era a mesa, era mesa emendada, mesa disfarçada, mas não sentisse vergonha, que ganhava amor!
Eis meu amor!, dizia o Theodoro. E ainda em preces, por gestos dela, a Mudinha fazia assim: roçava o seu santo rosário na cabeceira daquela Jarcedi com muitos filhos que pedia pelos seus.
Dormisse assim no carinho a Cristino, dormisse assim a Cristino infeliz! Na força louca dessa mão de amor que alinhava o rosto querido, louca mão de amor da Mudinha, com seu coração enorme, seu braço forte, ela debruçada ali. Em carinho sincero, Mãe Eselita atenta aos gemidos, ajudando ao Bili.
Ia a Mudinha do Salami, ia aos 46 anos, nem parecia!, ia às Jarcedis. Ia se partilhar! Ia Doar-se, entregar-se, não tendo hora, nem frio.
Ia parteira, auxiliar, amante, esposa, seguia a Mudinha o Theodoro Belly, seguiam aquela missão.
A Mudinha, no seu amor, trazia a mão ao seio, apertava o lenço contra o peito, a Mudinha “mãe” que a porta rude cruzou. Em ajuda, e a querida mulher assim, já no pano que subia, entre as pernas tendo um filho seu: filho pelado vindo ao mundo e assim pelados seriam por seu padecer. Criança que não teria tão cedo a roupa, um infeliz trapo que escondesse essa cicatriz: seu destino, negro, pobre, marcado.
O que dizer nestes casos em que o destino se traçou?
Nesses casos, a candura sincera, e no parto, em Natal que faziam, era a candura e um tal de abanar no suor.
A Mudinha a segurava, vinha?, Mudinha a acarinhava, pedia coragem, força, força, pedia a força com gestos à mãe. A força de mãe, não tivesse dúvida no coração. A negra, os trapos, punhal que arremessava na força que vinha assim: no sangrar e sangrar. Vinha o filho a nascer.
Amparada na cama de pau, amparada em amor de Mudinha e Bili, a Jarcedi virava, forçava, era o seu jeito de ganhar.
Ajeitada de lado, olhando a cruz, o proceder da parteira.
Se a senhora e o doutor ouvir o que tô lhe pedindo, a Jarcedi dizia, ajude meu filho a nascer.
Mudinha ouvia o pedido, ficava melhor com a coragem lhe atender. Vendo os trapos ali, ia pensando a filha do Salami em uma mãe a dar à luz.
O seu triste olhar de mãe. Seu afeto chegado, seu afeto vindo, mãe em trapos, qüeros molhados, era Natal.
Batizassem então a criança, o recém pequeno nascido com o condizente Natal.
Chamasse desse nome, Natalício. Ela escolhia era um outro, mas como era Natal, deveria ser: Natal ou Natalício.
Mas tinha o direito, pelo menos ao nome lhe davam o direito.
E o Bili e a Mudinha souberam que era Gesper o que ela queria, e Gesper seria. E que ele tivesse um destino melhor.
Este trecho de Missa para Kardec é a minha homenagem a todas as mulheres neste dia.