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sábado, fevereiro 24

O silêncio da espera (Ensaio)

A bicicleta e os carretéis são os principais signos da obra do pintor gaúcho Iberê Camargo. Ele usa estes objetos da infância como uma forma de olhar para um passado que emerge pleno de sofrimento, pois já não é possível de ser resgatado.
Sobre essa impossibilidade Iberê confidenciou:
O passado serve como referência mas não posso melhorá-lo. Isto é terrível porque não posso resgatá-lo. É intocável.
Iberê nasceu em Restinga Seca, às margens da ferrovia, seu pai era maquinista de trem. Além destes signos da infância — bicicleta, carretéis —, se perceberá também em sua obra este ambiente da Estação.
Na tela A Idiota (de 1989), a mulher sentada num banco de estação ferroviária é alguém a esperar. A gare, lugar de partidas e chegadas, de encontros e desencontros, é o lugar escolhido. É o trem da infância para a sua síntese de vida.
A atmosfera é de melancolia e tristeza:
As figuras que povoam minhas telas envolvem-se na tristeza dos crepúsculos dos dias de minha infância, disse em entrevista.
Em Iberê, a Memória — assim, em maiúscula — é impregnada de espiritualidade. Para além dos fatos guardados, ao intuir que a memória é mesmo inapreensível —"inaferrável" na singularidade do seu vocabulário —, compreendeu que somente através da deformação poderia então abstraí-la.Iberê olha para o passado e, dessa busca na matéria da infância, emerge pleno de sofrimento. Constata que já nada resta, nada é possível, e que o resgate é pura abstração: o passado como referência, o pretérito inatingível.
A partir desse resgate do vazio, lhe resta somente o contemplar com intrigante tristeza, e chegamos então a este olhar desencantado, que é simultâneo ao esgar dos lábios.O desdém que transparece nas figuras é porque olha para o passado e o passado é terrível. Alguém espera na gare. Mas já não há trem, tampouco alguém a partir ou a voltar.
A espera, então, é sofrimento. Eis a razão do progressivo esgar de lábios: é a forma de representar a intocabilidade de um tempo talvez feliz, de um tempo de coisas enterradas no fundo do rio da vida — e que, na maturidade, no ocaso, agora se desprendem e sobem à tona, como bolhas no ar.
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